quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Uma porta aberta para todos e proximidade aos divorciados

Entrevista com Víctor Manuel Fernández - "Não, pelo que eu o conheço, não acho que o Santo Padre esteja preocupado. Ele sabe que as coisas amadurecem ao seu tempo..." O arcebispo Víctor Manuel Fernández, de 52 anos, sorri serenamente na entrada do Sínodo. Reitor da Universidade Católica Argentina, é um teólogo e colaborador de Bergoglio desde os tempos de Buenos Aires. Francisco o nomeou para a comissão que vai escrever o relatório final.

Eis a entrevista.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera

Como o senhor vê a situação?

O papa gosta de que se fale com sinceridade. Um dos seus princípios é que "o tempo é superior ao espaço". Aquilo que agora não se pode ver com clareza se verá melhor depois. O essencial é que os processos comecem, caso contrário não se chega nunca.

E então, excelência?

Talvez algumas coisas amadurecerão no Sínodo de 2015, talvez nem lá. Mas algumas surgiram já agora com um consenso bastante importante.

Emerge uma ideia de Igreja que "escuta" o presente e as suas feridas...

Sim, a ideia central de que a Igreja é uma família com a porta sempre aberta a todos e devem ser buscados os caminhos para que todos se sintam acolhidos, apesar dos seus problemas. Eu diria que é uma consciência geral. Podem ser poucos, cinco ou seis, aqueles que insistem para que as coisas nunca mudem. Além disso, por exemplo, ninguém pode dizer que se queira tirar a doutrina da indissolubilidade.

É uma objeção clássica...

Mas nós sabemos como é grande e belo o valor do matrimônio, todos nós concordamos! Estamos falando de outra coisa: de estar perto de quem sofreu um fracasso, de quem não consegue cumprir totalmente a norma da Igreja, mas busca fazer o bem possível na sua própria situação, quer crescer, é sincero e ama a Deus.

A famosa "gradualidade"?

Os teólogos a entendem de modos diferentes, por isso prefiro falar daquilo que o Catecismo diz: mesmo nas situações objetivamente "imorais", a responsabilidade das pessoas é diferente, há circunstâncias atenuantes. E então há um bem possível, a contabilidade não é a mesma para todos.
O Catecismo não está em discussão, mas sobre as consequências é possível discutir. Tomás de Aquino, na Summa Theologica, também dizia que a vontade de Deus se torna cada vez mais obscura quanto mais se desce aos pormenores. Qual é a Sua vontade na situação concreta? O ideal do Evangelho tem uma plenitude a que tentamos chegar. Nas situações reais, cada um faz o que pode naquele momento da sua vida.

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