terça-feira, 26 de setembro de 2017

(In) Segurança

(Por Adonis Oliveira) - Por estranho que possa parecer, mesmo sendo engenheiro industrial mecânico e tendo labutado minha vida toda com projetos industriais, de repente decidi cursar um mestrado sobre a psicologia e o comportamento humano. A questão é que, depois de muito quebrar a cabeça gerindo indústrias, (quando ainda haviam indústrias em Recife, pois fecharam todas em que trabalhei – Alpargatas, Springer, Microlite, Souza Cruz, Philips, etc – verifiquei que o problema maior não eram as máquinas. Estas eram sempre extremamente dóceis! Uma vez afinadas, reguladas, lubrificadas e alimentadas com força motriz, faziam exatamente aquilo que se esperava delas. O problema era sempre as pessoas!
Foi então que decidi fazer o mestrado da Universidade Federal sobre Administração de Recursos Humanos, com ênfase em Psicologia e Sociologia Organizacional. De todas as inúmeras e valiosas lições que lá aprendi, uma se destaca na minha mente como sendo a de maior importância. É a seguinte: “As duas principais forças moldadoras do comportamento humano são: Primeiro, as lições introjetadas nas nossas mentes juntamente com o leite materno, no ambiente familiar, complementadas pelas orientações de um pai severo. Depois, quando já crescido, o medo da polícia”.
No Brasil, temos cada vez menos influência destas forças na moldagem da personalidade dos jovens. A consequência veio a galope: a catástrofe social que assistimos. Na completa ausência destas influências, assumiu papel preponderante o grupo social onde o jovem vive. Este está cada vez mais direcionado pelas mensagens deturpadoras de valores e da moral bombardeadas por todos os meios de comunicação.
Se desde sempre éramos periféricos, em termos de civilização mundial, agora caminhamos aceleradamente para nos tornarmos uma sub-raça, em um quadro muito mais amplo de total degeneração social. A erotização precoce, aliada à total relativização dos valores da família tradicional, frutificou de maneira esplendorosa: Hoje, um terço das crianças brasileiras são filhas de mães adolescentes. Dois terços vivem em lares só com um dos cônjuges, normalmente a mãe. Estas, tendo de se “virar nos trinta” para prover o sustento, deixa os filhos para serem criados de solta, feito boi pé duro.
O resultado não podia ser outro: Uma geração de adolescentes inúteis. Semianalfabetos e revoltados. Totalmente desiludidos, sem qualquer possibilidade de conquistar uma vida melhor. Cercados pelo tráfico de todo tipo de drogas e instigados pelos meios de comunicação a arrancarem o que puderem do banquete da vida com as prórias mãos, “pois ninguém dá nada para ninguém”. A ênfase é na satisfação imediata de prazeres e desejos. – Amanhã? É outro dia! Quando chegar lá a gente vê o que é que faz.
Viramos um país de filhos da puta! Linguajar trêfego. Grosseiros, truculentos, arrogantes, mau- humorados e, para completar, cheios de “direitos”. O mundo todo lhes deve. Não devem nada a ninguém.
No livro Freakonomics, os autores (Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner) estabelecem uma curiosa correlação entre a liberação do aborto e a queda na taxa de criminalidade nos Estados Unidos. Segundo os mesmos, os possíveis criminosos, crianças cuja origem social os levaria inexoravelmente a uma carreira de crimes, simplesmente foram abortados. Assim, uma ou duas décadas depois, a sua ausência foi o fator que levou as cidades a experimentar uma queda na criminalidade. Faz todo sentido para mim!
Por questão de princípio, sou frontalmente contra a opção que faculta às futuras mamães assassinarem seus próprios filhos, ainda em seus ventres, e depois de mortos, retirar-lhes de seu seio aos pedaços. Considero milhões de vezes mais humano simplesmente evitar a concepção. Temos todo o conhecimento e meios para isso. Só muita hipocrisia e burrice para não ver isso e não incentivar esta alternativa.
Desde 1991, crescemos de uma população de 146 milhões para os atuais 206 milhões. São 60 milhões de pessoas a mais. Quase a população que tínhamos em 1970. Quantos desses jovens estão assim?
É exatamente essa legião de jovens, desiludidos e perdidos, que está no centro de nosso problema de insegurança nas nossas cidades. Enquanto eles se matam, pois a maioria das vítimas da carnificina urbana é nesta faixa etária, levam a tranquilidade de toda a população de roldão. Teria sido muito melhor para o nosso país que tivessem sido evitados. Não fariam a mínima falta! Muito pelo contrário até.
Tenho acompanhado a terrível transformação, consequência deste quadro acima descrito, que tem ocorrido num estado pelo qual tenho muito apreço: O Piauí.
Minha primeira viagem para lá se deu nos idos de 1992. Fiquei simplesmente fascinado! Teresina era uma cidade extremamente simples e modesta. A grande maioria da população era de uma pobreza muito grande, porem extremamente digna. Lá não havia a miséria abjeta contrastando com a opulência dos imensamente ricos. A consequência desse clima de harmonia e paz era índices de criminalidade absurdamente baixos. Era a antítese da teoria petista que justifica a desagregação social como resultado da pobreza. Lá, simplesmente não se cometiam crimes. As pessoas eram pobres porem tinham um orgulho extremo de serem absolutamente honestas e trabalhadoras. O grande caminho através do qual almejavam uma evolução nas suas condições de vida era a dedicação aos estudos com todo o afinco de que fossem capazes. Há até um subproduto interessante desta dedicação aos estudos: Os nomes próprios das pessoas daquela geração. Eram nomes eruditos, extraídos das leituras feitas aleatoriamente por pais pobres e simples que almejavam atingir uma nova condição social através dos filhos. Abundam os Roosevelt, os Flaubert, os Ramsés, e coisas do gênero, entre as pessoas de meia idade. Já quanto aos jovens, saídos desta fornada mais recente, o quadro é bem diferente. Os nomes atuais são de jogadores.
Fala-se muito em criar mais juizados, investir em mais policiais, mais delegacias, mais cadeias, penas mais severas, e por aí vai, a fim de encarar e resolver este terrível problema. NÃO FUNCIONARÁ!
Estamos criando o controle, do controle, do controle, do controle, etc… ad infinitum! Serão advocacias, defensorias, ouvidorias, auditorias, controladorias, procuradorias, corregedorias, delegacias, … PARA NADA! E o que é muito pior: a um custo aberrante e proibitivo. Só servirá pra dar emprego a advogados.
O grande acionador do comportamento humano são os valores internos (Core Values), que são introjetados através da educação, especialmente a doméstica. É o que costumávamos chamar de “berço”.
Polícia alguma vai conseguir ser mais eficaz do que esta simples providência. Além de que, depois de adulto, para destorcer qualquer pepino é absolutamente IMPOSSÍVEL!

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