terça-feira, 27 de agosto de 2019

Saúde: assumir a realidade é fundamental para traçar estratégias e ter eficácia

Tatiani V.Harvey 
Médica Veterinária 
Doutora em Parasitologia/UESC
CRMV/BA 04034
Fico feliz em ver que o setor de saúde tem recebido atenção aqui em Ilhéus. Apesar de ter chegado quase no final da gestão do atual governo, esta nova visão de gestão em saúde precisa e deve enraizar-se. A readesão ao Programa Saúde na Escola, a inauguração da Unidade Básica de Saúde Sarah Kubitscheck e o apoio à nova Coordenação da Unidade de Vigilância de Zoonoses são ótimas notícias para o cidadão frustrado com a negligência com a Saúde Humana, Animal e Pública. 
E, como veterinária e agente de prevenção de doenças zoonóticas, bato palmas para a SESAU pela iniciativa de realizar um diagnóstico situacional da condição do atendimento à saúde nos povoados que sofrerão os impactos sociais e ambientas decorrentes do desenvolvimento gerado pela implantação do Porto Sul. E, como pesquisadora, saliento que conhecer e entender a realidade destas localidades será fundamental para a definição de estratégias efetivas para o atendimento das demandas provenientes do processo de expansão em torno do Porto Sul. 
Esta área inclui os povoados de Aritaguá, Juerana, Sambaituba e Ponta da Tulha, nos quais tive a oportunidade de vivenciar realidades distintas durante o desenvolvimento e execução de algumas pesquisas. Especialmente, a comunidade da Juerana. Nessa condição, sinto-me à vontade para contribuir com algumas observações que fiz e imortalizei no meu Diário de Campo. 
Primeiro, saliento que todas essas comunidades pertencem ao Distrito de Aritaguá, que similarmente aos Distritos de Olivença e Sede Municipal, apresentou a maior diversidade de parasitas entéricos em crianças e cães, além da maior sobreposição de parasitoses entéricas, no nosso município. E, resgatando características comuns entre estes locais, destaco: muitos domicílios e peridomicílios em condições precárias de higiene; uso do rio para realizar atividades domésticas e lazer; descaso e coleta irregular do lixo; postos de saúde em decadência; um grande número de cães e gatos semidomiciliados; ruas sem pavimentos, altamente contaminadas com fezes caninas; despejo de esgoto no Rio Almada; uso e consumo de água não tratada; adultos e crianças habituados a andar descalços; manejo inadequado de animais de produção; cães em péssimas condições clínicas; muitos analfabetos; muitos desempregados; pequenos empreendedores necessitando de capacitação em gestão e sanidade; inúmeros relatos de infestações e infecções parasitárias em humanos e animais; e por aí vai...Este é o retrato, sem filtro, da área que está sendo foco do Núcleo de Saúde do Trabalhador e do Departamento de Atenção Básica. Este retrato nos conduz aos pontos críticos que devem ser trabalhados e estudados, considerando, fundamentalmente, a ecologia intrínseca ao perfil estuarino e de proteção ambiental desta área. Este é o tipo de visão e abordagem que permitem resultados mais eficazes sobre a saúde das populações humanas e animais. Espero que estas observações sejam bem vidas! Chamo a atenção para o fato que este foi um retrato viabilizado pela pesquisa, pela UESC. Por que digo isso? Porque o município precisa apreender e andar de mãos dadas com os pensamentos mais modernos da gestão em saúde. Hoje, a integração de todos os setores que produzem e impactam no desenvolvimento é imprescindível para gerar efeitos positivos na gestão de problemáticas sociais e ambientiais.

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