segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Perdoe-nos Jorge, a sua musa te esqueceu!

Comemora-se neste dia 10 de agosto, 108 anos do nascimento de Jorge Leal Amado de Faria. O Jorge Amado ou simplesmente Jorge, o amado Jorge de São Jorge dos Ilhéus. 
Jorge e Zélia na janela da casa onde ele viveu a infância (Rua Jorge Amado)
Lembro-me de Jorge Amado, voz pausada emoção aflorada afirmando: "É de Ilhéus que nasce o que de mais puro e sensível, o que de mais belo possa ter o que escrevi. Ilhéus como tema me inspirou, me marcou de forma profunda o que escrevi de alma e corpo."
Eu estava lá no salão do Opaba e no Palácio Monsenhor Theodolindo Ferreira, no plenário Gilberto Fialho da Câmara Municipal de Ilhéus. Quando Jorge Amado recebeu o título de cidadão ilheuense, em 1997 e, mais uma vez, exaltou a importância da cidade de Ilhéus na sua vida e na sua obra. 
Ele continua: "Em nenhum momento desses acontecimentos que me tornaram conhecido deixei de me lembrar que foi aqui onde tudo começou. Foi aqui, em Ilhéus, ali, na Praça do Vesúvio, não foi noutro lugar". 
Foi um instante de silêncio profundo, de olhos marejados, de respiração ofegante. O tempo, como num vídeo-tape, mostrava o menino Jorge correndo contra o vento e ao gosto da maresia. “Ilhéus me ensinou a liberdade. Me fartei em suas ruas, corri em seus becos, banhei-me em suas águas (...) onde quer que eu esteja, Ilhéus não sai das minhas lembranças”. 
Jorge nunca escondeu: Ilhéus era a sua grande musa, não saia das suas lembranças.
Jorge Amado, numa das antigas festas populares de Ilhéus
Sim, minha querida Paloma, parceira de Facebook, que juntamente com João estavam presentes naquela tarde. Meu querido Jorge Amado, o neto e professor da Ufba, ex-aluno do Instituto Nossa Senhora da Piedade, essa é uma data especial. É uma data cara para nós, ilheenses ou não,(como Jorge, também não sou ilheense), que puderam conversar ouvir e refletir o que diz (ainda diz) o amado Jorge. 
Mas, é triste e desolador o silencio de hoje. O silencio da musa. O silencio de um povo governado por ninguém, de fato. 
Me desculpe, Mario Alexandre, o prefeito de direito, mas tenho a obrigação, como cidadão e pagador de impostos, de lembrar-lhe: Não governas uma cidade qualquer. Recebeste de todos nós eleitores, não apenas um emaranhado de lei e limites geográficos, mas o legado da história, da cultura, da tradição social e econômica que começou em 1534. Portanto, é dever de qualquer gestor, a qualquer tempo, saber preservar, enaltecer e fazer memória consigo e com a sua gente. 
Os ilheenses ou não, que conhecem e vivem essa história, se orgulham de se verem representados em Jorge Amado, Adonias Filho, Sósigenes Costa, Abel Pereira, Jorge Medauar, Hélio Pólvora e tantos outros que fizeram de suas vidas a tradução da arte de amar a terra que os acolheu e inspirou.
Jorge Amado nas ruas de Ilhéus
Dizer que não mais se comemora a semana de Jorge Amado, ou o A-gosto de Jorge, por conta de uma pandemia ou por falta de recursos, não é verdade. É falta de zelo. 
A gestão atual nada fez pela cultura a ponto de eliminar a Secretaria da Cultura, tornando-a num inexpressivo departamento. O resultado disso é o que vemos: o patrimônio material  derretendo pela falta de cuidado e abandono e o patrimônio imaterial sendo levado ao esquecimento. 
Perdoe-nos Jorge, a sua musa, por instantes, te esqueceu!

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