domingo, 25 de outubro de 2015

Horizontes» para a Igreja, sem linguagem condenatória

Francisco elogia trabalhos que fugiram da «fácil repetição» e critica teses conspirativas
Cidade do Vaticano, 25 out 2015 (Ecclesia) – O Papa encerrou hoje no Vaticano os trabalhos do Sínodo dos Bispos sobre a família e disse que as últimas três semanas abriram “novos horizontes” na vida da Igreja, que recusam uma linguagem condenatória.
“Procuramos abrir os horizontes para superar qualquer hermenêutica conspiratória ou perspetiva fechada, para defender e difundir a liberdade dos filhos de Deus, para transmitir a beleza da Novidade cristã, por vezes coberta pela ferrugem duma linguagem arcaica ou simplesmente incompreensível”, declarou Francisco, numa intervenção à porta fechada, posteriormente publicada pela sala de imprensa da Santa Sé.
Perante 265 participantes com direito a voto, o Papa declarou que “o primeiro dever da Igreja não é aplicar condenações ou anátemas, mas proclamar a misericórdia de Deus”.
“A experiência do Sínodo fez-nos compreender melhor também que os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão”, precisou.
Francisco apresentou uma reflexão sobre o que deve significar para a Igreja “encerrar este Sínodo dedicado à família”, que desde 2013 incluiu questionários às comunidades católicas, uma reunião extraordinária de bispos (2014) e a 14ª assembleia geral ordinária, que se conclui oficialmente este domingo, com a Missa na Basílica de São Pedro.
O fim deste percurso, afirmou o Papa, não significa que se esgotaram todos os temas, mas que estes foram debatidos “a luz do Evangelho, da tradição e da história bimilenária da Igreja”, sem “cair na fácil repetição do que é indiscutível ou já se disse”, “sem medo e sem esconder a cabeça na areia”.
“Seguramente não significa que encontramos soluções exaustivas para todas as dificuldades e dúvidas que desafiam e ameaçam a família”, admitiu.
Francisco falou da reunião de bispos e outros representantes das comunidades católicas como uma prova da “vitalidade da Igreja Católica”, num “período histórico de desânimo e de crise social, económica, moral e de prevalecente negatividade”.
O Sínodo desafia a Igreja e a sociedade a compreender a importância da “instituição da família e do Matrimónio entre homem e mulher”, fundado sobre “a unidade e a indissolubilidade”.
Francisco lamentou que alguns “corações fechados” optem por “julgar, às vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas”.
Noutra passagem do discurso, o Papa critica os que se opuseram à dinâmica sinodal “com métodos não totalmente benévolos”, sustentado que esta assembleia nunca quis entrar nas questões dogmáticas, “bem definidas pelo Magistério da Igreja”.
Após três semanas de encontros com responsáveis de todo o mundo, o pontífice argentino recordou que aquilo que parece “normal” para um bispo de determinado continente pode ser “quase um escândalo” para outro.
“O desafio que temos pela frente é sempre o mesmo: anunciar o Evangelho ao homem de hoje, defendendo a família de todos os ataques ideológicos e individualistas”, disse ainda, advertindo para os perigos do relativismo ou de “demonizar os outros”.
Em conclusão, Francisco sustenta que, para a Igreja, encerrar o Sínodo significa “voltar realmente a «caminhar juntos» para levar a toda a parte do mundo, a cada diocese, a cada comunidade e a cada situação a luz do Evangelho, o abraço da Igreja e o apoio da misericórdia de Deus”.

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