quinta-feira, 16 de agosto de 2012

À deriva: na Bahia, também, a Educação Básica


(Leo Barsan) - Quando soube que seu colégio teve o pior desempenho na avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) no Brasil, Vanessa Stuerp, 14, estudante da 8ª série do Colégio Estadual 29 de Março, no Jardim Santo Inácio, ficou constrangida em ir à escola. “Hoje (ontem), fiquei com vergonha de vir pra o colégio. Na rua, muitos colegas ficaram me zoando, dizendo que a minha escola é a pior do Brasil. Me senti desestimulada. Aqui não é o melhor lugar do mundo para estudar, mas também não é o pior”, lamentou a estudante.
Assim como ela, outros alunos da unidade fizeram coro de protesto contra os resultados divulgados anteontem pelo Ministério da Educação (MEC), que atribuiu média 0,1 ao desempenho da unidade escolar no Ideb. “Saiu esse ‘baguio’ (sic) do MEC, mas confundiram nossa escola”, revoltou-se o estudante do 1º ano do ensino fundamental, Marcos Antônio, 15 anos.

“Aqui é decente. Estamos revoltados e muita gente fez onda com a nossa cara. Meu colégio é o pior? Que ideia! Disseram que já vai consertar a informação”, continuou o aluno. Ele e as colegas Laiana, Vanessa, Tatiele, Jandiara e Jamile levantam o moral da escola. “Os únicos problemas que temos aqui é com alguns quadros que estão quebrados”, assegurou Jamile.
A 29 de Março teve a pior média do Brasil na comparação com outras 30.841 escolas públicas em análise referente ao período de 5ª à 8ª série do ensino fundamental. No local, estudam 750 alunos, divididos em três turnos, entre ensinos fundamental e médio.
A superintendente de acompanhamento e avaliação do sistema educacional da Bahia, Eny Bastos, atribuiu a média da 29 de Março a um erro de migração de dados. “É responsabilidade da SEC. Esse dado é irreal. A taxa de rendimento correto dessa unidade escolar é 2,4”, afirmou.
Ela classificou como “bons” os resultados da Bahia no Ideb. O estado teve média geral (considerando todas as séries) de 4,2, abaixo da meta de 4,6.
Segundo Bastos, a Secretaria da Educação vai encaminhar os cálculos do Colégio 29 de Março ao Ministério da Educação, a fim de corrigir as informações. “Não podemos estigmatizar a instituição negativamente. Os professores, gestores e os estudantes fazem esforço para que a escola melhore. A escola não fez a correção, mas não vamos culpá-los por isso. O erro é da SEC”, admitiu.
“Estamos verificando quais escolas aumentaram ou reduziram médias e apurando se alguma outra unidade, por acaso, apresentou o mesmo problema com os dados”, diz.
Bastos ressaltou que técnicos da SEC estiveram na escola ontem para conversar com a comunidade escolar a respeito do resultado negativo. “Vamos escrever uma carta de retratação pública. Sabemos que estão todos envergonhados e vamos reverter essa imagem”, salientou.
Problemas
Apesar da defesa dos alunos com relação ao ensino, a escola sofre com alguns problemas estruturais e também com a violência no Jardim Santo Inácio.
Na semana passada, os alunos da 29 de março foram impedidos de sair da unidade para comprar merenda por causa da violência no bairro. “A gente não podia sair. Só veio para a escola quem teve coragem. Uma viatura ficou na porta e alguns alunos vieram mesmo com o bangue-bangue”, comentou um aluno.
Na porta da unidade, nem de perto, o pequeno mosaico na parede da casa nº 1 indica que ali funciona uma escola.
O local disputa espaço com lojas. Segundo a superintendente, há a previsão de que o colégio seja construído em novo local. “(O colégio) Não tem as melhores condições, porque ainda não conseguimos terreno para construir uma nova unidade. Só precisamos encontrar essa área para que a escola seja erguida”, contou.
Na unidade escolar, nenhum representante quis comentar o assunto e a equipe de jornalistas do jornal CORREIO não teve permissão para entrar. “Tem um monte de gente aí que poderia falar, explicar, argumentar, mas ninguém quer dizer nada. A diretora fez sinal pra que a gente calasse a boca, mas quero defender a escola em que estudo. Já que não deve nada, aparece aí pra falar”, disse uma estudante, pedindo sigilo de identidade.
Colégio Militar é o sexto melhor do país
O Colégio Militar de Salvador (CMS), na Pituba, tirou 7,2 na média do Ideb e ocupa a 6ª posição entre as melhores escolas públicas de 5º ao 9º ano do Brasil. A instituição federal tem 867 alunos divididos em turmas de 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Lá, alunos do 6º e 7º ano estudam em tempo integral e a meta é que esse modelo seja aplicado em todas as séries até 2017. O diretor do CMS, coronel Carlos Alberto Mansur, diz que os bons resultados da unidade são reflexos de trabalho contínuo. “Nosso segredo é a busca para atender às áreas cognitiva, psicomotora e afetiva. Os alunos são acompanhados do instante em que entram até o momento que deixam o colégio”, explicou.
Prefeitura tem a 5ª pior rede entre capitais
A rede municipal é a 5º pior entre as capitais do país, deixando para trás apenas Macapá (AP), Natal (RN), Maceió (AL) e Aracaju (SE). A capital baiana obteve média 4 para as séries iniciais e a meta projetada era 3,6. Nas séries finais, a meta também foi atingida – 2,8. Do total de 425 escolas, apenas 17 (4%) tiveram média igual ou acima de 5 – média nacional para o ensino fundamental. O secretário municipal da Educação, Cultura, Esporte e Lazer, João Carlos Bacelar, reconheceu o resultado ruim. “São resultados que não me satisfazem e que considero pífios em relação a outras capitais do país. Mas, analisando pela realidade da educação em Salvador, temos que comemorar porque interrompemos tendência de queda, ultrapassamos a meta das séries iniciais e mantivemos a das séries finais, sem contar que Salvador subiu para 22º lugar no ranking das capitais”, disse.

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