domingo, 29 de abril de 2012

É grave a situação da Bahia: Mais de 90% das safras de milho e feijão de Irecê já foram perdidas

Com a seca que atinge quase todo o semiárido baiano desde março, 91,8% da safra de milho já foi perdida. A situação do feijão é ainda pior: 92,6% de perdas

Visão aérea do semi-árido: lavouras de milho e
feijão praticamente perdidas
Priscila Chammas- Correio da Bahia - Quem quiser comer milho cozido e canjica nesse São João vai ter que pagar mais caro. Com a seca que atinge quase todo o semiárido baiano desde março, 91,8% da safra de milho já foi perdida. A situação do feijão é ainda pior: 92,6% de perdas. “Salvador vai ter que comprar de outros estados e os preços devem aumentar um pouco por causa da lei da oferta e da procura, mas não será nada alarmante”, minimiza o presidente da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Elionaldo de Faro Teles.
O aumento já começou a ser sentido pelo consumidor. Dados da Casa Civil estadual dão conta de que o preço da cesta básica no estado aumentou de R$ 204 para R$ 211 entre fevereiro e abril. E o feijão foi um dos responsáveis: aumentou 9,14% neste período.

Teles explica que o milho e o feijão foram os mais afetados porque os agricultores costumam plantar os dois grãos justamente entre março e abril, para colher no São João. Só que acabaram surpreendidos pela estiagem e o resultado foi a perda de quase toda a safra.
Soja
No Oeste do estado, cidades como Cocos, Baianóplis, Jaborandi e Correntina sofrem com perdas nas safras de outro grão: a soja. Assessor de agronegócios da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Jonatas Brito explica que nessas cidades predominam áreas de plantio novas (1ª, 2ª ou 3ª colheita), que não têm reservas de nutrientes e, por isso, acabam sofrendo mais com a seca. Por lá, a média de produção oscila entre 20 a 30 sacas. O índice considerado normal é de 50 sacas, sendo que no ano passado houve um pico de 56.
O resultado desta equação também já pode ser sentido no bolso. “O preço da saca de soja está cotado a R$ 52 nas fronteiras de Luís Eduardo Magalhães e Barreiras. Em abril do ano passado, o preço era R$ 40,18”, compara Brito.
“A situação é gravíssima. A safra do feijão este ano vai ser praticamente zero. Sisal, milho, café e pecuária também foram muito afetados, por serem bastante cultivados no semiárido”, disse o secretário da Casa Civil, Rui Costa. É ele quem está coordenando o Comitê Estadual para Ações Emergenciais de Combate à Seca, criado na última semana pelo governador Jaques Wagner (PT).
Pecuária
Mas não são só as colheitas que estão sofrendo com a falta d'água. A pecuária, sobretudo a criação de ovinos (carneiros) e caprinos (cabras), também f oi afetada.
“A situação é preocupante porque a Bahia tem o maior rebanho de caprinos do Brasil, e 90% deles estão concentrados em oito municípios do polígono da seca”, conta o diretor de eventos da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos da Bahia (Accoba), Anderson Pedreira. “Temos notícias de que o rebanho está sendo perdido, mas ainda é impossível dar números”, diz.
O governo do estado estima que 82,16% do rebanho de caprinos tenha sido afetado pela seca. Foi o setor da pecuária mais atingido.
Em segundo ficou a criação de ovinos (79,02%), seguida da de bovinos (41,66% ). “Aqui estão ocorrendo muitas vendas de cabeças de gado para criadores de outras regiões, que não estão sofrendo com a seca. Além disso, quem tem o rebanho muito grande está abatendo logo os bois mais gordos, para ficar com um rebanho menor”, conta Noé Mendes Borges, diretor comercial da Associação dos Pecuaristas da região de Irecê (Aprir).
Em viagem pelo interior desde a semana passada, o secretário estadual da Agricultura, Eduardo Salles, reforça a informação do criador. “Essa região tem o maior rebanho da Bahia e estão vendendo seus animais a preços insignificantes, porque não tem água para dar a eles”, conta.
O secretário já visitou 15 municípios do polígono na seca e esta semana estará em Salvador para sintetizar as informações colhidas e avançar nas propostas para a solução do problema. 
Das 2,4 milhões de pessoas afetadas pela seca, pelo menos 85 mil terão algum consolo. É que o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), já iniciou o pagamento do Garantia Safra a essas pessoas. Pelo programa, agricultores que perderam a colheita por causa da seca recebem o seguro-safra, no valor de R$ 680, pago em quatro parcelas. O governo estima que nos próximos dez dias também já esteja disponível o Bolsa Estiagem, anunciado pela presidente Dilma Rousseff, na segunda-feira, durante reunião com governadores em Aracaju. O programa pagará R$ 400, em cinco parcelas, aos pequenos produtores que não recebem o Garantia Safra. "Ainda não recebemos o ofício com as regras, mas sei que será preciso morar na região afetada e ter uma declaração de aptidão, dada pela EBDA", diz o presidente do órgão, Elionaldo de Faro Teles. Junto com o Bolsa Estiagem, a presidente anunciou um investimento de R$ 2,7 bilhões para tentar minimizar o problema, mas ainda não se sabe quanto vem para a Bahia. "Desse valor, R$ 1,1 bilhão é só para financiamentos. Aí vai depender de quantos agricultores vão procurar esses financiamentos", diz o secretário Rui Costa.

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