sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Jorge Amado: Ninguém escreveu o Brasil como o fez

Os livros de Jorge Amado foram traduzidos para 49 línguas
"Não tenho nenhuma ilusão sobre a importância de minha obra. Mas, se nela existe alguma virtude, é essa fidelidade ao povo brasileiro." afirmou Jorge Amado.

Avô, mesmo que a gente morra, é melhor morrer de repetição na  mão, brigando com o coronel, que morrer em cima da terra, debaixo de relho, sem reagir. Mesmo que seja pra morrer nós deve dividir essas terras, tomar elas para gente. Mesmo que seja um dia só que a gente tenha elas, paga a pena de morrer".
(Os Subterrâneos da Liberdade - Agonia da Noite)




A intimidade com que expôs traços, costumes e contradições da cultura brasileira foram um dos fatores por trás da popularidade de que Jorge Amado desfrutou em vida e continua desfrutando através da sua obra.

Autor popular e criador de um universo de 3 mil personagens, o escritor baiano teve atuação política, religiosa e literária no Brasil
Militante comunista, deputado constituinte na década de 1940, obá de Xangô, amigo de intelectuais brasileiros e internacionais, pai de três filhos, marido de Zélia Gattai, figura central da cena literária da Bahia e do Rio de Janeiro. Ao pensar nas múltiplas atuações e faces do baiano Jorge Amado, uma pergunta logo surge: como ele conseguia arranjar tempo para escrever? Autor de uma obra de vasta popularidade (continua sendo o que mais vendeu ficção na história do Brasil), o criador de Capitães da areia é celebrado neste ano por ocasião do seu centenário, comemorado na próxima sexta-feira, 10 de agosto.O poeta chileno Pablo Neruda, seu amigo, o apontava como “o maior romântico do século 20”. Jorge Amado escreveu 36 obras em vida, entre romances, biografias de figuras históricas e até mesmo uma espécie de obra de memórias, Navegação de cabotagem (1992). Dizer que com suas histórias ele materializou "universos ficcionais" não é exagero: poucas vezes uma obra circulou tanto pelo Brasil e pelo mundo, seja por meio dos livros, seja por meio de adaptações televisivas e cinematográficas, que também marcaram no imaginário brasileiro atores como Sônia Braga e Beth Faria. Para ter uma dimensão de tudo isso, basta dizer que, além de vender milhões, foi o responsável pela invenção de mais de 3 mil personagens.
Nasce em Itabuna, na Bahia, na fazenda dos pais, João Amado de Faria e Eulália Leal Amado, a Dona Lalu. Cresceu em Ilhéus, cidade que posteriormente viraria o cenário da sua obra mais famosa, Gabriela, cravo e canela. Seu primeiro livro, O país do Carnaval, sai quando ele tinha 18 anos – antes, já havia escrito uma novela, Lenita, para um jornal, em parceria com Edison Carneiro e Dias da Costa. Dois anos depois, casa-se com a primeira esposa, Matilde, com quem ficou até 1944 – no ano seguinte, conhece a escritora Zélia Gattai, sua grande paixão, com quem ficaria até sua morte.
Ainda na década de 1930, começa o ciclo de romances regionalistas, que retratam tanto o interior da Bahia como os centros urbanos do seu estado. São dessa época também suas narrativas mais políticas, que buscam, ao mesmo tempo, revelar o Brasil e mostrar ao povo a necessidade de uma tomada de consciência.
O materialismo histórico marxista não o impediu de ser adepto do candomblé e até de ganhar o título de obá de Xangô, concedido aos protetores dos terreiros. “É aí que você percebe a dimensão humana dele, que não se deixou limitar pelos dogmas políticos. Tanto que depois, ainda identificado com o partido, não aceitou o autoritarismo de Stalin”, diz o professor e pesquisador da obra de Jorge Amado Eduardo de Assis Duarte, autor de Jorge Amado: romance em tempo de utopia.
A partir de Gabriela, cravo e canela, de 1958, seu maior sucesso midiático (ainda que não seja seu livro mais vendido, posto ocupado por Capitães da areia), passa a desenvolver narrativas mais voltadas para mostrar os costumes da sociedade brasileira, deixando de lado a ideia de um romance proletário.

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