segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Produzir frutos de justiça e de bondade

Dom Mauro Montagnoli
Bispo diocesano de Ilhéus

A imagem simbólica da vinha aplicada ao povo aparece mais de dez vezes na Biblia. Ela exprime a Aliança de Deus com seu povo como uma união conjugal, pois a vinha é também símbolo do amor (cf. Is 5,1-7).
A videira é propriedade do Senhor, mas foi destruída. O povo está oprimido e somente o Senhor pode mudar sua sorte (cf. Sl 79(80)).

No Evangelho Jesus retoma o tema da vinha (cf. Mt 21,33-43). A parábola lembra a relação amorosa entre Deus e seu povo, vinha amada, mas infiel. Deus esperava a justiça, mas houve sangue derradmo; esperava retidão de conduta, mas surgiram exploração e grito de socorro de pessoas maltratadas. Os meeiros que deviam cuidar dela, além de impedir que os bons frutos cheguem ao dono da vinha, ainda são violentos com os enviados do dono.
Muitas vezes, certas lideranças religiosas impedem que o povo seja Povo de Deus para ser povo dos anciãos, dos escribas, dos sacerdotes, de fulano, de tal movimento. O povo vira joguete nas mãos dos chefes religiosos que buscam seus interesses e não o Reino de Deus. É isso que Jesus critica, mesmo que sua denúncia profética lhe cause a morte.
Que frutos se esperam da vinha plantada e cuidada com tanto carinho? O Senhor esperava dela o direito e a justiça. Estabelecer o direito e a justiça é uma exigência de Deus como expressão de fidelidade à Aliança entre Deus e seu povo. Nosso Deus, que é Deus da vida e do amor, quer que, em nosso meio, reine a justiça, respeite-se o direito de todos, em especial dos mais pobres.
Na Bíblia, a opressão contra os mais pobres é considerada um homicídio. Os vinhateiros são homicidas não só porque matam os enviados, inclusive o Filho, mas também porque despojam o pobre, violam o direito, não dão os frutos da justiça que pede o Senhor. Por ser assim, o Reino de Deus vai ser entregue a outras pessoas.
O fato de sermos cristãos não nos garante o Reino. Somos escolhidos para sermos sinal do amor, da misericórdia e da salvação de Deus. E preciso provar essa escolha com frutos e ações concretas de justiça e direito. Ser cristão é dar a vida. Se colocarmos em prática o Evangelho, o Deus da paz vai estar conosco e dessa paz seremos testemunhas no mundo em que vivemos.
Escutando a parábola dos trabalhadores que se apropriam indevidamente da vinha do Senhor, reconhecemos também nossas incoerências e infidelidades na realização do projeto de Deus, a construção do seu Reino de vida, justiça, paz e solidariedade.
Supliquemos: “Derramai sobre nós sua miseridórdia, perdoando o que nos pesa na consciência e dando-nos mais do que ousamos pedir”.

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