quinta-feira, 4 de julho de 2013

'Quem pediu plebiscito? Falta gestão', diz petista

Deputado Devanir Ribeiro, amigo de Lula há 30 anos, quis terceiro mandato
Vera Rosa (O Estado de S. Paulo) - O plebiscito proposto pela presidente Dilma Rousseff para mudar o sistema político divide até o PT. Embora a Executiva Nacional petista vá aprovar nesta quinta-feira um cronograma de mobilização, conclamando os militantes a se engajarem na campanha em defesa do plebiscito, a consulta popular não tem apoio unânime nem mesmo na bancada do PT na Câmara. Em meio à polêmica, o coro do “Volta Lula” é agora ensaiado por uma ala do partido que faz críticas contundentes à articulação política do governo Dilma.
“Eu acho que já está na hora de o Lula voltar”, afirmou o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP). Autor da proposta de terceiro mandato para o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Devanir disse que os protestos nas ruas tiveram outra motivação. “Quem pediu plebiscito? O que falta no governo Dilma é gestão. As pessoas querem transporte de qualidade, saúde e educação. Dinheiro tem. É só investir.”
Para Devanir, a presidente continuará enfrentando problemas em sua base aliada, e não apenas com o PMDB, enquanto não der autonomia aos ministros para fazer a articulação política do governo. “A Ideli, coitada, é como um elefante numa loja de cristais”, definiu o deputado, numa referência à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, responsável pela negociação com o Congresso.
Amigo de Lula há mais de 30 anos e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo na época em que ele comandava a entidade, Devanir afirmou que a reforma política é assunto para “outro departamento”. A proposta enviada por Dilma ao Congresso prevê que a população seja consultada sobre cinco pontos: financiamento de campanha, sistema de votação, término dos suplentes no Senado, voto secreto no Parlamento e fim das coligações partidárias.
“Eu sou contra esse plebiscito, mas voto com o governo. Agora, querer jogar para o povo uma coisa que não conseguimos resolver há mais de dez anos não vai dar certo”, insistiu Devanir. “Essa reforma é para salvar os partidos, não é de interesse da sociedade.” Na sua avaliação, a convocação de uma Constituinte exclusiva para votar a reforma política seria mais apropriada. A sugestão chegou a ser feita por Dilma, mas ela recuou diante das resistências ao assunto, até mesmo por parte do vice-presidente Michel Temer.
Ao lembrar que o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, quer incluir no plebiscito o fim da reeleição e o mandato de cinco anos, Devanir foi irônico. “Como dizia Vicente Mateus, isso é uma faca de dois legumes”, afirmou ele, em alusão ao ex-presidente do Corintians. Campos deve ser adversário de Dilma na eleição de 2014.
Decepção. Na tentativa de amenizar a crise, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que as discordâncias em relação ao plebiscito são “naturais”. Na terça-feira, a bancada do PMDB na Câmara fechou questão contra a realização do plebiscito neste ano e, a portas fechadas, considerou a iniciativa como “manobra”, termo empregado pelo PSDB e outros partidos de oposição.
“O PT também tem divergências, o PSB, o PDT... Isso faz parte”, desconversou Carvalho. Mesmo assim, o ministro observou que será “uma decepção” se as mudanças não valerem para as eleições de 2014. “Se é verdade que queremos acabar com a corrupção, é importante que façamos uma reforma estrutural na política, que trabalhe primeiro o financiamento público de campanha.”
Em vídeo postado no site do PT, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, conclamou os militantes a apoirem a consulta popular proposta por Dilma e disse que ela é “sensível” à voz das ruas. “Não há prazo, nenhuma dificuldade técnica, a nosso ver, que impeça a realização desse plebiscito”, argumentou Falcão.
O deputado José Genoino (PT-SP) encaminhou à bancada petista proposta de emenda constitucional prevendo que a população autorize os parlamentares eleitos em 2014 a revisar os artigos da Constituição que tratam do sistema eleitoral e partidário. A reforma passaria, então, por uma Assembléia Revisora e, depois, seria submetida a um referendo popular, em abril de 2016.
Trata-se de um “plano B” para salvar as mudanças sugeridas pelo governo no sistema político, diante das resistências observadas em todos os partidos, da base aliada à oposição. “Sem plebiscito não tem reforma política. Só tem reforma cosmética”, comentou Genoino, que foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão.

Na reunião da Executiva do PT, nesta quinta-feira, o deputado Geraldo Magela (DF) vai propor que o plebiscito, se ocorrer, seja facultativo. “Quem não tem interesse na reforma política não deve ser obrigado a votar, porque senão vai votar de qualquer jeito”, disse Magela. “As pessoas devem votar por convicção, e não por obrigação.”

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