sábado, 10 de março de 2012

Voo de galinha

JORNAL DE BRASILIA ( DF) - Os dois principais pilares sob os quais está assentada a marquise da estabilidade do governo deram uma balançada durante a semana. Nada que abale as estruturas ainda, mas o sinal amarelo está aceso na Esplanada e seus arredores. O pilar da política já foi comentado aqui ontem. No Senado, o PMDB botou as asinhas de fora e colocou para tocar a banda da insatisfação mandando para o espaço o indicado por Dilma Rousseff para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
O outro pilar - fonte de más notícias da semana - foi o anúncio do "pibinho", o crescimento de 2,7% em 2011. O jornal inglês Financial Times publicou quarta-feira, uma análise interessante classificando o pibinho de voo de galinha. "Enquanto o crescimento econômico da China segue o padrão de um condor, alçando-se a grandes altitudes nas correntes ascendentes mesmo ao passar pelo que se considera uma desaceleração, o do Brasil nos últimos anos parece o voo interrompido de uma galinha", compara o jornal.
O mundo começa a se desiludir com as perspectivas de crescimento do Brasil de Lula e Dilma Rousseff. O Financial Times traduz a desilusão: justamente quando a economia do Brasil parece prestes a decolar, ela despenca novamente na me-dida em que o superaquecimento obriga o banco central a acionar os freios. Isso é o que mostram os números do PIB de 2011. No fim de 2010, a economia brasileira estava crescente a uma taxa anual de 7,5%. O crescimento era alimentado por medidas de estímulo tomadas pelo governo em 2009 para se contrapor à recessão da crise financeira global. A isso se seguiu a prodigalidade política em 2010, ano de eleições presidenciais" analisa o jornal.
Mas com o crescimento, veio a inflação, conclui o artigo sobre as velhas mazelas da economia brasileira. "O Banco Central foi obrigado a jogar os juros para cima rapidamente, somente para descobrir, no meio do ano, que a economia, que parecia tão forte há apenas seis meses, de repente estava perdendo sustentação". De acordo com o FT, a interrupção abrupta do crescimento decorreu de uma mistura de altas taxas de juros, taxa de câmbio apreciada em relação ao dólar que derrubava a indústria local ao estimular importações baratas, e o sentimento negativo da crise do euro.
O resultado é que a galinha, que começara a parecer quase confiante no voo, em 2010, mergulhou no terceiro trimestre de 2011, quando a economia se contraiu ligeiramente. A Goldman Sachs, citada pelo FT, não aposta na recuperação esperada por Dilma Rousseff e o PT em 2012. Reduziu sua previsão de crescimento do PIB brasileiro de 3,5% para 3,1%. A galinha pode um dia virar condor, ou pelo menos uma águia? A resposta é não - pelo menos por enquanto. As ineficiências do Brasil, como seu orçamento público inchado que não consegue investir apesar de todo o gasto, impedirão o País de crescer a taxas mais altas até que alguém comece a pensar em reformas. Em resumo, de acordo com o jornal inglês, a burocracia e impostos vão manter as asas da galinha cortadas.

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