terça-feira, 1 de julho de 2014

Fernando Henrique Cardoso celebra 20 anos do Real e chama Lula de "descrente"



No dia em que a moeda brasileira completa duas décadas, ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que era ministro da Fazenda do governo Itamar Franco à época do lançamento, celebra a solução econômica; "O País estava cansado da inflação, 20, 30% ao mês. (...) Quando estabilizamos a moeda, quando a inflação começou a ceder, imediatamente houve redução da pobreza de 40% para 30%", disse FHC; tucano criticou seu sucessor: "Houve os descrentes. O presidente Lula dizia que o real não era sonho, era pesadelo, se enganou"; e a presidente Dilma Rousseff, ao dizer que "estamos vendo dificuldades com a estabilização"
Vinte anos depois do lançamento do Plano Real, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em 1º de julho de 1994 era ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, publicou um discurso em sua página no Facebook celebrando a solução econômica para o Brasil.
"O País estava cansado da inflação, 20, 30 % ao mês. Não havia salário que fosse suficiente para fazer frente a carestia, ao aumento dos preços. Quando estabilizamos a moeda, quando a inflação começou a ceder, imediatamente houve redução da pobreza de 40% para 30%, porque as pessoas podiam confiar que não precisavam sair correndo para fazer compra mal recebesse o salário", disse FHC.
O tucano aproveitou para criticar seu sucessor, o ex-presidente Lula, a quem chamou de "descrente". "Houve os descrentes. O presidente Lula dizia que o real não era sonho, era pesadelo, se enganou. Se enganou tanto que depois se esforçou como presidente para manter a moeda estável", afirmou.
Fernando Henrique disparou também contra a atual presidente, Dilma Rousseff, que em sua avaliação, tem dificuldades para manter a estabilidade da moeda. "Mais recentemente estamos vendo dificuldades com a estabilização, mas estamos sentindo que o povo todo estará a espera de medidas que mantenham a moeda estável porque o povo aprendeu que a inflação a carestia é seu pior inimigo".
No dia 1º de julho de 1994, lançamos uma moeda nova no Brasil: o real, fruto de esforço enorme de equipe econômica, que eu liderava como ministro da Fazenda, e tinha o apoio do presidente Itamar Franco como presidente da República.
O País estava cansado da inflação, 20, 30% ao mês. Não havia salário que fosse suficiente para fazer frente a carestia, ao aumento dos preços. Quando estabilizamos a moeda, quando a inflação começou a ceder, imediatamente houve redução da pobreza de 40% para 30%, porque as pessoas podiam confiar que não precisavam sair correndo para fazer compra mal recebesse o salário, porque confiavam que a moeda poderia ser estável. Graças a isso não só houve a possibilidade de novas politicas sociais, econômicas, como que, tão importante quanto, reganhamos a crença no futuro do Brasil.
Houve os descrentes. O presidente Lula dizia que o real não era sonho, era pesadelo, se enganou. Se enganou tanto que depois se esforçou como presidente para manter a moeda estável. Mais recentemente estamos vendo dificuldades com a estabilização, mas estamos sentindo que o povo todo estará a espera de medidas que mantenham a moeda estável porque o povo aprendeu que a inflação a carestia é seu pior inimigo.
Portanto, há muito o que comemorar pelos 20 anos do real.
Plano Real, que acabou com hiperinflação, completa duas décadas
Wellton Máximo – Em meio a um misto de expectativa e de desconfiança, a economia brasileira experimentava uma revolução há exatamente 20 anos. Em 1º de julho de 1994, entrava em vigor o real, moeda que pôs fim à hiperinflação que assolou a população brasileira nos 15 anos anteriores.
Apenas no primeiro semestre daquele ano, a inflação totalizou 757%, média de 43% ao mês de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nos seis meses seguintes, o índice desabou para 18,6%, média de 2,9% ao mês.
Em vez de cortes de zeros na troca de moedas, o caminho para domar a inflação passou pela Unidade Real de Valor (URV). Cada real equivalia a uma URV, que, por sua vez, valia 2.750 cruzeiros reais, moeda em vigor até o dia anterior. Definida como uma quase-moeda, a URV funcionava como uma unidade de troca, que alinhava os preços seguidos de vários zeros em cruzeiros reais a uma média de índices de inflação da época.
Em vigor por quatro meses, de março a junho de 1994, a URV, na prática, promoveu a dolarização da economia sem, de fato, abrir mão da moeda nacional. Como cada URV valia US$ 1, o real iniciou sua trajetória também cotado a um dólar. O mecanismo uniformizou todos os reajustes de preços, de câmbio e dos salários de maneira desvinculada da moeda vigente, o cruzeiro real, sem a necessidade de congelamentos e de tabelamentos, como nos planos econômicos anteriores.
Um dos economistas que desenvolveu o Plano Real, o ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) Edmar Bacha acredita que a transparência foi o grande diferencial que levou o plano a ter sucesso depois de tentativas fracassadas de conter a inflação. "Todos os outros planos foram feitos em segredo e surpreendendo a população. Esse foi feito às vistas da população, em etapas, e com total aprovação prévia do Congresso Nacional", diz Bacha, atualmente diretor da Casa das Garças, instituto dedicado a estudos e debates de economia.
O Plano Real, na verdade, começou a ser pavimentado um ano antes. Em agosto de 1993, o então ministro da Fazenda do governo do presidente Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, comunicou o corte de três zeros no cruzeiro e o lançamento do cruzeiro real. Naquela ocasião, já estava acertada a criação do real, embora os detalhes do plano só tenham sido anunciados em março do ano seguinte, quando passou a vigorar a URV.
O plano foi implementado em duas fases para permitir, sem congelamento de preços, a transição entre o cruzeiro real e o real. A URV uniformizou todos os reajustes de preços, de câmbio e dos salários de maneira desvinculada da moeda vigente, o Cruzeiro Real (CR$). A cada dia, o Banco Central fixava uma taxa de conversão da URV em CR$, com base na média de três índices diários de inflação – os bens e serviços continuavam a ser pagos em CR$, mas passaram a ter referência numa unidade de valor estável.
O lançamento do real, em 1º de julho de 1994, deu início à segunda fase do plano. À frente do Ministério da Fazenda à época estava Rubens Ricupero. A conversão e os cálculos baseados na URV saíram de cena para a entrada do real. A partir de então, os juros altos e o dólar barato, com câmbio praticamente fixo, passaram a ser os principais instrumentos do governo para controlar a inflação. Em 1999, após a crise da Rússia, o governo adotou modelo em três pilares em vigor até hoje: superávit primário (esforço fiscal), câmbio livre e metas de inflação.
A Agência Brasil procurou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e os ex-presidentes do Banco Central Gustavo Franco e Pérsio Arida – membros da equipe que desenvolveu o Plano Real – mas não conseguiu retorno.

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