terça-feira, 19 de janeiro de 2021

E a vacina chegou em grande estilo

Nesses dias a sociedade brasileira está em polvorosa, numa verdadeira mistura de sentimentos, como alegria, esperança e, questionamentos e até perplexidade, pois a tão desejada vacina, que é único meio do momento que trará leveza à humanidade, uma vez que não existem outros mecanismos capazes de restabelecer a segurança no âmbito da saúde do ser humano.
Pe. Damião Conceição de Souza borges2
É verdade que a aprovação da vacina não configura vitória de nenhuma legenda política, mas uma autenticação da ciência, como instrumento capaz de fazer grandes coisas, que corroborem com o bem-estar do ser humano, como reflexo de uma verdadeira iluminação do Senhor, o Onisciente em si mesmo!
Não obstante a pujança sentimental, de maneira positiva, suscitada na sociedade brasileira, existem alguns elementos que clamam nossa atenção e reflexão. É estarrecedor acompanhar lideranças nacionais, em todos as esferas da federação, trocando farpas bem direcionadas em torno do tema da pandemia, em momento tão crítico da humanidade. É altamente inaceitável que o Brasil, essa terra de Santa Cruz, com muitas qualidades que o compõem, ter que assistir uma disputa de interesses escusos e desprovidos de brasilidade.
Causa náusea e tristeza ter que “presenciar” homens adultos se comportando como adolescentes. Isso gera uma análise da capacidade do ser humano de viver irrefletidamente. Dá uma tristeza acreditar nas pessoas e vê-las acreditando apenas em projetos desprovidos de cuidado e atenção para com outrem. No entanto, penso que é necessário continuar acreditando, ao menos que Deus continua a fazer milagres!
Acoplada a essas decisões questionáveis de lideranças políticas e religiosas, que abertamente questionam a eficácia da vacina – única forma de interferir medicamentosamente falando contra o coronavírus – homens e mulheres de todas as camadas sociais se posicionando em contrário ao que a comunidade científica tem defendido desde o início da pandemia. Isso causa espanto, porque é um movimento que só cresce aqui em nossas terras maravilhosas chamadas Brasil.
Como liderança cristã-católica, tenho plena certeza que Deus usa de instrumentos variados para alcançar o coração do ser humano e se vale da inteligência humana para continuar cuidando da sua criação amada e predileta o ser humano - (cf. Gn. 1). É Ele que pela boca do seu Filho (cf. Jo 1,14), continua a defender a vida, pois Nele está a vida plenificada (cf. Jo 14, 6) e os cristãos existem Nele.
Contudo, é de provocar tensão notar que muitos cristãos, seguidores de Jesus, o Senhor da vida, entram neste chamado negacionismo pandêmico, com atitudes de tipo irracionais, muitas vezes para defender uma bandeira ideológica, que contradiz o querer do Senhor para o homem e a mulher de todos os tempos!
Como classificar atitudes assim? É fagulha de insanidade, supervalorização de uma ideia ou apenas desejo de ser contra? Causa espanto tomar ciência de que cristãos se comportam assim, como pessoas escravas do pecado, como afirma São Paulo (cf. Gl 5,1); a obra de Cristo Jesus na cruz foi exatamente para que todos os seus seguidores se sentissem livres de toda forma de escravidão.
Os cristãos existem para ser luz e não corroborar com as ações das trevas. Comportamentos que estejam em direção contrária às iniciativas que valorizam e defendem a vida estão em total desacordo com a essência do ser cristão, que carrega no seu DNA a missão de proteger a vida como dom um maior.
É altamente contraditório que um cristão católico veja a Igreja católica lutar permanentemente contra as muitas iniciativas de tentar legalizar o aborto no Brasil e, caminhando em direção contrária, faça campanha de desinformação, que possa levar a população brasileira a entrar em confusão coletiva sobre a eficácia do único meio de barra as muitas mortes ocorridas diariamente no país, com destaque para alguns estados da nação que estão sofrendo em demasia.
É momento de decisão pela vida, de coerência entre fé e vida, entre atitude profunda (ou dissimulada) no templo e nas redes sociais.
Que o Autor da vida ajude a todos neste tempo de discernimento!

2 Presbítero da Diocese de Ilhéus. Licenciado em Filosofia pela FBB, Bacharel pela UCSAL, chanceler da Cúria diocesana de Ilhéus e mestrando em Direito Canônico pelo Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro, agregado à Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

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