domingo, 28 de agosto de 2011

A SORTE DO DISCÍPULO: A MESMA DO MESTRE

Dom Mauro Montagnoli
Bispo Diocesano de Ilhéus
Pedro havia proclamado que Jesus era “o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Somente que ele tinha na cabeça, como era comum na cultura judaica da época, a idéia de um Messias de sucesso, poderoso e rico, intocável.
Quando Jesus decide subir a Jerusalém Pedro pensou: agora ele vai instaurar o seu reino.
Ir até a sede do poder, Jerusalém, era o objetivo de Jesus. Sentia- se na obrigação de ir. Ele sabia que sua vida corria perigo; sentia-se marcado para morrer. Fugir? Impossível! Tinha que enfrentar tudo, inclusive com muito sofrimento e até com a morte; mas para ressuscitar ao terceiro dia.

Isso deixa Pedro intrigado e até uma espécie de decepção em relação ao mestre. O Messias, sofrer e morrer? Ah!, isso não, jamais! Pedro repreendeu Jesus: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!” (Mt 16,22). Jesus reagiu, sendo duro com Pedro: “Vai para longe, satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!” (Mt 16,23). “Satanás” tem a ver com adversário, que tenta Jesus a assumir outro rumo, o rumo de um messianismo de riqueza e poder temporal, em total descompasso com a lógica de Deus. Pedro ainda não havia entendido em que sentido Jesus era o Messias.
Jesus então explica qual é o rumo de seu messianismo. Pensa no Servo Sofredor de Deus, que liberta o mundo por sua dedicação até a morte (cf. Is 42,1-4). Mas ninguém é obrigado a segui-lo. “Se alguém quiser me seguir”, diz Jesus. Portanto, trata-se de uma escolha pessoal. Optar por segui-lo significa assumir a mesma sorte e o mesmo destino que ele: renunciar a si mesmo e tomar a cruz... (cf. Mt 16, 24-28)
O resultado final de tal opção é: ‘encontrar a vida’. Toda a riqueza, poder e sucesso do mundo não são garantia de qualidade de vida plena, eterna, e sim a justiça do Reino de Deus: quando o Filho do Homem vier na glória do seu Pai..., então ele “retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta”.
Não é fácil optar pelos rumos de Deus, isto é, por sua Palavra de vida. O profeta Jeremias, num momento de crise pessoal, que o diga! Ele confessa ter sido seduzido por Deus: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir...” (Jr 20,7). ‘Entrou numa fria’, se diria hoje, pois sua opção pela justiça de Deus custou-lhe muito sofrimento. Teve que suportar zombarias por todo lado. Sentiu que a palavra do Senhor tornara-se para ele “fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro”. Pensou até em fazer greve como profeta (cf. Jr 20,9). Mas a voz de Deus era como um fogo ardente no seu peito. Não conseguia reprimi-la.
Deus não nos deixa em paz. Dentro de cada pessoa há sempre um fogo ardente a penetrar o corpo todo: “A minh’alma tem sede de vós como a terra sedenta, ó meu Deus!” (Sl 62,2).
Não tem outra saída para cultivar esse Deus, senão oferecermos a nós mesmos em sacrificio vivo, santo e agradável: este é verdadeiro culto a Deus (cf. Rm 12,1-2). O que melhor se ajusta ao plano de Deus, o culto que mais lhe agrada, é, acima de tudo, colocar nossa vida a serviço da justiça do Reino, contra toda injustiça. Distinguir qual a vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito, sem nos conformarmos com os esquemas deste mundo, mas transformando-nos e renovando nossa maneira de pensar e de julgar, eis o grande desafio para o discípulo e discípula do mestre Jesus.
Pensam que tal opção não acarretou e acarreta ferozes resistências? Os profetas, Pedro, Paulo, os apóstolos todos e tantos seguidores de Jesus que o digam! Uma coisa, porém, é exata: a vitória deles é certa! Assim como Jesus com sua morte e ressurreição destruiu o inimigo, assim é certa a vitória dos que o seguem no caminho da cruz.
O destino do cristão, do discipulo de Jesus, não pode ser diferente do destino do Mestre. Para estar com ele são exigidas duas condições: Renunciar a si mesmo, deixar de lado toda ambição pessoal; e Carregar a própria cruz, enfrentar, com as mesmas disposições de Jesus, o sofrimento, perseguição e morte por causa da justiça do Reino. Porque, “felizes os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus” (Mt 5,10).
A lógica do Reino é olhar para os pobres, para os humildes e desprezados na sociedade, para libertá-los da ganância e opressão que produzem os porões da miséria. Quem quiser ser mensageiro do Reino de Deus vai experimentar na pele a incompatibilidade com os sistemas deste mundo. O mensagaeiro de Deus, seguidor de Jesus, será rejeitado pela sociedade consumista e materialista. Então, “o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta” (Mt 16,27).

Nenhum comentário:

Postar um comentário