segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Colômbia. Um acordo histórico de paz graças à Igreja Católica



O mais espinhoso dos cinco pontos em questão ficou no passado. Dependia dele o impacto total do acordo de paz entre o governo de Manuel Santos e das Farc da Colômbia. A guerrilha aceita o desarmamento e a sua transformação em um partido político em troca de obter um “estatuto de garantias” para o exercício da oposição e, em particular, “para os novos movimentos que surgirão depois da assinatura do acordo final”; também se obtém espaço nos meios de comunicação; reformas institucionais para facilitar a constituição de partidos políticos; garantias de transparência nos processos eleitorais; especialmente nas regiões em que há maior perigo de fraudes.
Este, em síntese, é o resultado do segundo ciclo de conversas que começaram em junho e que representa a passagem mais difícil para se chegar a um acordo em conjunto. Um resultado histórico, que poderia por um ponto final em meio século de conflito armado.

Há alguns que apontam que foi possível chegar a este acordo após o Pontificado de um Papa latino-americano. E não há dúvida de que o Papa Francisco apoiou com convicção (e desde o primeiro momento) o diálogo e a negociação bilateral que se desenvolve em Cuba. Em maio, na ocasião da canonização de Laura Montoya, a primeira santa colombiana, insistiu a este respeito com o presidente Santos; também abordou a questão com o presidente do Uruguai, José Mujica, em junho; e insistiu sobre o tema em diferentes ocasiões, ao falar com os bispos que o têm visitado durante estes meses. Além do mais, a Igreja colombiana pagou um preço muito alto pela paz, que agora poderia estar realmente próxima. Um total de 83 sacerdotes, 05 religiosas e 03 religiosos foram assassinados, de 1984 até o momento, e com eles um grande número de catequistas.
No entanto, nunca se cedeu à ilusão de uma solução militar, nem nos anos 1990 (quando o projeto de guerrilha era presente em grandes porções do país e estava se expandindo), nem durante a primeira década do século XXI, após a morte de Manuel Marulanda Vélez, o “Tirofijo”, líder das Farc.

Um dia antes do anúncio histórico, na terça-feira, 06 de novembro, na sede do episcopado colombiano, o cardealRubén Salazar Gómez apresentou um texto de 92 páginas com os chamados “Oito pontos para um acordo nacional”. O texto foi o fruto de uma ampla consulta que começou em 2009 e na qual se envolveu as realidades sociais, econômica, política e acadêmica do país. O documento indica as condições necessárias para uma reconciliação e para se chegar a uma paz estrutural e permanente, o que representou, de alguma maneira, certa pressão sobre as partes que negociavam em Cuba. É importante notar que o conteúdo dos oito pontos acabou se incorporando no acordo de Havana.
Superado o obstáculo com o maior peso político, as delegações do governo e da guerrilha decidiram fazer uma pausa de 10 dias para a reflexão. Em seguida, começará a discussão sobre o terceiro ponto, a respeito das drogas ilegais, sobre o qual se falará acerca de indenização das vítimas do conflito, antes de se definir os mecanismos para submeter a um referendo o texto do acordo final.

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