quarta-feira, 30 de março de 2011

Crime organizado, Estado atarantado

Dia a dia, em silêncio, a população de Ilhéus vai contando os seus mortos.
Apenas o som do estampido das balas que zunem nas periferias alimentadas pelo tráfico de drogas indicam a lassidão moral e legal do estado amorfo.
O resto é o silêncio, é a lei.

Somente num final de semana (18 a 20 de março), três dias, portanto, ocorreram nove assassinatos.
Pessoas foram executadas nas ruas, dentro de casa, nas praças. Morreram homens, mulheres e adolescentes que tinham e que não tinham ligação com o tráfico de drogas.
Mas o problema não se reduz a Ilhéus.
Em quatro anos, o número de homicídios na Bahia aumentou. Cresceu 50,7%, segundo dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública.
A Bahia fechou 2010 com 4.856 assassinatos, em 2006 foram 3.222.
Apesar das promessas, desde que tomou posse em seu primeiro mandato, em janeiro de 2007, o governador Jaques Wagner não conseguiu reduzir o número de homicídios nem a violência no Estado.
Aliás, é o próprio Estado que vai demonstrando a sua ineficiência e o que assistimos é inabilidade dos gestores em comportamentos e ações.
Roda vira, as polícias Civil e Militar estão se confrontando, ou colocadas em confronto.
Um absurdo, mas, divisão pior é imposta a Policia Militar pelo próprio governo. Cada dia surge uma nova sigla: Caerc, Tor (não confunda com o deus do trovão Thor) e por ai vai.
Risível não fosse desastroso.
Além de uma Policia em retalhos acompanhamos disputa interna da PM contra PM. Cada uma dessas siglas se anunciam melhor. O salário é o mesmo, o treinamento é o mesmo as condições miseráveis oferecidas para o trabalho são as mesmas.
Os comandos estratégicos foram desativados, como é o caso do 2º Batalhão, em Ilhéus, transformado em, apenas, um espaço físico.
Os Batalhões foram fragmentados e espalhados em casas alugadas. Cada dia os tais comandos estão em novo endereço, cada dia numa esquina.
Não entendo de segurança pública, mas sei que na arte da guerra a ordem tem um só comando, obedece a um só comandante.
Sem esquecer que a Polícia Civil, que seria uma policia investigativa, cientifica está sob a égide da invisibilidade. Vive o ostracismo operacional.
Deprimente.
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia anuncia a implantação de bases comunitárias, primeiro em Salvador, como tentativa de combater a ação de traficantes de drogas e reduzir os índices de violências.
Louvável a iniciativa, apesar de ser uma cópia do que foi feito no Rio de Janeiro com as UPP’s.
O problema não é só policial e as bases comunitárias ou UPP’s devem ter foco múltiplo e, teoricamente, têm.
O tráfico de drogas tem conseguido dominar comunidades inteiras porque se aproveita da falta de autoridade e de ações sociais – sérias - dos poderes públicos (Federal Estadual e Municipal).Em consequencia da omissão assumem o papel do estado ausente, com favores e “empregos” na distribuição das drogas nos seus pontos de venda etc.
É triste e frustrante assistir as ações espetaculares (de espetáculo) realizadas pelo Estado, que resultam em espaço na mídia e aplauso dos incautos e bajuladores. De nada adiantam tais ações, cinematográficas, às vezes.
As operações surpresa nunca surpreendem, apenas amedrontam inocentes, na maioria das vezes, com violência, empurrando-os para o mundo do crime. São pífias as ações pontuais.
Depois de realizarem tais ações, tudo volta a ser como antes. O Estado se recolhe a incompetência e as comunidades continuam reféns das quadrilhas. Enquanto nos gabinetes a festa é feita em torno do nada.
Nas periferias a população continua sem saneamento, com escolas medíocres, com um sistema de saúde miserável, com montanhas de lixo acumulado, dividindo espaço com ratos, urubus, lacraias, escorpiões, ruas cheias de lama e esgotos.
Jovens e adultos vagam como zumbis urbanos, debruçados sobre os tonéis de lixo em busca dos restos para a sua sobrevivência.
Mas o que choca é o silencio dos que têm voz. Dos visíveis. Assim, com um  poder Judiciário lento, atravancado nas suas limitações, lidando com inquéritos mal feitos e má vontade do estado para resolver os problemas. As instituições: OAB, MP, a própria ABI (que faço parte), todas emudecidas e sorridentes.
E a imprensa? Bem a imprensa apenas noticia as estatísticas. Audiência garantida é contar os cadáveres dos fins de semana. (em Ilhéus não é possível fazer isso nas geladeiras do DPT porque não existe DPT)
É um quadro bom para os políticos, seus objetivos e seus partidos.

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