domingo, 14 de junho de 2020

A cumplicidade entre a cartografia e a Saúde Pública


Dra. Tatiani V. Harvey
Médica Veterinária
Mestre e Doutora em Ciência Animal
Ênfase em Doenças Parasitárias



No dia 08 de junho, tive a satisfação de prestigiar uma palestra online do vice-prefeito de Ilhéus, José Nazal, sobre a releitura dos limites territoriais do município, bem como da nova configuração de suas ruas urbanas e rurais, e respectiva codificação postal. A palestra foi direcionada aos alunos de pós-graduação em Ciência Animal da disciplina de Geoprocessamento e Epidemiologia e convidados, ministrada pela professora Dra. Anaiá Sevá. 
Mas, qual a relevância deste tema dentro de uma coluna que aborda questões de Saúde Pública? Aqueles que me acompanham nesta empreitada lembram que numa das minhas pesquisas precisei acessar 40 comunidades rurais e sedes distritais ilheenses. Esta tarefa traduziu-se num desafio enorme, inicialmente, durante o delineamento do meu estudo, pois eu teria que localizar povoados que eu não conhecia e/ou nem imaginava que existiam dentro do município. Especialmente, por não ser da região. Na época, todas as autoridades administrativas da gestão municipal que procurei, inacreditavelmente, não conheciam o território e suas divisões administrativas. Alguns nem sabiam o número de distritos ou, até mesmo, o conceito de um. Lembro que, ao sair da Câmara de Vereadores e da Secretaria de Planejamento refleti sobre a mesma pergunta: Como são planejadas quaisquer ações, seja no âmbito da economia ou saúde, por exemplo, se o próprio governo não conhece o chão que pisa? Foi aí, que graças ao bom Deus, alguém me colocou em contato com Nazal. E minha missão pode, então, ser cumprida. E pude demonstrar, espacialmente, as áreas de maior ocorrência e sobreposição de zoonoses entéricas dentro de Ilhéus, bem como identificar as áreas que deveriam receber ações preventivas e de controle destas doenças, prioritariamente. 
O conhecimento dos limites administrativas de qualquer localidade e a definição precisa e clara dos seus logradouros são fundamentais para o planejamento de ações de Saúde Pública. Tanto a nível de governo, quanto a nível acadêmico. E aqui coloco ênfase nas ferramentas espaciais e nos Sistemas de Informações Geográficas. E enfatizo que são escassos os administradores que visualizam as implicações e benefícios da tecnologia do geoprocessamento dentro da gestão de qualquer setor público. Felizmente, o vice-prefeito de Ilhéus tem esta visão. 
Segundo a ONU, a cartografia é a ferramenta que antecede quaisquer outras em termos de administração pública, pois são as bases cartográficas que alicerçam os cadastros técnicos municipais, os quais fundamentam os projetos públicos. Em termos de Saúde Pública, esta base de dados, precisa e constantemente atualizada, permite a realização de estudos ecológicos mais precisos, especialmente, aqueles que integram a modelagem estatística. 
Como outros exemplos da importância do geoprocessamento para a vigilância de doenças cito o estudo sergipano que utilizou ferramentas espaciais para investigar a distribuição de diarreia aguda e enteroparasitoses em crianças carentes vacinadas contra Rotavírus no Município de Laranjeiras, e o trabalho da Dra. Anaiá Sevá que, através da análise espacial, permitiu a compreensão e identificação dos fatores que influenciavam a dispersão da leishmaniose visceral no Estado de São Paulo, dentre eles a paisagem, as condições climáticas e fatores econômicos. 
O fato é que Ilhéus terá um ganho imensurável com a regularização da base cartográfica municipal, pois além de favorecer a economia local, o setor de saúde pública tem nas mãos, agora, uma base mais sólida para dar suporte a ações mais eficazes de prevenção e combate às doenças, endêmicas ou não, na população humana ou animal de Ilhéus. Além disso, a utilização do geoprocessamento e análise espacial a nível administrativo favorecerá a identificação de padrões de propagação de doenças, bem como de taxas mortalidade ou morbidade, dentro do tempo e do espaço, além de proporcionar o estudo de aspectos geográficos e sua associação e aplicabilidade dentro dos serviços de saúde. 
Enfim, um brinde à cartografia...um brinde aos visionários da saúde!

Nenhum comentário:

Postar um comentário