segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Queda remove mais um entrave para Dilma

Ministro do Trabalho percebe que seria demitido e evita o que seria constrangimento ainda maior
Enredado em uma teia de denún
cias, Carlos Lupi, titular do Trabalho, pediu demissão do cargo ontem à noite. Ele perdeu o apoio do PDT, entrou em rota de colisão com o PT - que está de olho na vaga - e não conseguiu explicar à Comissão de Ética da Presidência da República os casos de cobrança de propina na pasta.
Na sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff, em viagem à Venezuela, avisou que decidiria o caso "na segunda". Para se antecipar ao gesto presidencial, Lupi retornou ontem à tarde a Brasília e apresentou sua carta de demissão à presidente, em encontro no Alvorada.
 
"Faço isto para que o ódio das forças mais reacionárias e conservadoras deste país contra o Trabalhismo não contagie outros setores do Governo. Decidi pedir demissão do cargo que ocupo em caráter ir revogável", disse em nota.
O passivo de escândalos selou o destino de Lupi. Depois de desafiar a Comissão de Ética, que na quarta-feira recomendou a dispensa, ganhar tempo e dizer que faria uma "análise objetiva" sobre o caso, Dilma chegou à conclusão de que não seria possível segurar o auxiliar até a reforma ministerial, prevista para ocorrer entre o fim de janeiro e o começo de fevereiro de 2012.
A presidente emitiu ontem mesmo nota oficial em que aceitava a demissão. "A Presidenta agradece a colaboração, o empenho e a dedicação do ministro Lupi ao longo de seu governo e tem certeza de que ele continuará dando sua contribuição ao país", informou o Palácio do Planalto, por meio de nota à imprensa. A partir de hoje, acrescenta a Presidência da República, responde interinamente pelo Ministério do Trabalho o secretário-executivo da pasta, Paulo Roberto dos Santos Pinto.
Lupi é o sexto ministro que cai sob acusação de corrupção. Até agora, apenas Nelson Jobim, da Defesa não integrou a lista da "faxina". Foi dispensado por ter dado declarações consideradas "inconvenientes" sobre o governo.
Dilma não quer que o PDT indique um novo ministro agora, pois pretende fazer um rodízio na partilha dos cargos e tirar o Trabalho do controle pedetista, na reforma da equipe. Paulo Roberto dos Santos Pinto é filiado ao PDT, mas não tem aval do partido e muito menos de Lupi.
Lupi conversou com amigos e falou-lhes a respeito da necessidade de desocupar a cadeira, porque a família não estaria aguentando a pressão. "A cúpula do governo mandou o Lupi resistir e pôs o PT para bater nele. Foi assim com o PC do B também", insistiu o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, numa referência à crise que derrubou o ministro do Esporte, Orlando Silva.
EX-FEUDO PETISTA
O Ministério do Trabalho foi um feudo petista no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por lá passaram Jaques Wagner (hoje governador da Bahia), Ricardo Berzoini (hoje deputado federal) e Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo. Agora, petistas agem nos bastidores para retomar domínio da pasta.
Sem ceder às pressões até agora, Dilma analisa a possibilidade de resgatar um desenho antigo da Esplanada e fundir Trabalho com Previdência. Nesse cenário, o PDT poderia ficar o MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, hoje com o PMDB. O nome mais cotado para o posto, nesse caso, seria o do ex-senador Osmar Dias (PDT-PR), que também não tem chancela oficial do partido.
O presidente do PT, Rui Falcão, nega que o partido quisesse desbancar Lupi do Trabalho. "A minha preocupação não é se ele continua ou sai, mas, sim, com a chamada política de porteira fechada, de ocupar determinados postos com pessoas que só representam uma central sindical", disse Falcão. "Isso é aparelhamento e deveria acabar."
PROCESSO DE FRITURA
A presidente Dilma esperava exonerar Carlos Lupi do cargo apenas na reforma ministerial prevista para janeiro. Era uma forma de não perder mais um auxiliar por suspeitas de irregularidade, e sim na tradicional mudança na equipe.
Na semana passada, o Comissão de Ética da Presidência recomendou a demissão de Lupi e jogou pressão para que deixasse o cargo. Na ocasião, o Palácio julgou que o órgão estava se sobrepondo à presidente, provocando constrangimento. Essa manifestação foi citada por Lupi entre as razões de sua saída. Em nota publicada no blog do Ministério do Trabalho, disse que não teve o direito de se defender.
A primeira acusação feita a Lupi foi a de viajar em um jatinho contratado por ONG que prestava serviços a seu ministério. Na realidade, o que estava em jogo era a
correção dos convênios feitos pela pasta de Lupi com essa e outras ONGs, havendo suspeita de um esquema de captação irregular de recursos.
Lupi contestou as informações, foi ao Congresso e disse que não conhecia o responsável pela ONG. Só para ser desmentido mais tarde, quando se divulgaram fotos com ele. Por fim, identificou-se que, mesmo sendo ministro, Lupi recebia salário da Câmara dos Deputados e da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, em ambos os casos como assessor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário