segunda-feira, 10 de junho de 2019

O lixo e a saúde pública de Ilhéus

Tatiani V.Harvey 
Médica Veterinária 
Doutora em Parasitologia/UESC
CRMV/BA 04034
Infelizmente, uma das lembranças do turista que visita a nossa Cidade Romance é a presença de lixo disperso nos ambientes urbanos e rurais, principalmente nos povoados costeiros. No entanto, é preciso entender que este não é apenas um problema de gestão pública. A negligência com o lixo, inicia-se, em boa parte, dentro dos próprios domicílios, tornando-se, assim, um problema cultural. 
Teoricamente, um habitante gera 0,600 Kg de lixo/dia. Assim, Ilhéus gera, aproximadamente, 110 toneladas de lixo/dia. E você já parou pra pensar no que compõe este lixo? O lixo disperso em pontos de coleta dentro dos bairros, ou dos pequenos lixões presentes nas comunidades rurais, ou dentro dos quintas, contém resíduos orgânicos que favorecem o desenvolvimento, a manutenção e a propagação de microorganismos causadores de enfermidades em populações humanas e animais. O lixo contém restos de alimentos, secreções, fezes, urina e similares, atraindo animais de rua, insetos, roedores, cobras, etc, os quais passam a compor o ciclo de transmissão de diversas doenças. Desta forma, o lixo torna-se um componente importante do perfil epidemilógico das comunidades ilheenses. Ou seja, ele é um facilitador das infecções e infestações. 
Entre as doenças que podem ser veiculadas, direta ou indiretamente, pelo lixo incluem-se as doenças diarreicas, as verminoses, a toxoplasmose, a hantavirose, a leptospirose, a peste bubônica e as inúmeras doenças transmitidas por mosquitos. Além disso, o processo de fermentação dos resíduos orgânicos produz gases tóxicos e o chorume, que contamina o solo e os mananciais superficiais e subterrâneos, interferindo, inclusive, no desenvolvimento das plantas e na produção de alimentos. Aqui, também, podemos refletir sobre a origem e qualidade da água que compramos, ou que é entregue pelas centrais de abastecimento. 
Enfim, o lixo polui o ar, a água e solo. E as discussões sobre como este problema deveria ser gerido inexistem, ou não têm sido produtivas. Talvez, porque se discuta somente a postura municipal. Obviamente, problemas intrínsecos à cultura são desafios a longo prazo. Sendo assim, precisamos, refletir sobre a nossa própria conduta diante deste problema. O que eu estou fazendo e como posso contribuir pra resolver o problema do lixo na minha comunidade? Contudo, eu bato novamente na tecla da Educação Sanitária e na junção de forças entre os gestores de saúde, universidade e grupos sociais no planejamento e na execução de ações viáveis para mitigar este problema. 

Aos interessados, recomendo o livro Gerenciamento do Lixo Urbano, da Editora UFV.

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