quinta-feira, 18 de julho de 2019

O descaso com os Postos de Saúde das comunidades rurais

Tatiani V.Harvey 
Médica Veterinária 
Doutora em Parasitologia/UESC

CRMV/BA 04034
Você deve estar se perguntando sobre o porquê de uma Veterinária querer tratar deste tema. Bom, porque nós veterinários, além de sermos comprometidos com o zelo pela saúde animal, temos uma tarefa, não menos importante, de zelar pela saúde pública. Hoje, é fato que a busca de soluções na área de saúde depende fundamentalmente da visão integrada da saúde humana, animal e ambiental. 
É nos postos de saúde, os quais têm a função de atender as pessoas na região onde moram ou trabalham, que ocorre o primeiro contato com o paciente. Onde é dada a atenção básica ao indivíduo e onde são passadas, por exemplo, as primeiras orientações sobre o controle de doenças, como as transmitidas pelos animais. 
Mas, o que direcionou minha coluna para este tema, nesta semana, foi a notícia de que o Posto de Saúde do povoado de Pimenteira não recebe um médico desde 2016. Acredito que muitos leitores nem sabem da existência deste povoado, ou nunca tenham passado por lá. Durante um trabalho que desenvolvi naquela comunidade, além de detectar um grande número de crianças com doenças diarreicas, recebi uma avalanche de queixas sobre o descaso com o posto de saúde local, fato que pude presenciar. Saliento, que muitos moradores desta comunidade nunca saíram dali e dependem do atendimento à saúde que é prestado no local.
Na verdade, a ausência, a desativação e a infraestrutura decadente de postos de saúde é a realidade da grande maioria das comunidades rurais de Ilhéus. No Distrito de Aritaguá, o posto de saúde do povoado da Juerana não tem geladeira ou autoclave, por exemplo. Mas, as queixas vão muito além da falta de infraestrutura, equipamentos ou medicamentos. Segundo os moradores de diversas comunidades, a falta de humanidade por parte de alguns médicos, enfermeiros e agentes de saúde compõe o perfil do atendimento recebido em muitos locais. E deixo aqui meu testemunho do descaso e despreparado de vários agentes de saúde, o que foi percebido ao longo de vários meses numa pesquisa pelos distritos de Ilhéus. A seleção de agentes deveria passar primeiro pela avaliação da capacidade de lidar com o público. Ao meu ver, especialmente nas comunidades rurais, a presença e a postura do agente de saúde são extremamente importantes, pois ele é o elo fundamental entre o paciente e a Vigilância Epidemiológica.
É fato que a equidade e a integralidade, dois dos princípios do SUS, são negligenciados constantemente num grande número de municípios brasileiros. Inclusive, em lugares em que os gestores são da área da saúde. Que ironia, não?! No entanto, alguns postos de saúde, em Ilhéus, funcionam adequadamente. Porém, em área urbana! Dos distritos rurais, o posto de saúde do povoado de Banco Central é um exemplo. Mas, e o restante? É menos importante? Onde estão os administradores na hora de levantar bandeiras pelos seus postos de saúde? Aliás, quem elege os administradores?

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