segunda-feira, 20 de abril de 2020

Vitamina D, aliada essencial contra a Covid-19

Wellington Vieira Alves 
(graduação em enfermagem e
pós-graduação em saúde coletiva) 
O afastamento social, o não compartilhamento de objetos pessoais e os hábitos de higiene pessoal, tais como lavar as mãos frequentemente com sabão em água corrente e não tocar na boca, no nariz e nem coçar os olhos com as mãos sujas, são medidas essenciais que visam impedir a infecção do indivíduo e a propagação do novo coronavírus (SARS-Cov-19). Mas, sempre existe a possibilidade de algum desses mecanismos falhar e a pessoa em algum momento se infectar. Caso ocorra uma infecção, a Covid-19 poderá manifestar-se como uma gripe leve ou evoluir para um quadro de pneumonia. 
Como ainda não há um medicamento específico para combater o SARS-Cov-19 e nem há uma vacina, o que protegerá cada indivíduo será a capacidade de reação do nosso sistema imunológico inato, o qual determinará se teremos apenas sintomas leves ou uma evolução para um quadro grave. Pois, quando o nosso sistema imunológico está devidamente fortalecido e regulado, assim que esse sistema detecta a presença do vírus em nosso organismo, ele começa um eficiente ataque e, em alguns dias, consegue eliminá-lo. Porém, quando esse sistema de defesa está enfraquecido e desregulado, o vírus consegue se multiplicar em uma velocidade muito grande e, ao alcançar nossos pulmões, poderá iniciar um quadro de pneumonia, levando a pessoa a precisar de atendimento hospitalar. 
Então, para sairmos vitoriosos dessa e de outras infecções, é fundamental que o nosso sistema imunológico esteja funcionando adequadamente. Para isso, precisamos manter uma rotina saudável de sono, em quantidade e qualidade. Devemos afastar os pensamentos negativos e valorizar os positivos para evitar o estresse emocional e também, adquirir uma rotina de prática de exercícios físicos. A nossa alimentação deve ser a mais variada possível e com alimentos nutritivos, tais como: feijão, arroz integral, saladas, verduras cruas, verduras cozidas e folhas verdes cruas. Os temperos devem ser naturais, tais como: alho, cebola, açafrão (cúrcuma), salsa, alecrim, hortelã, pimenta, canela e gengibre. Ingerir frutas vermelhas, ovos, sardinha, coco seco, limão, cenoura, batata doce, aimpim, etc. Devemos também manter o nível adequado de vitamina D no nosso organismo, que na verdade não é uma vitamina, trata-se de um hormônio esteróide que, em sua forma ativa no nosso organismo, é chamado de calcitriol. 
Segundo a pesquisadora Cláudia Marques, reumatologista com doutorado em Saúde Pública, "o efeito da vitamina D no sistema imunológico se traduz em aumento da imunidade inata" e "regulação da imunidade adquirida"(referência 1), tornando-o mais eficiente no combate aos invasores patogênicos, sejam bactérias, vírus ou fungos. Em um artigo publicado no Journal of Clinical Virology, os pesquisadores afirmaram que "as experiências de cultura celular sustentam a tese de que a vitamina D tem efeitos antivirais diretos, particularmente contra vírus envelopados" (ref. 2). O SARS-Cov-19, causador da Covid-19, é um vírus envelopado. Um outro mecanismo de ação da vitamina D é a "indução de catelicidinas e defensinas que podem reduzir as taxas de replicação viral e reduzir as concentrações de citocinas pró-inflamatórias" que, segundo os pesquisadores, "produzem a inflamação que prejudica o revestimento dos pulmões, levando à pneumonia" (ref.3). 
Pessoas que possuem deficiência de vitamina D correm um maior risco de desenvolver "infecções virais, como influenza, infecções do trato respiratório e vírus da imunodeficiência humana (HIV)" (ref. 4). Além de ter propriedades antiviral, a "vitamina D" também possui propriedades anticarcinogênicas, ou seja, contribui na prevenção de vários tipos de câncer (ref.5). Há também um crescente número de evidências que associam a deficiência de vitamina D materna, no período gestacional, com distúrbios do desenvolvimento neurológico, como esquizofrenia e transtorno do espectro autista nos filhos e filhas (ref.6). Em um estudo publicado no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, as mulheres que foram tratadas para deficiência de vitamina D diminuíram em 55% as chances de desenvolverem pré-eclâmpsia, diabetes mellitus gestacional e parto prematuro, as três principais complicações da gravidez (ref. 7). 
