segunda-feira, 7 de abril de 2014

Mais queridos do que nunca

José Antonio Pagola
Geralmente não sabemos como relacionar-nos com os nossos entes queridos que já morreram. Durante um tempo vivemos com o coração desolado, chorando o vazio que deixaram em nossa vida. Depois, pouco a pouco, vai diminuindo a dor da separação e acabamos nos conformando e esquecendo nossos falecidos. Chega um dia em que eles dificilmente significam algo em nossa vida.
Está muito difundida a ideia de que os defuntos são seres etéreos, despersonalizados, com uma identidade vaga e difusa, isolados em seu mundo misterioso, alheios ao nosso carinho. Às vezes se diria que pensamos como os antigos judeus, quando falavam da existência dos mortos no sheol, separados do Deus da vida.
Mas, para um cristão, morrer não é perder-se no vazio, longe do Criador. É precisamente entrar na salvação de Deus, compartilhar sua vida eterna, viver transformados por seu amor insondável. Nossos defuntos não estão mortos. Vivem a plenitude de Deus que preenche tudo, que tudo encerra.
Quando nossos entes queridos morreram, ficamos privados de sua presença física, mas ao viver atualmente em Deus, penetraram de forma mais real em nossa vida. Não podemos desfrutar de seu olhar, nem escutar sua voz, nem sentir seu abraço. Mas podemos viver sabendo que nos amam mais do que nunca, pois nos amam a partir de Deus.

A vida deles é incomparavelmente mais intensa do que a nossa. Sua alegria não tem fim. Sua capacidade de amar não conhece limites nem fronteiras. Não vivem separados de nós, mas muito mais dentro de nosso ser do que nunca. Sua presença transfigurada e seu carinho nos acompanham sempre.
Não é uma ficção piedosa viver uma relação pessoal com nossos entes queridos que já vivem em Deus. Podemos caminhar envoltos por sua presença, sentir-nos acompanhados por seu amor, gozar com sua felicidade, contar com seu carinho e apoio; podemos inclusive comunicar-nos com eles em silêncio ou com palavras, nessa linguagem, nem sempre fácil, mas profunda e entranhável, que é a linguagem da fé.
Nossos falecidos já não vivem entre nós, mas não os perdemos. Não desapareceram no nada. Podemos amá-los mais do que nunca, pois vivem em Deus. É Jesus que sustenta nossa fé: "Eu sou a ressurreição e a vida: quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá". Um dia, todos juntos ressuscitaremos com Cristo para sempre.

(O caminho aberto por Jesus – João, Petrópolis RJ, Vozes, 2013, p. 169) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário