terça-feira, 19 de junho de 2012

Greve dos professores se arrasta no ritmo do governo Wagner

“Atiraste uma Pedra”, de Herivelto Martins, é uma obra-prima da música popular brasileira. O samba-canção, que foi regravado por Nelson Gonçalves, Gal, Caetano, Gil e Bethânia, entre outros gênios da MPB, embala até hoje as desilusões amorosas e dores de muitos casais. Também poderia ser a música-tema da crise – da gravíssima crise – envolvendo o governo Wagner e milhares de professores da rede estadual em greve há mais de dois meses.
O saldo da lambança criada pelo governo petista até agora é o seguinte: calendário acadêmico jogado no lixo, um milhão de estudantes entregues à própria sorte, guerra de liminares, mentiras, uma fortuna torrada em publicidade oficial, contas atrasadas, arrogância e prepotência.

Já dissemos aqui, mas não custa nunca lembrar: cabe ao governo agir e buscar a solução para essa crise. Para isso foi eleito, mas até o momento se mostra incapaz. Não consegue dialogar e se fazer ouvir. Foi agressivo e arrogante quando o embate estava começando. No meio do jogo, perdeu o rumo e a direção.
Qualquer negociação trabalhista é sempre dura, complicada, tensa, exige muita paciência e envolve os mais diversos sentimentos, interesses políticos e econômicos e paixões. O PT deveria saber disso, mas o que fez o governador Jaques Wagner? Colocou mais lenha na fogueira.
No 14º dia de greve mandou cortar os salários dos professores. O que era tensão virou desilusão, decepção, antipatia, mágoa e revolta. Foi como uma pedra no peito de quem só fez bem ao PT a vida inteira. Ou alguém duvida que a maioria absoluta dos professores elegeu e reelegeu o atual governo? Virou uma questão de honra para a categoria resistir à falta de grana para pagar as contas e até mesmo para comer. E é preciso reconhecer: eles têm sido valentes, bravos e guerreiros.
O governo insiste no erro. Vibra – como se fosse um gol de placa – por cada liminar confirmando a suspensão do pagamento dos salários. Que graça há em fazer um (ex-companheiro passar necessidades e privações? Que estranho prazer é esse?
O saldo da lambança criada pelo governo do PT até agora é o seguinte: calendário acadêmico jogado no lixo, um milhão de estudantes entregues à própria sorte, guerra de liminares, mentiras, uma fortuna torrada em publicidade oficial, contas atrasadas, arrogância e prepotência
Para piorar, inaugurou uma nova forma de negociar com os trabalhadores: a midiática e virtual. Funciona assim: o governo pede e as emissoras de TVs, rádios e alguns blogs cedem espaços generosos para Jaques Wagner falar, falar muito – sem ser questionado e confrontado em nenhum momento – “da proposta do governo, dos avanços, das conquistas da categoria, do imenso esforço da administração pública para conceder o tal aumento etc”.
No final da “entrevista”, se o telespectador não tiver um pouquinho de cuidado, acaba acreditando que os professores vivem no paraíso e são os vilões da greve. Mas é bom não esquecer: toda essa lambança foi criada pelo governo do PT.
Para completar tem a propaganda oficial. Em horário nobre, caríssima, paga com o dinheiro do contribuinte. Aí o objetivo é confundir a opinião pública. A peça publicitária compara alhos com bugalhos, mistura professor com rodoviário, joga na telinha um monte de índices que nada explica.  No final, conclama os profissionais da educação a retornarem imediatamente à sala de aula. O efeito? Nenhum, nulo. Ninguém aparece. É dinheiro público jogado no lixo.
A greve se arrasta a passo de tartaruga — no mesmo ritmo das obras da Ferrovia Oeste-Leste, do Porto Sul e do metrô da Paralela — para desespero de estudantes e pais de alunos. A APLB e governo travam, desde que o salário foi cortado, um diálogo de surdo e mudo. Um finge que fala, o outro que escuta e no final ninguém se entende e todos perdem.
Os dois lados precisam ceder e voltar a negociar como nos velhos tempos do bom sindicalismo. É preciso deixar de lado o conforto do estúdio de TV e sentar na mesa, de frente, olho no olho, com corações e mentes desarmados, como Wagner tantas vezes fez quando esteve do outro lado do balcão. Dá mais trabalho, é verdade, mas o momento exige todo esse “esforço”.

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