domingo, 21 de junho de 2020

Arboviroses importam!


Dra. Tatiani V. Harvey
Médica Veterinária
Mestre e Doutora em Ciência Animal
Ênfase em Doenças Parasitárias


Enquanto o coronavírus avança em território nacional - concentrando sobre si todos os holofotes - a epidemia de dengue vai passando despercebida, e acumulando mais casos em comparação a 2019. 
Segundo o Boletim Epidemiológico 24 do Ministério da Saúde, de junho de 2020, até a primeira semana de junho foram notificados 823.738 casos prováveis de dengue, 47.107 casos prováveis de chikungunya e 3.692 casos prováveis de Zika. A Bahia está entre os estados em situação de alerta para a dengue (53.129 casos), concentra 35,5% dos casos de chikungunya (16.728 casos) e 42,7% dos casos de Zika (1.577) no país. O fato é que, com esses números, as arboviroses importam! 
Arboviroses são doenças causadas por arbovírus e transmitidas através de artrópodes, incluindo insetos e aracnídeos, como carrapatos e aranhas. Cento e cinquenta espécies de arbovírus podem causar doença no homem. No entanto, atualmente, a classificação arbovirose tem sido mais comumente utilizada para referir-se às doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, como a dengue, a febre Chikungunya, a Zika e a febre amarela. Lembremos que a febre amarela também tem um ciclo silvestre, o qual tem vetores distintos. 
A vigilância e controle destas doenças está focada, especialmente, em estratégias de controle do vetor em seus estágios jovens, larvas e pupas, as quais ocorrem na fase aquática de desenvolvimento do mosquito. Para prevenir, é importante conhecer os aspectos biológicos do Aedes, como o seu comportamento alimentar e reprodutivo, por exemplo, a fim de aplicar as medidas preventivas mais eficazes. 
As fêmeas do Aedes colocam entre 100 a 300 ovos acima da linha da água, na parede interna dos recipientes que acumulam, preferencialmente, água limpa. Os ovos podem permanecer viáveis em ambientes secos por até um ano. Por isso, é importante lavar estes recipientes com esponja, periodicamente. E não apenas enxaguá-los. Um outro fato importante é que a fêmea não deposita todos os ovos no mesmo criadouro, ou seja, no mesmo recipiente. Por isso, todos os recipientes suspeitos devem ser monitorados e lavados. 
Os mosquitos têm diferentes horários de atividade diária, conforme a espécie. O Anopheles, mosquito transmissor da malária, é mais ativo no amanhecer e ao pôr do sol. O Culex, transmissor do agente da Elefantíase, é mais ativo ao tardar da noite, quando a temperatura está mais baixa. Já o Aedes é mais ativo durante o dia, especialmente pela manhã. O conhecimento destes padrões otimiza a aplicação dos inseticidas. 
O conhecimento dos criadouros também é essencial. No caso do Aedes, os criadouros comuns são vasos de flores, pneus velhos, calhas entupidas, ralos, pia, tanque, box, banheiro, e vaso sanitário pouco utilizados, caixas d’água destampadas, bebedouros de animais domésticos, lixo e recipientes que favoreçam o acúmulo de água. 
Por fim, em meio a duas pandemias ocorrendo ao mesmo tempo, dengue e COVID-19, é imprescindível que a população continue a prevenir-se de ambas. No caso da arboviroses, a chegada do inverno não impede a transmissão dessas doenças. O que acontece em temperaturas mais baixas é que o ciclo aquático do mosquito se estende, gerando uma diminuição da população de adultos neste período. Contudo, a prevenção durante o inverno pode contribuir, imensamente, para evitar mais uma epidemia no verão seguinte. 

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