Estamos chegando ao quinto domingo da Quaresma. Depois de quarenta dias de grande jejum, continuada penitência e profundo retiro de oração, vamos contemplar a Ressurreição e a Vida. O Evangelho nos narra a ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-45), ressurreição que causou ódio das autoridades religiosas daquele tempo contra Jesus, que dava um sinal de como deveria ser sua própria ressurreição.
Jesus está a caminho e próximo de Jerusalém. É sua última viagem. Em Betânia, chama Lázaro à vida, à vida plena. O próprio Cristo anuncia: “Eu sou a Ressurreição e a Vida” (Jo 11,25).
Os discípulos estavam angustiados perante a perspectiva da morte de Jesus. Ainda não se deram conta da força messiânica de Jesus. A preocupação com a morte demonstra a fraqueza da fé dos que não compreenderam inda a qualidade de vida que Jesus comunica.
Jesus e os discípulos chegam a Betânia e recebem a notícia que Lázaro já estava há quatro dias no túmulo (v. 17). Numerosos judeus estavam ali, solidários, para oferecer consolo às irmãs, Marta e Maria. Jesus chega para despertar o amigo Lázaro e depara-se com a reação de Marta. Ele será o verdadeiro consolador (VV. 18-20). Marta sai ao encontro de Jesus e estabelecem um diálogo sobre morte, vida e ressurreição, culminando na profissão de fé: “Sim, Senhor. Eu acredito que tu és o Messias, o Filho Deus que devia vir a este mundo” (VV. 21-27).
Marta e Maria conduzem Jesus ao túmulo. Ali ele chora, numa demonstração de carinho pessoal pelo amigo falecido. Revela-se solidário com a dor, não, porém, com a desesperança. Junto ao túmulo ordena que tirem a pedra. Ante a reação de Marta, para quem a morte é o fim, Jesus reagem: “Eu não lhe disse que, se acreditar, verá a glória de Deus?” (vv. 33-40). Num grito que brota da ação de graças, Jesus ordena: “Lázaro, sai para fora!” Confirma-se a palavra de Jesus: “Esta doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela” (vv.3-6).
O evangelista quer conduzir os ouvintes à profissão de fé no Cristo, o Messias de Deus e “para que acreditem que tu me enviaste”.
O que estava morto sai do túmulo porque ele está vivo.
Jesus nos convida nos convida a olhar tanto para a morte física de Lázaro, quanto para a morte espiritual da qual todos podemos ser vitimas. Cada um de nós é Lázaro! Muitas vezes amarrados, presos por mil coisas. Perdemos o sentido da vida, nos isolamos em nossos próprios túmulos, deixando de participar do convívio comunitário. Ficamos como mortos, sem ver a luz a luz da vida.
A narrativa da morte e ressurreição de Lázaro prefigura a morte e ressurreição de Jesus. Pela ressurreição, ele vencerá a morte.
A figura de Lázaro, encerrado no sepulcro e amarrado em faixas, personifica o discípulo que, ao convite do Senhor, necessita sair de seu mundo (aqui o sepulcro é imagem forte disto), para ganhar a vida. A vida do batizado implica rupturas e mudanças radicais com determinadas práticas de vida, ao mesmo tempo em que ele se insere numa comunidade de vida.
Na Quaresma somos chamados à conversão, a deixar projetos que nos prendem ao egoísmo e a apostar na tarefa de criar um mundo solidário, com mais vida. Temos de anunciar, mais com ações do que com palavras, que acreditamos que só é parceiro de Deus quem defende a vida e que tudo será possível com amor autêntico e coerente.
A ressurreição e a vida às quais Jesus refere-se, ao responder a Marta, não são apenas esperança a ser contemplada num futuro longínquo, mas realidades que se tornam presentes em nossas vidas e relações, das quais participamos desde o presente.
Reunida na fé em Jesus ressuscitado, a comunidade contempla a sua própria fragilidade, seu vale de ossos secos que não se apresentam como palavra final, A morte é superada pela presença do Espírito de Deus. Resgatada pelo sopro de Deus, a comuniade é capaz de reafirmar sua fé na vida nova, Jesus.
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