quinta-feira, 3 de março de 2011

A Indústria Cooperativa e as três condições para o sucesso.

 Antonio Cesar Costa Zugaib


Antonio Cesar Costa Zugaib
No ano de 2005 fiz um trabalho em parceria com outros técnicos da CEPLAC chamado “Análise do Mercado Processado de Cacau” disponível na página da CEPLAC www.ceplac.gov.br no ícone radar técnico. Na oportunidade, fizemos ver que a única maneira dos produtores de cacau se apropriarem dos ganhos dos chocolateiros privados era através de uma agroindústria cooperativa, onde ao mesmo tempo seriam produtores da matéria-prima e industriais do chocolate. Um modelo de desenvolvimento que se bem conduzido poderia ser a saída para a crise da região cacaueira instalada há vários anos.
Atualmente, vejo que a idéia se proliferou e algumas indústrias cooperativas de chocolate começam a ser implantadas na região cacaueira. Porém, para que essas indústrias dêem certo é necessário no mínimo três condições essenciais: a) Profissionalismo; b) Participação e c) Ética. Meus alunos do curso de “Economia e Cooperativismo da UESC“ podem comprovar que essas são exigências que faço já no primeiro dia de aula.
O Profissionalismo exige que as cooperativas atualmente sejam gerenciadas por profissionais capazes, competentes . No programa do curso que divido em quatro módulos faço questão que no primeiro módulo o aluno tenha conhecimento dos princípios cooperativista. No segundo módulo a legislação cooperativista. No terceiro módulo um trabalho com as instituições que atuam no sistema cooperativista e no quarto módulo dois trabalhos: o primeiro a realização de uma análise financeira de uma cooperativa e o segundo a constituição de uma cooperativa com a análise de viabilidade econômica. A viabilidade econômica é importante para ver se a cooperativa pode caminhar sozinha com a produção de seus associados. O que temos visto é que as indústrias cooperativas de chocolate que estão sendo implantadas não estão levando esse estudo em consideração, ou se estão, não estão seguindo a risca seus ensinamentos, ou seja, a matéria-prima (cacau em amêndoas) entregue pelos associados não está sendo suficiente para viabilizá-la. O ponto de equilíbrio diz que a quantidade entregue deve ser suficiente para cobrir os custos fixos e variáveis. A partir daí a cooperativa começa a obter sobras que serão distribuídas de acordo com as operações realizadas pelos associados, isto decidido em assembléia geral. Aconselho que uma parte da sobra (50%) deve ser incorporada ao capital para servir de capital de giro . O produtor ao entregar o seu cacau seria adiantado o preço da arroba vigente no mercado e depois de industrializado, ou seja, transformado em chocolate, o restante 50% seria distribuído aos seus associados proporcionalmente ao cacau entregue. A diretoria da indústria cooperativa deve fazer urgentemente um processo de adesão de novos associados para que esta tenha produção suficiente para viabilizá-la, e se for o caso, abrir seu quadro social também para pequenos e médios produtores de cacau.
Outra condição é a participação. Os associados têm que serem atuantes. A assembléia geral é o órgão supremo da cooperativa. Todas as decisões devem partir da assembléia geral e para isso os associados produtores de cacau têm que se fazer presente, para discutir qual a melhor proposta e votar. Não pode pecar por omissão e mais tarde falar mal na primeira oportunidade. As decisões devem ser acatadas, mas depois de exaustivamente serem discutidas pelos associados. O Conselho Fiscal tem que ser atuante. Não pode passar a mão pela cabeça. Tem que fiscalizar com firmeza e independência o Conselho de Administração. Afinal de contas no final do exercício a assembléia geral se baseará no seu parecer para aprovar as contas do exercício. Portanto, a participação dos associados é condição “sine qua non”para o sucesso da cooperativa.
E por último, a ética, sabendo que deve estar em todos os atos dos cooperados e da diretoria. A ética deve estar presente também em todos os estágios de um sistema cooperativista. Desde a assembléia geral sem a participação de grupinhos, mas decisões sempre visando o bem comum dos associados e a saúde financeira da cooperativa, até na comercialização. O gerente deve entender que a cooperativa não é uma empresa particular, que aquele cacau não é seu e sim dos associados e sendo assim não se pode especular, as operações tem ser casadas. Tem que existir seguro tanto do cacau como matéria-prima como em forma de chocolate. Os diretores e gerente precisam gerir a cooperativa com ética para que a cooperativa tenha credibilidade e possa aumentar o seu quadro social.
Portanto, existem outras condições importantes para que a cooperativa tenha sucesso. Mas, pelo menos se existirem profissionalismo, participação e ética já são condições suficientes para que ela já possa avançar e agregar valor ao produto cacau. Não podemos deixar que a idéia da agroindústria cooperativa venha a fracassar por falta dessas três condições citadas.
· Agrônomo, M.S. em Economia Rural - UFV, Especialista em Cooperativismo e Comércio Exterior FGV/FUNCEX. Técnico em Planejamento da CEPLAC e professor do Departamento de Economia da UESC.

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