quarta-feira, 20 de julho de 2011

DEUS É PACIÊNCIA

Dom Mauro Montagnoli
Bispo Diocesano de Ilhéus

Jesus revela os segredos do Reino dos Céus por meio de parábolas (cf. Mt 13,24-30). Ele compara o Reino a um homem que semeou boa semente em seu campo. O que aconteceu? Apareceu o joio crescendo no meio do trigo. E agora? O que fazer? Arrancar o joio? Não dá, pois o trigo corre o risco de ser arrancado também. Então o homem ordenou que ambos, joio e trigo, crescessem juntos, até a colheita. Daí sim, primeiro será arrancado o joio para ser queimado e, depois, o trigo será recolhido limpinho e colocado no celeiro.

Jesus comparou o Reino dos Céus com um grãozinho de mostarda que, plantado, pode tornar-se uma árvore grande. Assim é o Reino dos Céus. Jesus comparou o Reino dos Céus também ao fermento que uma mulher pega e mistura com a farinha para fazer o pão. A massa fermentada avoluma-se, cresce. Assim é o Reino dos Céus.
Os discípulos pedem para Jesus lhes explicar a parábola do joio. Jesus os atende prontamente: “Quem semeia a boa semente é o Filho do Homem, Jesus mesmo. O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os que fazem a colheita são os anjos”. Jesus continua: “Como acontece com o joio que é jogado ao fogo, assim todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal serão no final dos tempos retirados do Reino e serão lançados na fornalha onda haverá choro e ranger de dentes”. E o trigo nos celeiros? Serão os “justos que brilharão como o sol do Reino de seu Pai”.
Como aquele homem, assim é Deus. Ele tem muita paciência. Ele acredita na possibilidade de arrependimento e de conversão dos joios que, muitas vezes, somos nós mesmos. Ele dá tempo para que as pessoas se arrependam. Não arranca o joio antes do tempo!
Deus tem tanta paciência que seu Espírito vem continuamente “em socorro da nossa fraqueza” (cf. Rm 8,26-27). Em outras palavras, ele faz tudo para nos convertermos enquanto é tempo!
A Palavra viva de Deus, que é Jesus mesmo, vem iluminar uma série de questões que nos colocamos com frequência e que, com certeza, eram propostas no tempo em que foi escrito o evangelho: “Por que o bem e o mal se apresentam juntos? Por que é que Deus permite
que haja a imperfeição, o mal, o pecado, mesmo nas Comunidades mais perfeitas? Com todos os meios deixados por Cristo para atingir a perfeição, por que tantos maus discípulos?”.
Quando Jesus fala do joio semeado pelo inimigo no meio do trigal, ele se refere às “pessoas e estruturas injustas que crescem junto com a semente do Reino”.
O dono do campo, no entanto, manda deixar o joio e o trigo crescerem juntos... Jesus critia à pressa dos discípulos e das comunidades cristãs em querer logo separar bons e maus, justos e injustos... Ele é claro: só a Deus cabe fazer a triagem. Essa triagem não acontece agora, mas depois... Só Jesus tem o direito de ordenar a seleção final, cujo critério de distinção serão os frutos, justiça ou injustiça. Aos discipulos compete esperar. A parábola nos dá esta mensagem: a justiça que faz surgir o Reino de Deus se decide num campo de lutas, numa sociedade conflituosa. Aos discípulos de Jesus não cabe fazer justiça com as próprias mãos. A eles compete semear.
Temos muito a aprender com a paciência de Deus. Ele não é apressado. Ele é calmo, tranquilo, não se estressa. Ele dá um tempo. Nós é que somos impacientes, intolerantes, dominadores para com os outros, cobrando resultados imediatos. Deus é diferente.
Esta Palavra nos mostra com Deus tem grande respeito pela liberdade das pessoas. Deus semeia o bem no campo do mundo. Mas não força ninguém a receber o presente. Deixa conviver o mal com o bem. Existe um desenvolvimento, um crescimento. Este fenômeno verifica-se não só dentro da comunidade eclesial. Existe também dentro de cada pessoa. Importa que cultivemos com paciência o bem. Ele não se impõe. É como o grão de mostarda. Pequenino, vai se desenvolvendo e aparece como arbusto vistoso. O bem é comparado ainda ao fermento que, invisível, acaba transformando toda a massa. Assim é o Reino de Deus. Não se impõe de fora, mas age a partir de dentro, pela ação do Espírito Santo.

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