Antonio Cesar Costa Zugaib |
Atualmente, vejo que a idéia se proliferou e algumas indústrias cooperativas de chocolate começam a ser implantadas na região cacaueira. Porém, para que essas indústrias dêem certo é necessário no mínimo três condições essenciais: a) Profissionalismo; b) Participação e c) Ética. Meus alunos do curso de “Economia e Cooperativismo da UESC“ podem comprovar que essas são exigências que faço já no primeiro dia de aula.
O Profissionalismo exige que as cooperativas atualmente sejam gerenciadas por profissionais capazes, competentes . No programa do curso que divido em quatro módulos faço questão que no primeiro módulo o aluno tenha conhecimento dos princípios cooperativista. No segundo módulo a legislação cooperativista. No terceiro módulo um trabalho com as instituições que atuam no sistema cooperativista e no quarto módulo dois trabalhos: o primeiro a realização de uma análise financeira de uma cooperativa e o segundo a constituição de uma cooperativa com a análise de viabilidade econômica. A viabilidade econômica é importante para ver se a cooperativa pode caminhar sozinha com a produção de seus associados. O que temos visto é que as indústrias cooperativas de chocolate que estão sendo implantadas não estão levando esse estudo em consideração, ou se estão, não estão seguindo a risca seus ensinamentos, ou seja, a matéria-prima (cacau em amêndoas) entregue pelos associados não está sendo suficiente para viabilizá-la. O ponto de equilíbrio diz que a quantidade entregue deve ser suficiente para cobrir os custos fixos e variáveis. A partir daí a cooperativa começa a obter sobras que serão distribuídas de acordo com as operações realizadas pelos associados, isto decidido em assembléia geral. Aconselho que uma parte da sobra (50%) deve ser incorporada ao capital para servir de capital de giro . O produtor ao entregar o seu cacau seria adiantado o preço da arroba vigente no mercado e depois de industrializado, ou seja, transformado em chocolate, o restante 50% seria distribuído aos seus associados proporcionalmente ao cacau entregue. A diretoria da indústria cooperativa deve fazer urgentemente um processo de adesão de novos associados para que esta tenha produção suficiente para viabilizá-la, e se for o caso, abrir seu quadro social também para pequenos e médios produtores de cacau.
Outra condição é a participação. Os associados têm que serem atuantes. A assembléia geral é o órgão supremo da cooperativa. Todas as decisões devem partir da assembléia geral e para isso os associados produtores de cacau têm que se fazer presente, para discutir qual a melhor proposta e votar. Não pode pecar por omissão e mais tarde falar mal na primeira oportunidade. As decisões devem ser acatadas, mas depois de exaustivamente serem discutidas pelos associados. O Conselho Fiscal tem que ser atuante. Não pode passar a mão pela cabeça. Tem que fiscalizar com firmeza e independência o Conselho de Administração. Afinal de contas no final do exercício a assembléia geral se baseará no seu parecer para aprovar as contas do exercício. Portanto, a participação dos associados é condição “sine qua non”para o sucesso da cooperativa.
E por último, a ética, sabendo que deve estar em todos os atos dos cooperados e da diretoria. A ética deve estar presente também em todos os estágios de um sistema cooperativista. Desde a assembléia geral sem a participação de grupinhos, mas decisões sempre visando o bem comum dos associados e a saúde financeira da cooperativa, até na comercialização. O gerente deve entender que a cooperativa não é uma empresa particular, que aquele cacau não é seu e sim dos associados e sendo assim não se pode especular, as operações tem ser casadas. Tem que existir seguro tanto do cacau como matéria-prima como em forma de chocolate. Os diretores e gerente precisam gerir a cooperativa com ética para que a cooperativa tenha credibilidade e possa aumentar o seu quadro social.
Portanto, existem outras condições importantes para que a cooperativa tenha sucesso. Mas, pelo menos se existirem profissionalismo, participação e ética já são condições suficientes para que ela já possa avançar e agregar valor ao produto cacau. Não podemos deixar que a idéia da agroindústria cooperativa venha a fracassar por falta dessas três condições citadas.
· Agrônomo, M.S. em Economia Rural - UFV, Especialista em Cooperativismo e Comércio Exterior FGV/FUNCEX. Técnico em Planejamento da CEPLAC e professor do Departamento de Economia da UESC.
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