José Antonio Pagola |
Geralmente não sabemos como relacionar-nos com os nossos
entes queridos que já morreram. Durante um tempo vivemos com o coração desolado,
chorando o vazio que deixaram em nossa vida. Depois, pouco a pouco, vai
diminuindo a dor da separação e acabamos nos conformando e esquecendo nossos
falecidos. Chega um dia em que eles dificilmente significam algo em nossa vida.
Está muito difundida a ideia de que os defuntos são seres
etéreos, despersonalizados, com uma identidade vaga e difusa, isolados em seu
mundo misterioso, alheios ao nosso carinho. Às vezes se diria que pensamos como
os antigos judeus, quando falavam da existência dos mortos no sheol, separados
do Deus da vida.
Mas, para um cristão, morrer não é perder-se no vazio, longe
do Criador. É precisamente entrar na salvação de Deus, compartilhar sua vida
eterna, viver transformados por seu amor insondável. Nossos defuntos não estão
mortos. Vivem a plenitude de Deus que preenche tudo, que tudo encerra.
Quando nossos entes queridos morreram, ficamos privados de
sua presença física, mas ao viver atualmente em Deus, penetraram de forma mais
real em nossa vida. Não podemos desfrutar de seu olhar, nem escutar sua voz,
nem sentir seu abraço. Mas podemos viver sabendo que nos amam mais do que
nunca, pois nos amam a partir de Deus.
A vida deles é incomparavelmente mais intensa do que a nossa.
Sua alegria não tem fim. Sua capacidade de amar não conhece limites nem
fronteiras. Não vivem separados de nós, mas muito mais dentro de nosso ser do
que nunca. Sua presença transfigurada e seu carinho nos acompanham sempre.
Não é uma ficção piedosa viver uma relação pessoal com nossos
entes queridos que já vivem em Deus. Podemos caminhar envoltos por sua presença,
sentir-nos acompanhados por seu amor, gozar com sua felicidade, contar com seu
carinho e apoio; podemos inclusive comunicar-nos com eles em silêncio ou com
palavras, nessa linguagem, nem sempre fácil, mas profunda e entranhável, que é
a linguagem da fé.
Nossos falecidos já não vivem entre nós, mas não os perdemos.
Não desapareceram no nada. Podemos amá-los mais do que nunca, pois vivem em
Deus. É Jesus que sustenta nossa fé: "Eu sou a ressurreição e a vida: quem
crê em mim, ainda que esteja morto, viverá". Um dia, todos juntos
ressuscitaremos com Cristo para sempre.
(O caminho aberto por Jesus – João, Petrópolis RJ, Vozes,
2013, p. 169)
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