sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Meu cão sai de casa, raramente. Preciso vermifugá-lo?

Entre as perguntas que recebo nas minhas redes sociais, uma das mais frequentes é sobre a necessidade de vermifugar cães que passam a maioria do tempo dentro de casa. Comecemos analisando o relato “passa a maioria do tempo dentro de casa”, o qual evidencia que, mesmo que o cão passe a maior parte da vida dele dentro da casa ou da área residencial do tutor, em algum momento, ele é exposto ao ambiente externo, seja à rua ou a uma clínica, por exemplo. E esta pequena “saidinha” pode resultar, certamente, numa infecção parasitária.
Dra. Tatiani Harvey
Médica Veterinária - Especialista em Clínica de Pequenos animais
Doutora em Ciência Animal, com ênfase em Doenças Parasitárias -
Colaboradora do One Health Institute Heukelbach. 
Contato:@dra_tatiani_harvey 
Ao refletir sobre a vermifugação, o tutor deve considerar a diversidade de fatores que podem predispor os pets às infecções parasitárias intestinais. Entre eles, podemos citar a contaminação das ruas, das praças e de outros ambientes públicos com ovos e cistos de parasitas presentes nas fezes de cães de rua ou de cães mal manejados pelos seus tutores, as quais não são removidas destes ambientes. Nesta condição, as fezes deterioram-se e estes ovos e cistos são espalhados no ambiente atráves das chuvas, do vento, e do próprio deslocamento humano. Assim, somando o hábito dos cães de farejar todos os cantinhos de um ambiente novo, os pets tornam-se mais propensos a infectar-se. Uma outra fonte de infecção comum é o acesso aos pet shops e clínicas veterinárias, especialmente dentro das gaiolas de espera.
 Ressalto que, mesmo que se faça a higienização destas gaiolas, a maioria dos detergentes usados na limpeza não destroem os ovos e cistos. E estes podem permanecer viáveis no ambiente por alguns anos. Agora reflita sobre o seguinte depoimento: “Meu cão não fequenta as ruas. Eles faz as necessidades em casa; vai somente à praia comigo.” Bem, a praia também é via de cães soltos, de rua ou não. E lembremos também que nós mesmos podemos carrear ovos de parasitas em nossos calçados – assim contribuímos com a dispersão de parasitas, também, em qualquer ambiente. Agora veja este outro depoimento: “Meu cão sai de casa, apenas, para ir ao veterinário e para ir comigo à casa de amigos ou familiares.” Quem garante a você que os pets de seus amigos ou familiares são bem manejados? Reflita sobre isso. 
Além de toda a preocupação com o pet que sai de casa, os tutores precisam, também, ficarem atentos aos filhotes que nunca sairam de casa, os quais podem estar parasitados, e podem estar contaminando o ambiente doméstico. A verdade é que, ainda hoje, ainda há tutores que não sabem que alguns parasitas podem ser passados aos filhotes através da placenta e da amamentação. E este é um problema de saúde pública muito relevante, pois muitos filhotes não são vermifugados no período correto, ou não são vermifugados por não acessarem o ambiente externo. Veja, com isso, a importância da inclusão de veterinários dentro dos programas de assitência à saude da família. Esta situação favorece um alto grau de contaminação ambiental, visto que são os filhotes que liberam o maior número de parasitas no ambiente, além de favorecer a transmissão de parasitas entre os cães e os tutores e respectivos familiares. Imaginemos, então, as seguintes situações: você tem um bebê em casa, e ele já tem acesso ao chão e tem contato direto com o seu pet, que sai de vez em quando às ruas, -- inclusive dorme com ele, o que já virou moda, especialmente para chamar a atenção nas redes sociais -- ou você tem uma criança que, frequentemente, abraça, beija, deita e rola com o seu pet. Reflita! Normalmente, são as crianças que têm um contato mais próximo com os animais domésticos. Normalmente, são elas que deixam de cumprir as regras básicas de higiene pessoal, como lavar as mãos, por exemplo. Assim, deixar de cumprir os protocolos de vermifugação em filhotes, aumenta o risco de infecções intestinais transmidas por animais, especialmente para crianças, as quais, como outros indivíduos imunocomprometidos, sofrem os maiores prejuízos resultantes destas infecções. 
Em resumo, todos os cães e gatos devem ser vermifugados, independentemente da idade, ou de terem contato, ou não, com o ambiente externo à residência. O tutor deve comprometer-se com avaliações clínicas periódicas do seu animal, e com a responsabilidade que assumiu ao adotar o animal, que implica na responsabilidade com a saúde da família dele, bem como com a saúde da população em geral.

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