quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Cacau recua abaixo do custo no Brasil

Por Fabiana Batista - Os produtores de cacau do Brasil estão vendendo a amêndoa a preços abaixo dos custos de produção, o que não acontecia desde 2008. Depreciadas por projeções de superávit mundial e por movimentos especulativos, as cotações internacionais da commodity estão em baixa desde outubro.
Nas principais regiões produtoras do Brasil, em especial em Ilhéus (BA), os preços médios recuaram abaixo de R$ 70 por arroba no fim de novembro e não se recuperaram mais. Esse patamar de preços já é suficiente para comprometer a rentabilidade da maior parte dos produtores, segundo Thomas Hartmann, da TH Consultoria, de Salvador. Segundo o especialista, é muito difícil estimar o custo médio de produção no país, uma vez que o segmento é heterogêneo.
Quanto ao comportamento dos preços, lembra Hartmann, o mercado doméstico costuma acompanhar as cotações internacionais. "Na safra passada, a 2010/11, o mundo teve um superávit grande, de 350 mil toneladas, volume que ainda exerce influência no mercado", afirma.
O atual quadro baixista resiste mesmo com a previsão de déficit para o novo ciclo mundial iniciado em outubro da maior parte dos analistas. As estimativas sinalizam que esse déficit em 2011/12 pode variar de 100 mil a 165 mil toneladas da amêndoa. "Ainda que a oferta seja menor que a demanda, o volume estimado até agora não deve ser suficiente para motivar a alta dos preços", avalia. E, segundo ele, há um pequeno grupo de especialistas que acredita em um superávit de cerca de 60 mil toneladas.
O próprio Hartmann, um dos raros analistas independentes desse mercado no país, prevê que a produção mundial de cacau ficará entre 4,1 milhões e 4,2 milhões de toneladas em 2011/12. As divergências também envolvem o aumento do consumo mundial da amêndoa, cujas estimativas para a temporada variam de 2,5% a 5%.
"Uma ala do mercado acredita que a crise não afeta o consumo de chocolate. Outra, aposta que haverá impactos. O que ocorre é que neste ano há incertezas nunca vistas", afirma Hartmann.
O fato é que, como não é baseada em contratos futuros, a comercialização brasileira da atual safra foi beneficiada por preços na casa dos R$ 80 a arroba apenas no mês de setembro passado. De lá para cá - apesar dos preços máximos estarem acima de R$ 70 - os preços médios recuaram e, desde 30 de setembro estão abaixo do custo de produção em Ilhéus e Itabuna, segundo a Central Nacional de Produtores de Cacau. As cotações médias internas chegaram a atingir R$ 63 em 12 de dezembro, e nesta semana fecharam a R$ 66,33.
Hartmann acredita que esses preços baixos vão redundar em redução dos tratos culturais no cacau, que vinha de um movimento de recuperação das lavouras, quase dizimadas na década de 80 pela vassoura-de-bruxa. "Esse é um efeito não desejado, pois a indústria processadora de cacau quer ampliar sua capacidade de produção, mas ainda esbarra justamente no baixo crescimento da oferta da amêndoa no Brasil", afirma o secretário-executivo da Associação das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), Walter Tegani.
A safra principal do país, iniciada em setembro e que segue até abril, deve ter uma produção entre 175 mil e 180 mil toneladas, em torno de 10% a 12% menor do que a anterior, segundo Hartmann.

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