O gerenciamento da Mobilidade Urbana é uma das principais maneiras de reduzir gastos públicos. Consequentemente, as cidades que não fazem um bom gerenciamento da sua mobilidade passam a ter uma manutenção muito cara. O alerta foi feito ontem (04), na Câmara de Vereadores de Ilhéus, pela especialista em mobilidade urbana e professora da Universidade Federal do Sul da Bahia, Peolla Paula Stein.
Ela foi uma das participantes da Audiência Pública que debateu a perspectiva de grandes investimentos em Ilhéus, nos próximos anos, a partir da implantação de importante trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) no sul da Bahia. Além da Fiol, outros novos investimentos previstos para a cidade, nos próximos anos, abrem um importante debate sobre como ficará a questão da mobilidade urbana e de transporte em Ilhéus para a atual e as futuras gerações.
“Ainda existe uma grande confusão sobre o que é trânsito e o que é mobilidade”, lembra a especialista. “O trânsito trata apenas da questão veicular. Já mobilidade é você pensar além, não permitir que parem as pessoas. É a capacidade de todos nos movermos para atingir um objetivo econômico na cidade. A pessoa é um agente econômico”, esclareceu Peola. Para a especialista, tendo uma estrutura organizacional ou não, a cidade é, em essência, mobilidade.
Autor do requerimento que provocou a Audiência Pública, o vereador Augusto Cardoso, o Augustão (PT), presidente da Comissão Permanente de Transporte, Trânsito e Mobilidade, alertou que a única certeza do momento é que o futuro da cidade começa agora, com o debate claro e transparente sobre este importante tema. Segundo especialistas, apesar de ser uma das cidades mais antigas do País, Ilhéus é uma das primeiras do Brasil a ter elaborado um Plano Diretor de qualidade reconhecida, que pode servir até como referência para os principais municípios brasileiros. No entanto, asseguram os especialistas, a cidade tem adotado políticas voltadas ao transporte individual. E isso é preocupante.
Números
O Instituto Nossa Ilhéus é a organização parceira do projeto MobCidades (Mobilidade, Orçamento e Direitos), iniciativa coordenada pelo Inesc – Instituto de Estudos Socioeconômicos, com dez organizações integrantes da Rede Social Brasileira por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis. O objetivo do movimento é fortalecer e fomentar a participação popular na gestão da mobilidade urbana, com foco na garantia do direito à cidade e ao transporte. Pesquisa realizada em 2018 apontou que apenas 6,1% do orçamento municipal de Ilhéus foram destinados a investimentos de transporte coletivo, por bicicleta e a pé. Dos 53 milhões de reais orçados, foram pagos 22 milhões. E metade deste valor foi destinada ao transporte individual motorizado em projetos de pavimentação de ruas.
O professor e pesquisador da Universidade Estadual de Santa Cruz, Elvis Barbosa, defende um projeto de ciclomobilidade urbana em Ilhéus. “Mas não apenas para aqueles que andam em grupos com roupas coloridas que chamam atenção e em bicicletas caras utilizadas em passeios ou a lazer. Mas principalmente para aqueles que pedalam em bicicletas simples, que andam de sandálias ou descalços, sem capacetes e usam a bicicleta como forma de deslocamento na cidade”.
Sem política de mobilidade, cidade não anda
O especialista assegura que não são poucos. Segundo o professor Elvis, se a cidade não tiver uma política de mobilidade urbana, ela para. E para evitar que isto aconteça, é preciso envolver não apenas o uso do transporte coletivo, mas todas as formas de deslocamento da cidade, inclusive passeios livres. “É preciso vontade política e elaboração de planejamento estratégico como política de estado e não política de governo. Porque governos mudam”, sentencia.
Uma das conclusões da Audiência é de que a cidade precisa implementar o seu plano de mobilidade se quiser cumprir o novo prazo estebelecido pelo governo federal, que é o ano 2023. “Mas isso tem que começar hoje. Já está atrasado e não é fácil de fazer”, destaca Peola. A ativista social Socorro Mendonça lembra que a questão da qualidade de vida está diretamente relacionada à condição de uma cidade para todos. “A mobilidade vem para contribuir com aquilo que é melhor para o coletivo”. Socorro contabilizou que o Plano Diretor da Cidade é citado 16 vezes na Lei Orgânica do Município e, apesar do registro, o tema não está na pauta cotidiana da cidade.
Participação
A Audiência foi aberta pelo presidente da Casa, Jerbson Moraes. Em reconhecimento à iniciativa do vereador Augustão, Moraes transmitiu ao autor do requerimento o comando da plenária. Ainda participaram da audiência os vereadores Cláudio Magalhães (PCdoB), Enilda Mendonça (PT), Tandick Resende (PTB), Ivete Maria (DEM) e Vinícius Alcântara (PV). Lideranças do Sindicato dos Agentes de Trânsito, Controladores de Tráfego, Agentes de Transporte, Auxiliares, Pessoal de Apoio, Fiscais e Agentes de Zona Azul, do Serviço Público e Terceirizados (Sindatran), também participaram ativamente do debate.
Uma queda no sinal da internet em toda a região central da cidade, onde fica localizado o Palácio Teodolindo Ferreira, ocorrida minutos antes da abertura da audiência e que durou mais de quatro horas, impediu a transmissão online do evento. Mas toda o debate foi gravado em vídeo e seu teor, na íntegra, já foi disponibilizado nas redes sociais da Câmara, estando totalmente à disposição da população interessada no tema.
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