segunda-feira, 7 de abril de 2014

Estudo pede inclusão de agroflorestas de cacau no REDD+ e em PSAs


 Instituto CarbonoBrasil - Pesquisadores destacam importância do cultivo de cacau sob a sombra da floresta nativa para o armazenamento de carbono e para a biodiversidade, e recomendam que mais recursos sejam destinados para essa prática
Publicado no periódico ‘Mitigation and Adaptation Strategies for Global Change’, um artigo que contou com a colaboração dos pesquisadores do Departamento de Ciências da Universidade Estadual de Santa Cruz estimou que toda a cobertura florestal do sul da Bahia, composta por diferentes tipos vegetacionais, retém 89 milhões de toneladas de carbono acima do solo. 
Deste total, as agroflorestas de cacau representam quase metade da cobertura florestal existente (48%), e contribuem com a maior parte (59%) do carbono estocado na região. O destaque são as plantações de cacau sob o modelo tradicional da cabruca – onde o cacau é cultivado sob a sombra da floresta nativa raleada –, que armazenam 51% do carbono.
Entre as florestas remanescentes, que, juntas, cobrem 52% da área vegetada da região, as florestas maduras e perturbadas estocam 32% do carbono regional; já as em estágios iniciais de regeneração, as capoeiras, armazenam apenas 9%.
Tanto em florestas nativas como em plantações de cacau, a maior parte do carbono encontra-se estocada nas árvores grandes. Porém, em busca de um aumento de produtividade para o cacau da região, o processo de intensificação da lavoura tem sido feito através da retirada das árvores para permitir um maior adensamento dos cacaueiros e menos sombreamento.
“A partir da amostragem de árvores em cacauais pouco sombreados, estimamos que o atual manejo de intensificação da lavoura resulta em uma perda média por hectare de quase metade do carbono estocado em uma cabruca”, afirmam os pesquisadores. 
Eles alertam que, se esse processo continuar e todas as cabrucas forem intensificadas, aproximadamente 21 milhões de toneladas de carbono podem ser liberadas para a atmosfera. Isso equivale a cerca de 75% do carbono estocado hoje nas florestas nativas da região.
“No entanto, acreditamos que o processo de intensificação possa ser feito de maneira mais flexível, sem redução significativa do estoque de carbono, através da remoção seletiva de árvores menores e da manutenção das de maior porte”, sugerem os pesquisadores.
Biodiversidade
O grupo também vem estudando ao longo dos anos a contribuição das tradicionais plantações de cacau para a manutenção da biodiversidade regional e concluiu que, mesmo sendo áreas muito perturbadas, muitas espécies da biota regional usam e vivem na cabruca.
"Nossos estudos mostram grande riqueza de samambaias, invertebrados (borboletas frugívoras) e vertebrados (lagartos e sapos de folhiço, aves, morcegos, pequenos mamíferos) incluindo espécies ameaçadas (ex: preguiça e mico-leão-da-cara-dourada) nestas cabrucas”, comentou Deborah Faria, do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual Santa Cruz.
“No entanto é preciso ressaltar que a capacidade de uma dada cabruca em servir de habitat para parte das espécies nativas citadas depende da existência de florestas nativas na paisagem", ressaltou.
Considerando os serviços ambientais que as cabrucas fornecem, os pesquisadores sugerem que essas agroflorestas possam ser incluídas na discussão dos REDD+, sendo elegíveis para receber recursos oriundos da aplicação desses incentivos, além de outras políticas de compensação financeira discutidas em escalas mais locais, como o pagamento de serviços ambientais (PSA), a exemplo do que já é feito para a água em outros estados. 
“O importante deste nosso artigo com carbono é chamarmos a atenção para o fato de que esse uso da terra, além da importância cultural e da manutenção da biodiversidade regional, presta um relevante serviço ambiental. Se esse serviço valorado fosse repassado de alguma maneira para os prestadores (fazendeiros), isso poderia ajudar a reverter a tendência atual observada de intensificação do plantio (que hoje leva à emissão de carbono e à queda do valor associado à biodiversidade), bem como a substituição da lavoura em escala regional por outros usos da terra menos ambientalmente amigáveis”, explicam os autores. 
Informações técnicas do estudo:
Toda cobertura florestal da região sul da Bahia estoca 89 milhões de toneladas de carbono acima do solo;
As florestas de cacau cobrem quase a metade da área, mas contribuem com a maior parte (59%) do carbono estocado;
Sozinhas, as cabrucas estocam 51% do carbono da região;
A maior parte do carbono em uma floresta ou plantação de cacau encontra-se estocada nas árvores grandes;
Hoje, para aumentar a produtividade do cacau, o manejo recomendado é a retirada de árvores grandes para promover o adensamento dos cacaueiros e menor sombra, o que leva a uma perda de quase metade do carbono estocado por hectare em uma cabruca tradicional;
Se todas as cabrucas fossem intensificadas, a região liberaria 21 milhões de toneladas de carbono, o que equivale a 2/3 do estoque total nas florestas;
Implicações práticas do estudo:
1. O processo de intensificação pode ser flexível, através da remoção seletiva das árvores menores e manutenção das grandes;
2. A cabruca é reconhecida pelas pesquisas como manejo que abriga biodiversidade; agora mostramos que também mantém um importante serviço ambiental: o carbono;
3. Esse serviço pode e deve ser valorado: existem mercados específicos para isso;
4. Intensificar a lavoura ou substituí-la por outro uso da terra menos florestal acarretará na perda do maior estoque de carbono do sul da Bahia 
5. A Bahia deveria propor a inclusão das cabrucas como elegíveis a receber os recursos do REDD+(*) e PSA.

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