segunda-feira, 28 de março de 2011

Um teólogo: Joseph Comblin

Para ser teólogo é preciso aliar a complexidade da inteligência à simplicidade do coração, afirma Olegario González de Cardedal
Morreu o padre e teólogo Joseph Comblin. Morreu, apenas, porque a sua voz livre e seu coração apaixonado pela plenitude da vida, que como todo menino cria ser Deus cada um dos seus semelhantes, permanecem.
Joseph Comblin nasceu na Bélgica, em 1923, e, após a ordenação sacerdotal, veio para o Brasil. Foi assessor de D. Hélder Câmara e sistematizou um pensamento teológico articulado em torno da libertação e aqui vive para a eternidade.


José Comblin nasceu em Bruxelas (Bélgica), no dia 22 de março de 1923. Mais velho de 3 irmãos e 2 irmãs. Seus pais Alice e Firmino criaram os 5 filhos com os tradicionais valores da religião, da austeridade da época e valorizando sempre o trabalho.
Freqüentou o curso primário na escola paroquial e fez o curso secundário no Colégio São Pedro.
Em 1940, entrou no Seminário Leão XIII, em Lovaina (Bélgica). Fez estudos de Ciências biológicas e filosofia de 1940 a 1942.
Ingressou no Seminário São José em Malinas (Bélgica), em 1943 e fez o 1o ano de teologia. Em 1944, entrou no Seminário Maior de Malinas e cursou o 2o e o 3o ano de teologia.
De 1946 a 1950, cursou a Faculdade de Teologia em Lovaina, tornando-se Doutor em teologia
Sua ordenação sacerdotal se deu em 9 de fevereiro de 1947, em Malinas.
Como sacerdote, exerceu a função de vigário cooperador na paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Bruxelas, de 1950 a 1958.
Além disso, foi professor de teologia no CIBI (centro de formação para seminaristas em serviço militar), Bélgica, durante o ano de 1951.
Impulsionado pelos apelos missionários para países da África e da América Latina, solicitou ao seu Cardeal, ser enviado para a América Latina. Atendendo à solicitação do Bispo de Campinas que desejava sacerdotes doutores para contribuir na formação de seu clero, foi enviado para o Brasil, onde chegou em 30 de junho de 1958.
De 1958 a 1962, em Campinas, SP, foi professor no seminário diocesano e na Universidade Católica de Campinas. Além disso, foi convidado para ser assistente diocesano da JOC (juventude operária católica).
Em 1959 foi professor no Studium Theologicum dos Dominicanos em São Paulo.
Novos apelos levaram o Pe. José Comblin ao Chile.
De 1962 a 1965 foi professor na Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Santiago (Chile).
Também o Brasil vivia sob a ditadura militar, mas no Nordeste florescia uma Igreja comprometida com o mundo dos pobres e Comblin ouviu o chamado do grande pastor e profeta Dom Hélder Câmara e foi estabelecer-se em Pernambuco.
De 1965 a 1968 foi professor no Seminário regional do Nordeste em Camaragibe e professor no Instituto de Teologia do Recife
No início dos anos 70 passou a orientar uma experiência de formação de seminaristas que buscavam um estudo mais comprometido com a realidade e adequado ao exercício do ministério no mundo rural. José Comblin criou, então, um modo de estudo que depois ficou conhecido como Teologia da Enxada.
Ao mesmo tempo foi convidado a dar aulas no Equador e assim, de 1968-1972 foi professor de teologia no IPLA (Quito, Equador). Passou a dar assessoria á diocese de Riobamba, cujo bispo, Dom Leônidas Proaño foi um símbolo do compromisso com a causa indígena no Equador. Até 1985 passava duas quinzenas por ano em Riobamba e continuou freqüentando a diocese até a morte de Dom Leônidas Proaño, em 1988.
Passou, ainda, a lecionar teologia pastoral na Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lovaina (depois, Louvain-la –Neuve), cargo que exerceu de 1971 a 1988.
José Comblin estava fortemente inserido na Igreja de Dom Hélder que marcava o cenário nordestino e nacional pelo seu compromisso com as causas populares. Dava assessoria a Dom Hélder na elaboração de posicionamentos, documentos e intervenções. A Igreja de Recife e Olinda era uma grande esperança para os pobres.
Considerado subversivo e ameaçador a sistema, José Comblin foi expulso do Brasil em 24 de março de 1972.
Decidiu, então, retornar ao Chile, onde já tinha atuado por 4 anos e contava com um círculo de amigos. Assim, estabeleceu-se em Talca onde residiu de 1972 a 1980. No entanto, pouco tempo depois, em 1973, ocorreu o golpe militar no Chile com a deposição e o assassinato de Allende. Diante disso, deixou o ensino para evitar chamar a atenção. Dava suas contribuições intelectuais inclusive ao Vicariato da Solidariedad de Santiago, única instituição que enfrentou o ditador Pinochet na questão das torturas e dos desaparecimentos durante o regime militar.
Para o Vicariato da Solidariedad, José Comblin escreveu o seu estudo sobre a Ideologia da Segurança Nacional, a doutrina dos ditadores militares da América Latina.
Durante o tempo que permaneceu no Chile, suas contribuições foram:
A Fundação do Seminário Rural, em 1979, em Alto de Las Cruces, Talca: experiência de formação ao sacerdócio de jovens do meio rural respeitando a sua cultura camponesa.
Outra colaboração foi o curso de formação para professores de religião: fundamentos bíblicos e teológicos para uma clientela de professores e lideranças populares.
Em 1980 ocorreu a sua expulsão do Chile. Conseguiu retornar ao Brasil, com visto de turista que exigia renovação a cada 3 meses, o que o obrigava a sair do país a cada 3 meses durante 6 anos, para renovar o visto. Finalmente, em 1986 foi anistiado e recebeu novamente o visto permanente.
Com o grupo da Teologia da Enxada e o apoio do Arcebispo Dom José Maria Pires, de João Pessoa, fundou, em 1981 no Avarzeado, PB, o Seminário Rural. Posteriormente denominado Centro de Formação Missionária, a experiência estabeleceu-se em Serra Redonda, PB. Teve o objetivo de formar sacerdotes e missionários populares para a evangelização da população rural, com uma metodologia adequada e levando em consideração e cultura camponesa.
A partir de então, passou a dedicar-se prioritariamente à formação de lideranças populares.
Em 1981 foi professor no Seminário Rural do Avarzeado (Pilões, PB), depois em Serra Redonda (PB), depois Centro de Formação Missionária.
Em 1987 participou da fundação das Missionárias do Meio Popular, com o mesmo objetivo.
Neste ano surgiu também o Programa da Árvore – formação de Animadores de CEBs na Arquidiocese da Paraíba com sua orientação.
Em 1989 fundou o Instituto de Formação Pastoral de Juazeiro (PB) com núcleos em Mogeiro (Paraíba) e em Miracema (Tocantins).
E desde 1995 passou a residir na Casa de Retiros São José, em Bayeux. Continua dando assessoria às diversas entidades de formação de lideranças populares no Nordeste, além da assessoria teológica para os mais diversos grupos eclesiais ou sociais no Brasil, na América Latina e no Nordeste.

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