quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Inimiga do verde

EMBRAPA - Pesquisadores descobrem como bactéria age sobre as plantas para torná-las vulneráveis ao inseto transmissor da vassoura de bruxa

Parasitas são seres vivos que retiram de outros organismos todas as substâncias necessárias para sua sobrevivência. Essa relação de dependência, no entanto, pode causar graves problemas para a espécie hospedeira. É o caso das plantas que sofrem com a chamada vassoura de bruxa, doença causada pelo fitoplasma (tipo de bactéria) Aster yellows. Agora, um novo estudo pode ajudar a combater essa praga que assola plantações em diversas partes do mundo. Cientistas do John Innes Centre, no Reino Unido, entenderam como o parasita manipula a estrutura do vegetal para torná-lo menos resistente ao inseto vetor da doença. Publicada recentemente no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences, a pesquisa foi baseada na análise do genoma da bactéria.
Ao examinar a relação entre o A. yellows e a planta Arabidopsis thaliana, a equipe de cientistas descobriu que a proteína SAP11 faz com que o vegetal produza menos o hormônio jasmonato, que tem função de proteger o organismo de ameaças externas como a cigarrinha, inseto transmissor da bactéria. Uma das autoras da pesquisa, a especialista em interações moleculares entre plantas, micróbios e insetos Saskia Hogenhout explica ao Correio que a ação da SAP11 ocorre a fim de que mais exemplares da cigarrinha se encontrem na Arabidopsis thaliana, podendo carregar o parasita para contaminar outros seres vivos (veja arte). "Desse modo, conseguimos comprovar que os fitoplasmas conseguem alterar o comportamento de insetos indiretamente, a partir de seu hospedeiro", determina.
Saskia explica que o interesse de sua equipe pela A. yellows surgiu do temor de que o aquecimento global facilite a proliferação da bactéria, menos resistente ao frio. Ela conta que trabalhar com fitoplasmas é complicado, pois esses parasitas não conseguem se manter sem seu hospedeiro e seu inseto vetor. "Por isso, precisamos utilizar diversas plantas e cigarrinhas no experimento, para manter essa bactéria viva", detalha.
A pesquisadora afirma que a ação de tais parasitas tem sido controlada nas plantações com o uso de pesticidas, que erradicam a presença dos insetos vetores. "Mas agora queremos usar nosso conhecimento para criar outros mecanismos de combate às mais variadas doenças causadas por fitoplasmas, pois provavelmente a proteína SAP11 existe em outros parasitas do tipo", estima. Ela acrescenta que sua equipe também pretende encontrar maneiras de reduzir a existência de insetos nos locais de cultivo agrícola.
Dano às plantações
Segundo a pesquisadora Elizabeth de Oliveira Sabato, da EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA Milho e Sorgo de Minas Gerais, fitoplasmas atacam diversas espécies de vegetais, muitos dos quais servem de alimentos para as pessoas, como cacau, mamão e milho. "Além do fitoplasma, outra classe de bactérias que pode devastar plantações é a dos espiroplasmas", informa. De acordo com o especialista em transmissão de fitopatógenos por insetos João Roberto Spotti Lopes, professor da Escola Superior de AGRICULTURA Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (USP), várias plantas encontram-se infectadas por fitoplasmas no Brasil. "Esse tipo de problema é mais frequente e economicamente importante em hortaliças como repolho, brócolis, couve e chuchu, além do milho", enumera.
Elizabeth considera a descoberta feita no John Innes Centre importante "porque esclarece para a sociedade aspectos pouco conhecidos sobre as doenças de plantas cultivadas". Lopes, por sua vez, destaca que a relevância do estudo consiste em mostrar a ação do fitoplasma sobre os vegetais, "tornando compreensível como eles ficam mais vulneráveis à colonização por esses agentes danosos".

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