sexta-feira, 20 de julho de 2018

O município de Ilhéus é o segundo no país em morte de crianças

Ministério da Saúde - MS
A edição, desta semana, da Revista Veja traz uma reportagem mostrando o raio-X dos números da mortalidade infantil no país. Os dados chocam, as famílias sofrem, e já não há local nos cemitérios para sepultar nossas crianças 

Os índices estatísticos que indicam taxa de mortalidade infantil, relevam a realidade de uma nação que falhou no dever mais básico, o de garantir o direito à vida. O Brasil, lamentavelmente, está andando para trás. A taxa de mortalidade infantil, que só caía desde que começou a ser medida ano a ano, em 1990, mudou de direção no cálculo mais recente, de 2016: subiu 5% — de 13,3 para 14 em cada 1.000 nascidos vivos. 
Esse índice, combinado com a estagnação prevalente nos últimos anos, acende um alarmante sinal vermelho na acidentada trajetória brasileira rumo ao mundo desenvolvido. “Os dados são reflexo da piora na condição de vida das pessoas, causada pela crise econômica, a falta de emprego e a retração nos investimentos em políticas sociais”, diz Fátima Marinho, diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde. “O Brasil teve o mérito de reduzir muito a mortalidade infantil, sobretudo nas áreas de maior incidência — um trabalho de décadas que pode ser destruído rapidamente.”
O município de Ilhéus (Bahia), é detentor do segundo pior índice de mortalidade infantil do país — 24,25 por 1.000 nascidos. Só os gestores (Prefeitos, vereadores, secretários e os agentes públicos) não enxergam a desordem que beira a desumanidade na periferia. Não precisa citar os bairros, em qualquer local encontramos condomínios populares lotados, casas de madeira sem ventilação nem higiene e crianças brincando na rua em meio ao esgoto e lixo. 
A única maternidade, a Santa Helena (Santa Casa de Misericórdia) não tem UTI neonatal. Há 35 vagas disponíveis, sete a menos do que em 2012, embora no mesmo período a média de partos mensais tenha passado de 280 para 350. Cabe recordar a presença do secretario de Saúde do Estado, Fábio Vilas Boas anunciando ao provedor a ampliação da Maternidade e a implantação de UTI neonatal. Só falácia para os aplausos dos incautos esperançosos. 
A cova de um bebê em Ilhéus. Diante de inúmeras outras
agora é apenas estatística para Secretaria de Assistência Social
.  (Jonne Roriz/VEJA) 
No Cemitério São Jorge, no bairro Basílio, o coveiro Carlos Novais aponta para um pedaço de terra entre os túmulos e a estrada. “É aqui que a gente arruma um lugar para as crianças, porque não tem mais espaço no cemitério, não”, diz. Em um ponto mais alto, uma cruz verde indica o local onde jaz Heloísa N. de Jesus, a cova infantil mais recente preparada por Novais. Em Ilhéus na há escola com período integral, as crianças só têm acesso a um lanche (as vezes) no meio da manhã. “Muitas vezes o cardápio se resume a biscoito e suco, e essa é a principal, ou a única, refeição de boa parte delas”, afirma o vereador Makrisi Sá. 
Os gestores do município, o atual e os que passaram, flauteiam por sobre a desgraça escancarada nos obituários infantis e na dor de pais e mães desamparados. 
A taxa de desnutrição crônica no Brasil no ano passado, segundo a Fundação Abrinq, foi de 13,1% entre crianças de até 5 anos, um aumento em relação aos 12,6% de 2016. “Desnutrição e mortalidade infantil andam de mãos dadas, porque a criança malnutrida é mais vulnerável”, explica o médico sanitarista Nelson Neumann, coordenador internacional da Pastoral da Criança no Brasil. Adultos desnutridos também afetam o desenvolvimento dos filhos. “A má nutrição da mãe pode resultar em crianças menos saudáveis pela vida inteira.” 
A ocorrência de baques econômicos em um país desenvolvido não influi em sua taxa de mortalidade infantil porque o sistema de saúde funciona bem e não se desfaz com um sopro. Já em países como o Brasil, com um SUS precário e claudicante, qualquer vento adverso transforma dificuldade em tragédia. 
O que resta do Posto Sarah Kubitschek
O Programa Saúde da Família, que faz atendimento de base, perdeu 1,5 bilhão de reais entre 2015 e 2016. A verba do Rede Cegonha, que orienta mulheres durante a gestação, encolheu 18%. Em Ilhéus já não funcionava. Toda a atenção básica foi desmantelada. Os postos de saúde que não foram jogados ao chão com o D. Eduardo, na Princesa Isabel ou o Sarah Kubitschek, no Parque Infantil. Outros estão sendo “maquiados” com tinta e reboco. 
Mas o principal não existe, apesar do atual prefeito ser médico, falta copinho para “escarro” o que impede os exames para tuberculose que se alastra na cidade. Falta papel para imprimir os procedimentos, falta rede de internet (não foi paga), para a marcação, falta vergonha dos governantes de Ilhéus. 
Em paralelo, e estremecendo ainda mais as projeções para o futuro, a vacinação tanto de adultos quanto de crianças, que já rendeu prêmios ao Brasil pela abrangência, está perdendo vigor. A cobertura em crianças de até 1 ano bateu no menor nível desde 2000 e Ilhéus, não podia deixar, figura entre as cidades no Brasil com a menor taxa de cobertura vacinal. A Tetra Viral, que previne contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela, foi aplicada em 90% das crianças em 2014. Em 2016, o índice foi de apenas 70%. Uma em cada quatro cidades registra números abaixo da meta do Ministério da Saúde. 
No ano passado havia somente uma equipe de vacinadores para toda cidade. Carros quebrados com pneus carecas, motoristas despreparados, a maioria apadrinhados pelos vereadores, prefeito e cabos eleitorais ligados a casta mandatária. Os postos não funcionam a noite e na periferia não é possível sair à noite sem os riscos da violência desenfreada.

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