sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Desabafo de um agricultor

Sílvio Guerini, agricultor, município de Medianeira (PR) - Encurralar: meter em curral, encantoar em local sem saída, sem opção de escolha, perda da liberdade... É assim que está o agricultor que não deseja aderir ao plantio de organismos geneticamente modificados, no meu caso, a soja e o milho [transgênicos].
Gostaria que me permitissem um desabafo.
A agricultura - atividade milenar que fixou o homem, tirando-o do nomadismo - criou a possibilidade da civilização se desenvolver, é a pedra angular na produção de alimentos para a humanidade. Hoje é uma atividade controlada.
A produção de alimentos é entendida, ou pelo menos deveria ser entendida pelos governantes de um país, como um ponto estratégico, segurança alimentar. A nação que se autossustenta na produção de alimentos tem uma vantagem óbvia em relação às que não forem capazes.
Mas, pelo que tudo indica, nossos governantes (eu me refiro em especial aos parlamentares, congressistas que compõem a bancada ruralista) não estão dando importância para a auto-sustentabilidade e a segurança alimentar da nação. Se eu pudesse, gostaria de fazer algumas perguntas a esses parlamentares que me referi acima.
Por que depender de uma tecnologia criada por um concorrente que tem por principal objetivo o controle sobre as sementes e os agricultores e o controle sobre a produção de alimentos no mundo?
Por que deixar corporações estrangeiras ditarem as regras de um setor tão importante? Será que com todos os cientistas e mentes brilhantes que temos aqui no Brasil não seria possível encontrar uma outra solução para os problemas enfrentados pela agricultura além dessa proposta dos organismos geneticamente modificados?
Do agricultor foram tirados todos os direitos básicos elementares de optar por um ou por outro sistema de produção, de poder guardar as suas sementes, a liberdade de escolha.
Além do agricultor ter que arcar com o risco das intempéries, das mudanças climáticas e de toda má sorte que pode ocorrer desde o plantio até a colheita, ele é jogado no covil desses leões famintos que são essas mega corporações que estão nos empurrando para um brete sem saída.
E o pior, com o aval de quem deveria nos proteger. Quem deveria nos proteger são os representantes do setor agrícola no Congresso. Criando leis, mecanismos que impeçam essas corporações de fazer o que bem entendem, de fazer com que o agricultor fique cada vez mais dependente, mais endividado, mais impotente, mais desesperado, mais sem saída.
Afinal, bancada ruralista, a quem vocês estão representando mesmo?
Grato pela atenção,

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