sexta-feira, 5 de julho de 2019

Verminoses podem causar alterações oculares?

Tatiani V.Harvey 
Médica Veterinária 
Doutora em Parasitologia/UESC
CRMV/BA 04034
Você já parou para pensar em quantas pessoas com problemas oculares você encontra, diariamente? E alguma vez você se perguntou se uma das causas poderia ser verminose? Parou para pensar em quantos médicos cogitam esta causa? Bom, a partir de agora reflita sobre esta possibilidade. 
Sim, verminoses podem causar diversos tipos de alterações oftalmológicas. No entanto, hoje, comentarei com vocês a respeito do Toxocara, um parasita que tem sido negligenciado há tempos e, atualmente, é uma das grandes preocupações para a saúde pública no mundo, na América Latina e no Brasil. E tem um impacto socioeconômico importante, especialmente, sobre comunidades carentes e áreas rurais. 
A toxocaríase humana decorre, principalmente, da ingestão de ovos de Toxocara presentes em comida, água e solo contaminados. Pode ocorrer, também pelo consumo de carne malcozida de animais como boi, carneiro, frango e caça. E uma outra via importante de transmissão é a ingestão de ovos presentes nos pelos de cães e gatos! Este parasita se desenvolve no intestino de cães e gatos e seus ovos são liberados nas fezes, contaminando o ambiente e a pelagem destes animais. Saliento, então, a importância do hábito de lavar as mãos após o contato com o solo e com os animais de estimação. Um outro fato importante é que este é um dos três parasitas mais comumente encontrados em ruas, praças, áreas recreacionais e praias do nosso país.
No homem, Toxocara não se desenvolve em forma adulta no intestino. A larva do parasita penetra na parede intestinal, ganha a circulação sanguínea e dissemina-se por diversos órgãos, causando quatro diferentes formas da doença, sendo uma delas a Toxocaríase Ocular. Neste caso, as manifestações clínicas, predominantemente unilaterais, podem ser estrabismo, déficit ou perda visual, opacidade vítrea, massa retiniana, descolamento de retina, catarata, endoftalmite, uveíte, lesões retinianas, etc. 
Pesquisando o parasita em fezes de cães dos 10 distritos de Ilhéus, encontrei o parasita nos povoados de Couto, Sapucaeira, Itariri, Juerana e Inema. Todos os cães infectados acessam as ruas livremente e tinham contato com crianças. Houve um caso em que o tutor permitia que seus dois cães, os quais estavam infectados, dormissem na cama com ele. Imagine o tamanho do risco de pegar a doença? Numa palestra que ministrei no povoado de Pimenteira, um dos tutores, disse não imaginar que cães pudessem transmitir doenças extraintestinais. E isso é muito sério! 
O conhecimento das parasitoses circulantes e da distribuição geopolítica destas infecções, especialmente as transmitidas pelos animais de estimação, é importantíssimo. Não apenas para veterinários, mas para os médicos, especialmente os pediatras, os quais podem passar a incluir as verminoses detectadas nos seus protocolos de diagnóstico diferencial.a

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