A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica - Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), indicam que os valores laboratoriais do nível de vitamina D, 25(OH)D, na corrente sanguínea, desejáveis para população saudável (até 60 anos), devem estar acima de 20 ng/mL. Essas associações também recomendam os valores entre 30 e 60 ng/mL para as pessoas em situações que caracterizam os grupos de risco para deficiência de vitamina D. Dentre outras, fazem parte desses grupos as pessoas portadoras de câncer, diabéticos, idosos, gestantes, pessoas em terapia com glicocorticoides e que possuem alta pigmentação da pele (ref. 8). A maioria dessas pessoas também estão entre os grupos considerados como maior risco de evoluir para a forma grave da Covid-19. 
A vitamina D é produzida na nossa pele quando ela é diretamente exposta à radiação Ultra Violeta tipo B (UVB), presente na luz do Sol entre as 10 horas da manhã até as 16 horas da tarde. Nosso organismo pode produzir de 10.000 à 25.000UI (Unidade Internacional) por dia, quando uma pessoa jovem e com a pele mais clara se expõe ao sol intenso durante 15 a 20 minutos (ref. 9 e 10), ou quando uma pessoa jovem e com a pele mais escura se expõe ao sol intenso durante 20 à 40 minutos, sem protetor solar. O tempo maior de exposição quando a pele é mais escura, é por causa da maior presença de melanina, que age como um protetor solar natural e assim dificulta a produção da vitamina D na pele, sendo esse o principal motivo que leva as pessoas, com a pele mais escura, a terem concentrações mais baixas de vitamina D (ref. 11). 
Mas para quem não consegue dispor de 15 à 40 minutos de exposição solar diariamente, outra forma de adquirir quantidades suficientes de vitamina D é através de suplementação oral, prescrita por profissionais da área médica ou da área de nutrição. Um artigo publicado na revista Nutrient, assinado por sete pesquisadores, recomenda a suplementação diária com 10.000UI de vitamina D por algumas semanas, seguidas por doses de 5.000UI por dia, para pessoas em risco de infecção por influenza ou COVID-19, objetivando alcançar níveis de 40 a 60 ng/mL (ref. 3). Em um estudo com 3.667 pessoas, os pesquisadores constataram que "a dose suplementar que garantiu que 97,5% dessa população atingisse um soro 25 (OH) D de pelo menos 40 ng/mL foi de 9.600 UI/dia" (ref. 12). Em um artigo publicado em 2013, pesquisadores brasileiros já sinalizavam que "doses fisiológicas deve ser mais próximos daqueles alcançados através de alguns minutos de exposição diária da pele à luz solar" (ref.13), (em torno de 10.000 à 25.000 UI). Dentre esses pesquisadores estava o PhD, neurologista e professor do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo, Dr. Cícero Galli Coimbra, criador do Protoclo Coimbra. 
Em um estudo com pacientes adultos, criticamente doentes com insuficiência respiratória e internados em UTI sob ventilação mecânica, de dois hospitais de Atlanta, Geórgia, os pesquisadores constataram que os indivíduos que receberam placebo tiveram um tempo médio de internação de 36 dias e concentração plasmática média de 25 (OH) D de 21 ng/mL. Já os indivíduos que receberam 100.000 UI de vitamina D3 por cinco dias consecutivos (totalizando 500.000 UI), tiveram um tempo médio de internação de 18 dias e concentração plasmática média de 25 (OH) D de 55,2 ng/mL já no sétimo dia após a administração da primeira dose (ref. 14). 
As diretrizes que estabelecem 20 ng/mL de vitamina D na nossa corrente sanguínea, como suficientes, "se concentram especificamente na saúde óssea" (ref. 15). Entretanto, como pode ser visto nos estudos já citados, a concentração plasmática igual ou acima de 40 ng/mL confere melhores resultados para as outras inúmeras funções da vitamina D. Sendo assim, para que o sistema imunológico inato funcione de forma mais eficiente para combater o SARS-Cov-19 e outras viroses é imprescindível que a concentração plasmática de vitamina D esteja acima dos 40 ng/mL. Principalmente para os profissionais de saúde que trabalham na linha de frente, correndo o risco de serem infectados com uma carga viral maior e, também para as pessoas dos grupos considerados de risco. Nesse contexto, torna-se de fundamental importância que as demais recomendações que visam fortalecer o nosso sistema imunológico sejam consideradas. 
Nenhuma vitamina ou hormônio possui mais estudos publicados do que esse poderoso hormônio que, erroneamente, é chamado de vitamina. Ao digitar "vitamin d" na página do Google Acadêmico, apareceram 2.160.000 trabalhos científicos publicados. Ao digitar "vitamin d" immunity, apareceram 155.000 estudos sobre vitamina D e imunidade. Portanto, as ações dessa "vitamina" sobre o sistema imunológico são comprovadas através de uma quantidade satisfatória de embasamento científico. 

REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS 

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