(Por Carlos Vianna Júnior - Tribuna da Bahia)
Apesar de ser proibido, o chumbinho continua sendo vendido na cidade e, consequentemente, muitos envenenamentos continuam a ocorrer. Segundo dados do Centro de Informação Antiveneno (CIAVE), da Secretaria Estadual de Saúde, somente este ano já foram notificados 40 casos de envenenamento. O produto, usado para matar ratos, é facilmente encontrado em pontos da Cidade Baixa, como Feira de São Joaquim, Sete Portas e Calçada.
Apesar de ser proibido, o chumbinho continua sendo vendido na cidade e, consequentemente, muitos envenenamentos continuam a ocorrer. Segundo dados do Centro de Informação Antiveneno (CIAVE), da Secretaria Estadual de Saúde, somente este ano já foram notificados 40 casos de envenenamento. O produto, usado para matar ratos, é facilmente encontrado em pontos da Cidade Baixa, como Feira de São Joaquim, Sete Portas e Calçada.
É verdade que o veneno é mais encontrado na mão de ambulantes, mas isso não é regra. Na Feira de São Joaquim, a reportagem da Tribuna encontrou o produto em pelo menos um estabelecimento. O produto não fica à mostra, mas ao perguntar pelo chumbinho, o vendedor tira-o de dentro de um saco escondido sob o balcão, sem nenhum constrangimento.
“Trabalho aqui há poucos meses, mas desde que comecei eu vendo chumbinho”, conta o vendedor, que, por saber se tratar de um produto proibido, não quis se identificar. Perguntado sobre a fiscalização, ele respondeu sem susto: “eles vêm aqui na feira, mas dão mais em cima dos ambulantes. Aqui nunca tive problema”, relata.
Segundo Daniel Santos, diretor do Centro Antiveneno da Bahia (CIAVE), os 40 casos de envenenamento notificados este ano não representam a verdade sobre o problema. “Sabemos que são poucos os casos que são notificados. Este número pode ser facilmente multiplicado por cinco”, afirmou. Ele dá outra informação alarmante: “90 % dos casos de envenenamento que chegam às emergências são por uso de chumbinho”.
Na Feira de São Joaquim, o número de vendedores ambulantes, segundo um deles, chega a 20. Em uma das mãos eles mostram o veneno acondicionado em pequenos cilindros e os oferecem por cinco reais, três por dez reais. Na outra mão, eles expõem outro produto. “São comprimidos para namorar melhor”, informa um deles, se referindo ao medicamento Pramil, utilizado para tratamento de impotência.
No bairro da Sete Portas, nas cercanias da feira, tampouco é difícil encontrar o veneno. Um ambulante passa fazendo publicidade dos ‘benefícios’ do chumbinho, que é vendido a cinco reais a porção: “Com um frasquinho destes, você mata até 50 ratos. Vai precisar de pá para catar tanto rato”.
O que ele não sabe é que o veneno, que originariamente é um agrotóxico, não funciona tão bem com raticida. Segundo Daniel Santos, as pessoas pensam que o chumbinho é bom para matar ratos pelo fato de ser um potente veneno, mas isso é justamente o que o torna ineficiente.
“Ele é tão forte que mata o rato praticamente no momento em que o alimento envenenado é ingerido pelo animal. Mas este efeito rápido faz com que os outros ratos entendam que aquele alimento não é bom. Os ratos não são tão burros assim”, explica.
A poucos metros de um ambulante que vende chumbinho, uma loja, Sete Portas, vende raticidas, legais, que saem pelo mesmo preço do chumbinho, ou ainda mais barato. O Racumim custa 3,5 reais e o Rodilom, 1,5 reais. “Mas não sai muito, há um tempo que não vendo nada”, informa o proprietário. Do lado de fora, o ambulante, oferecendo também o Pramil, diz que vende pouco chumbinho, mas que sempre consegue vender um ou dois por dia.
Tanto os ambulantes da Feira de São Joaquim como os da Sete Portas dizem que a fiscalização é feita por policiais, mas eles não aparentam temerosos ao expor o produto. “Eles às vezes falam com a gente, às vezes tomam os nossos produtos, mas nunca ninguém foi preso”, conta um deles.
De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria de Segurança Pública, a fiscalização é realizada por demanda. A partir da denúncia, a polícia militar é acionada para apreender a mercadoria e os vendedores de chumbinho são levados para a delegacia mais próxima.
Solução não é fácil
De acordo com a coordenadora da Vigilância Sanitária de Salvador, Karina Queiroz, a comercialização de chumbinho não é um problema de fácil solução. Para ela, a solução passa pela conscientização tanto dos vendedores, como dos compradores.
“O vendedor tem que entender que além de cometer um crime, ele está vendendo um produto que causa muitos danos. E o comprador tem que saber que não é um produto que soluciona o problema a que se propõe resolver”, pondera.
Consciência do perigo até que alguns compradores têm, ainda que parcialmente. “Não uso no restaurante, pois sei que posso contaminar a comida”, conta Cicera dos Santos, dona de um restaurante na Feira de São Joaquim.
“Mas em casa, eu uso sim. Eu não quero conviver com os ratos, não acho errado usar”. Já Rosilda Rodrigues, comerciante, prefere usar as ratoeiras. “Eu não uso chumbinho não, tenho medo de matar meus cachorros, além disso, quando se usa o chumbinho, os ratos morrem escondidos e não sabemos onde eles estão, só sentimos o mau cheiro”, argumentou.
Rato é conseqüência – De acordo com a coordenadora do Plano de Controle de Roedores, do Centro de Controle de Zoonoses, Helena Carvalho, as localidades onde há mais concentração de ratos na cidade, são justamente aqueles onde as condições sanitárias, ambientais e sócio-econômicas favorecem à sua proliferação.
“São animais peridomiciliar, ou seja, eles preferem as ruas, os esgotos, então, pode-se tomar algumas precauções para que ele continuem do lado de fora”, explica.
Para ela, antes de se usar chumbinho, as pessoas poderiam fazer um trabalho preventivo. “Pode-se limpar terrenos baldios nas cercanias da casa; colocar lixos em locais adequados e em horários próximos ao horário de coleta; manter o mato roçado. E em caso de os ratos já estarem alojados na casa, chamar uma empresa dedetizadora, ou ligar para o Centro de Zoonoses para uma avaliação na região.”, informou.
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