sábado, 8 de maio de 2021

Assombros religiosos mostrados na epidemia

Como pessoas religiosas, cada crente é chamado a realizar testemunhar uma experiência com o Ressuscitado, que se fez um com o ser humano (cf. Jo 1,14), para refazer todas as realidades inerentes à natureza humana.
Pe. Damião Conceição de Souza Borges
Por sua vez, a liturgia católica, lugar específico de fazer memória da paixão, morte e gloriosa ressurreição de Jesus, requer presença, pois nela tudo é muito verdade (cf. Jo 14,6), haja vista que tudo o que se refere ao Filho de Deus (cf. 1 Jo 4,9) é verdadeiro, porque nele não há contradição.
Com o advento da pandemia atual, esse momento foi e continua a ser profundamente “reconfigurado”, uma vez que o acesso dos interlocutores litúrgicos foi parcialmente cerceado. Essa exigente realidade mexeu com muitas pessoas, os párocos especialmente, que foram obrigados a redimensionar a maneira de pastorear, sem perder o elã missionário em todas as frentes pastorais.
Deste modo, foram surgindo inúmeras manifestações de pessoas (clérigo ou leigo), que geraram diferentes situações um tanto desajustadas na liturgia e projetadas pelos veículos de transmissão da Santa Missa, passíveis de muitas reflexões e até arguições, completamente em desacordo àquilo que é a essência da liturgia, da sacramentalidade da Igreja católica, realidade que preenche a vida do crente.
Neste sentido, à medida que a pandemia foi sendo parcialmente controlada Brasil afora e os fiéis leigos foram sendo permitidos a regressarem para os templos, as Conferências Episcopais (órgãos de comunhão entre os Bispos e as dioceses em cada país) foram emitindo protocolos de reabertura das igrejas e a realização dos Sacramentos. Por sua vez, uma das muitas orientações expressas nesses protocolos é a forma de comungar dos fiéis leigos, que ordinariamente pode ser recepcionada na boca ou na mão, salvas as devidas particularidades. Neste sentido, cada Bispo em suas dioceses, emitiram orientações expressas acerca do assunto, em consonância ao orientado pela Conferência Episcopal.
Dentro desta organização eclesial, para que efetivamente a Igreja continue a ser um lugar de segurança e que garanta tranquilidade às pessoas em relação a transmissão do vírus, as paróquias e comunidades foram se organizando para cumprir os protocolos. No entanto, para a surpresa de muitos clérigos, alguns leigos, contrariando as orientações sanitárias e episcopais, apresentando um “senso” de indignidade demasiado em relação à Eucaristia, um tanto observável, simplesmente se recusaram a receber a Eucaristia na mão, ou melhor, se aproximam do sacerdote, exigem receber a comunhão na boca e, quando não atendidos em seus desejos questionáveis, se recusam a comungar, isto é, simplesmente se levantaram, uma vez que estavam ajoelhados e “rejeitaram” o Senhor.
Perante posturas que geram tristeza no coração dos adoradores da Eucaristia, suscitam questionamentos, como: essas atitudes denotam uma expressão de fé? A fé na Eucaristia, a ponto de se considerar indigno (a) de receber Jesus nas mãos, não gera uma fé no mistério da Igreja, com suas orientações? Será que se recusar a comungar na mão não seria uma incompreensão da totalidade do corpo humano? A mão é mais pecaminosa do que a língua, que até São Tiago a chama de venenosa (cf. Tg 3,8)?
Em relação a fé, o Cardeal Sarah, na obra A noite se aproxima e o dia já declina (2019, p. 29) esclarece que: “ A fé é alimentada pela liturgia, pela doutrina católica e pelo conjunto da Tradição da Igreja”. A fé, como é notório, é algo que exige crescimento humano e espiritual, especialmente dos que são alter Christus e atitudes como essas devem ser repensadas pelos cristãos. A fé é algo individual e comunitário; ela é vivida no isolamento do quarto e em comunhão com a Igreja, mãe do católico, pois o gerou na pia batismal, mas ela também é mestra, pois educa os seus a seguirem os passos do seu Senhor, cristo Jesus.
Frente a esta triste constatação, só resta à Igreja aguçar um entendimento pujante do sentido sacramental da fé que professa e, de maneira especial, rezar e ajudar os crentes católicos que preferem caminhar em contrário ao que a Santa mesma Igreja orienta, para que saibam o que é realmente essencial..
Que o Ressuscitado nos ajude!!

Presbítero da Diocese de Ilhéus. Licenciado em Filosofia pela FBB, Bacharel pela UCSAL, chanceler da Cúria diocesana de Ilhéus e mestrando em Direito Canônico pelo Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro, agregado à Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

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