sexta-feira, 27 de março de 2020

Aritaguá clama por empatia, também.

Dra. Tatiani Harvey
Médica Veterinária - Parasitologista
 @dra_tatiani_harvey
Empatia – esta é a palavra que norteia o coração de cada brasileiro, neste período de crise. Vivemos o momento do “um por todos e todos por um”. Muitos entendem, agora, que viver em comunidade é, também, zelar pelo outro. E enxergam, finalmente, que a saúde de cada um depende da saúde do próximo. 
É esta perspectiva que precisamos manter depois que tudo acalmar, pois as fraquezas individuais e coletivas perpetuam-se no contexto de outras enfermidades que afligem grande parte da população do país, há muitos anos. Não esqueçamos que grande parte das doenças que circulam no Brasil são resultado do desinteresse da administração pública em sanar problemas básicos de higiene e que resultam da precariedade sanitária e econômica de muitas comunidades. Quantos de nós continuaremos indiferentes agora? 
Continuando as colunas sobre as condições sanitárias dos distritos de Ilhéus, aponto alguns dos muitos problemas do Distrito de Aritaguá, composto por várias comunidades que necessitam de muitas intervenções, e não apenas em saúde. 
A água de má qualidade e a falta de esgoto sanitário são as principais reclamações dos moradores que forneceram dados para esta coluna. A maioria das comunidades recebe água de represas, que não recebem cuidado sanitário adequado. Muitas fossas são construídas sem preocupação ambiental, o que culmina na contaminação de lençóis d’água e resulta no ciclo vicioso das doenças entéricas em homens e animais. Há muitos dejetos humanos sendo jogados em valas dentro das matas. 
Muitos dejetos de animais facilitando a dispersão de parasitas nas ruas. O recolhimento semanal do lixo é insuficiente. Há pontos de descarte de lixo mal manejados pela população, e isso atrai animais domésticos e insetos que podem, então, levar doenças para dentro dos domicílios. Meu último estudo mostrou que Aritaguá é um dos três distritos com maior ocorrência e diversidade parasitária intestinal do município. Tanto em crianças, quanto em cães, albergando zoonoses importantes. 
Quanto ao serviço dos postos de saúde, há diversas queixas que vão desde o sucateamento dos postos de saúde e o atendimento médico e de enfermagem insuficiente e, muitas vezes, indiferente. O povoado de Aritaguá, por exemplo, precisa deslocar-se ao atual Distrito de Sambaituba para marcar exames médicos e atender reuniões escolares fora do local de estudo dos alunos. 
O setor de educação também causa muita frustração na população. No povoado da Juerana, os alunos não têm água para tomar na escola. E a merenda, quando chega, não é suficiente para atender um mês. 
Um outro problema preocupante é o descaso com o cemitério de Aritaguá, que atende várias comunidades. O local é negligenciado há anos e vem sendo chamado de local de desova de cadáveres. Vista grossa? 
Enfim, com certeza os administradores destes locais estão solidários com a crise do coronavírus, apesar da política ser o estímulo real de alguns. A população precisa lembrar disso depois da COVID-19, e cobrar, fervorosamente, pela mesma empatia. 

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