terça-feira, 27 de agosto de 2013

Deu a louca no capitalismo

Figurante para fazer número em casamento e velório, empresa que vende ingresso para o paraíso. Negócios bizarros mostram a que ponto chegou o capitalismo

PEDRO VALLS ROSA  - Imagine uma pessoa solitária, daquelas admiradoras de Schopenhauer, segundo quem “a solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais”. Pois é. Nosso personagem, pessoa de posses, gostava de viver sozinho, distante de todos e de tudo.
Mas eis que um dado dia, subitamente apaixonado, decidiu casar-se! Marcada a data das núpcias e reservada a igreja, nosso personagem ficou a pensar que poderia ser humilhante comparecer à cerimônia sozinho – lembrem-se, ele era um solitário – enquanto sua futura esposa levaria familiares e amigos.
A solução estava em uma empresa indiana da cidade de Jodhpur, chamada Best Guests Centre, especializada em arrumar convidados para casamentos! Parece inacreditável, mas eles contratam atores para se fazerem presentes em qualquer cerimônia, observando vestuário e regras de etiqueta compatíveis com os desejos do cliente. Eles são tão detalhistas que chegam a estudar as famílias dos noivos, para evitar qualquer deslize que possa revelar a razão de suas presenças – o dinheiro!
Graças a esta empresa, o casamento do nosso personagem foi um sucesso de mídia! Mas ele quis ir além. Teve a idéia de impressionar sua jovem noiva durante a lua-de-mel. Foi quando contratou uma outra empresa, norte-americana, de nome “Celeb 4 a Day”, especializada em transformar pessoas anônimas em celebridades por um dia ou dois. E assim, em sua lua-de-mel, nosso personagem foi seguido por um falso “paparazzi” que tirava fotos dele o dia inteiro, concedeu entrevistas coletivas em restaurantes a falsos jornalistas e até deu autógrafos a fãs de mentirinha que o abordavam várias vezes ao dia.
Como seria de se esperar, um casamento iniciado nestas bases não durou muito. E, assim, eis nosso personagem de volta à solidão! Buscando extravasar sua raiva, foi a um bar da cidade espanhola de Cullera, no qual os clientes pagam para ter o direito de ofender os pobres garçons das mais variadas formas! Foi assim, após xingar uma meia dúzia deles, que nosso personagem acalmou-se.
Passou-se o tempo, e veio a velhice. Preocupado com o futuro, e mais exatamente com a vida após a morte, decidiu adquirir um ingresso para o paraíso. Para tanto, buscou uma empresa norte-americana chamada Ticket to Heaven, onde, por US$ 19,95 mais as despesas postais, adquiriu esta preciosidade. Segundo a empresa o ingresso, pessoal e intransferível, deveria ser colocado em seu caixão.
Já muito idoso, e às portas da morte, nosso solitário personagem ficou a pensar que não iria ninguém ao seu velório – o que seria muito desagradável! Assim, procurou ele um serviço disponível nas regiões espanholas de Campanario, Extremadura, Galícia e Canárias, através do qual qualquer morto pode ter certeza de que estará sempre rodeado de pessoas chorando sua morte e rezando por ele.
E foi assim que no velório de nosso exótico personagem estavam diversas senhoras das mais distintas, chorando e rezando o dia inteiro a troco de 30 euros – ele havia contratado somente as melhores na arte do choro e da lamentação, desprezando outras menos especializadas cujo preço era de apenas 20 euros.
Nosso personagem é fictício. Mas as empresas que citei não. Elas existem. São reais. E têm prosperado, o que é mais chocante. Fico a pensar, diante desta realidade, naquela frase de Oscar Wilde: “O mundo pode ser um palco, mas o elenco é um horror”.

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