segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Ele tem feito bem todas as coisas:aos surdos faz ouvir e aos mudos falar” (Mc 7,37)

Dom Mauro Montagnoli - Bispo diocesano de Ilhéus - No Brasil, há vários anos, a Igreja Católica dedica o mês de setembro para a reflexão e o aprofundamento do conhecimento da Bíblia. É conhecido como o Mês da Bíblia. 
Muitos católicos pensam que basta participar da celebração da missa. A Igreja ensina que a liturgia “não esgota toda a ação da Igreja” (SC 9). Para se celebrar eficazmente a Liturgia, o cristão católico precisa ser primeiro evangelizado, precisa crer, precisa mudar de vida, pois “como invocação Aquele em quem não creram? E como crerão sem ter ouvido falar d´Ele? E como ouvirão, se ninguém lhes anunciar? E como se anunciará se ninguém for enviado?… (Rm 10,14-15). Importa que nos empenhemos, pessoal e comunitariamente, para um encontro com o Cristo na Palavra. Reunidos em Aparecida os nossos bispos afirmam: “A Palavra de Deus não são meras palavras. A Palavra é uma pessoa que fala e fala a outra pessoa. E, por ser pessoa, busca estabelecer uma relação…” (Discípulos e Servidores da Palavra de Deus na Missão da Igreja, Documentos da CNBB, n. 97, introdução). 
Devemos nos perguntar: na minha vida pessoal e na minha comunidade o que podemos fomentar em termos de estudo e celebração em torno da Palavra de Deus. 
Muitos católicos ainda têm grande dificuldade de participar da celebração da Palavra de Deus dirigida por leigos e leigas, ministros extraordinários da Palavra. Por que essa resistência? Há cinquenta anos da realização do Concilio Vaticano II muitos só querem a celebração da missa feita pelo padre. Pensam que a celebração apenas da Palavra não vale tanto quanto a missa. 

A Igreja sempre teve consciência de que na celebração litúrgica a Palavra de Deus é ação do Espírito Santo que opera, age no coração dos fiéis. “Na realidade, graças ao Paráclito é que a Palavra de Deus se torna fundamento da ação litúrgica, norma e sustentáculo da vida inteira” (Verbum Domini, n. 52). 
Além do mais, “os Padres sinodais exortaram todos os Pastores a difundir, nas comunidades a eles confiadas, os momentos de celebração da Palavra: são ocasiões privilegiadas de encontro com o Senhor. Por isso, tal prática não deve deixar de trazer grande proveito aos fiéis, e deve considerar-se um elemento importante da pastoral litúrgica […] a celebração da Palavra de Deus é vivamente recomendada nas comunidades onde não é possível, por causa da escassez de sacerdotes, celebrar o Sacrificio Eucarístico nos dias festivos de preceito […]” (Verbum Domini, n. 65). 
A Palavra de Deus escrita na Biblia nos aponta o caminho certo do cumprimento da vontade de Deus. Na cura do homem surdo e que falava com dificuldade (cf. Mc 7,31-37), Jesus se afastou com o homem da multidão e, num gesto sensivel, fez o milagre da cura. Interessante: Jesus se afasta dos holofotes e vai mais além: recomenda com insistência que não contassem nada a ninguém. Jesus não faz estardalhaço dos seus milagres e nem se aproveita para se tornar rei. 
Também ouvimos na Biblia que “não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que ele prometeu aos que o amam?” É este questionamento que São Tiago nos faz na sua carta, capitulo 2, versículos 1 a 5. Não é exatamente isso que Jesus expressa no seu atendimento atencioso aos doentes e pobres? É propriamente a fé em nosso Senhor Jesus Cristo glorificado que não admite acepção de pessoas. 
As injustiças e desigualdades que verificamos constantemente em nossa sociedade, as quais, muitas vezes, são até banalizadas, jamais poderão ser aceitáveis no seio das comunidades cristãs. Estas foram constituídas justamente para serem sinal de esperança para os empobrecidos e marginalizados. Por isso, não tem cabimento os preconceitos discriminatórios, praticados dentro dessas comunidades cristãs. Eles constituem pecados graves que devem ser extirpados. 

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