segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Vitória de ACM Neto aponta para mudança na política baiana

LUÍS AUGUSTO GOMES - A vitória de ACM Neto (DEM) sobre Nelson Pelegrino (PT) para prefeito de Salvador aponta para uma forte mudança na política baiana, tão significativa quanto foi a chegada ao poder, em 2006, do governador Jaques Wagner, interrompendo longa permanência do carlismo no poder.
Para constatá-lo, basta considerar as eleições majoritárias estaduais e federais dos últimos dez anos, em que a cidade, praticamente em peso, deu ao PT a maioria de votos em todos os turnos disputados, sendo quatro vezes com Lula, duas com Wagner e outras duas com Dilma.
ACM Neto e a vice-prefeita eleita Célia SacramentoNeste ano de 2012, o mesmo eleitorado oito vezes fiel resolveu inverter as coisas, preferindo um candidato que se punha exatamente do lado oposto, com votação crescente entre um turno e outro – com o agravante de que quase todos os derrotados, à exceção de um, que ficou neutro, uniram-se contra o vencedor.
Somados ao resultado de Feira de Santana, onde José Ronaldo (DEM) levou no primeiro turno, os números da capital mostram que a oposição governará, nos dois maiores municípios do Estado, 24,3% do eleitorado e 23,5% da população.
São Paulo afasta hipótese do mensalão – De forma simplista, poder-se-ia dizer que a causa do desastre soteropolitano foram o desgaste do PT com o mensalão e a queda de popularidade de Lula, por levar a extremos sua decantada capacidade de fazer e dizer o que quiser sem que nada o afete, como, por exemplo, a aliança com Paulo Maluf.
Mas essa tese desaba completamente diante da eleição de São Paulo, que é, a um só tempo, berço dos mensaleiros mais proeminentes, como Dirceu e Genoino, e reduto do PSDB, maior partido de oposição. E lá, por cima de tudo, o PT e Lula elegeram um “poste” de nome Fernando Haddad.
O que fica claro é que Nelson Pelegrino perdeu principalmente devido a erros e condutas de natureza estadual e municipal, típicos dos grupos tragados pela visão ilusória do poder quanto a sua aparência de infinitude.
Capital reagiu a longo abandono – Seguindo um roteiro iniciado por Lula em 2007, Wagner assumiu o governo da Bahia com o compromisso de “evitar pirotecnias” e apagar da memória estadual o uso inopinado da força legal – o mandonismo – que caracterizava o longo período carlista.
Inaugurou práticas de convivência desconhecidas por gerações, conquistando no atacado amplos segmentos da população e, no varejo, expressivos apoios da classe política, num pacto suficiente para renovar-lhe o mandato no pleito de 2010.
Nessa nova etapa, porém, o governo não procurou os avanços que o credenciariam além do impacto inicial, privilegiando o interesse de seus partidários no retalhamento da administração e reiterando o projeto de risco que estabelecera para a conquista de Salvador desde o quatriênio anterior, ou seja, o isolamento do prefeito João Henrique.
A máquina municipal foi usada pelos petistas em interesse de seus ocupantes, não da cidade, numa relação dúbia que, com maior ou menor intensidade, permeou os oito anos do governo de João, até a recente “honra” que Pelegrino sentiria se o prefeito o apoiasse nesta eleição.
Prefeito eleito é simbólico e real – O arremate de ouro para quem buscasse uma derrota ocorreu, desgraçadamente, no ano eleitoral, representado pela dissociação do governo de bases importantes, que o ajudaram historicamente a chegar aonde está, além do despreparo com que o Estado foi surpreendido por uma seca de décadas de ineditismo.
Ante o quadro de desgaste, o governo bancou um candidato tido como “pesado” e que já havia sido derrotado três vezes para o mesmo cargo, desprezando alternativas que poderiam ser mais palatáveis mesmo a um eleitorado insatisfeito.
Do outro lado, veio um nome ao mesmo tempo simbólico e real. De fato, ACM Neto só pode ser neto de ACM, mas sua carreira de deputado campeão de votos já sem o avô e a ascensão por mérito no cenário nacional antecipavam que seria preciso mais que a surra em Lula para derrubá-lo.
Quanto ao “trunfo” do PT que seria a denúncia da relação genética, tudo indica que saiu pela culatra. A impressão é que prevaleceu no imaginário popular um passado melhor que Salvador e a Bahia teriam tido nos governos carlistas, supostamente impregnados de dinamismo e realizações de que a capital está hoje carente.
Rejeitada a tese da subordinação – As circunstâncias negativas talvez pudessem ser neutralizadas por uma campanha propositiva, com objetivos claros e exequíveis, levados ao público a palavras comedidas, reconhecendo que não seria possível “realizar tudo”, mas transmitindo a esperança de progresso pelo trabalho de alguém que já provou compromisso com a sociedade.
Entretanto, o governo optou por um discurso megalomaníaco, de que Salvador teria, enfim, a mesma sorte do Brasil e da Bahia com a implementação do vago “projeto” petista, acrescido de uma mensagem de opressão ao eleitorado, fazendo-o saber que nada daquilo ocorreria se o eleito fosse “o outro”.
Com esse conceito, a publicidade de Pelegrino abriu um flanco que o adversário soube explorar muito bem, invocando o brio dos soteropolitanos, que, como está provado, não aceitaram o constrangimento, aliás, progressivamente agravado à medida que Dilma, Lula e até Lídice apareciam para renová-lo. 

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