A tuberculose extensivamente resistente (XDR-TB), caracterizada pela resistência do bacilo aos medicamentos usados no tratamento e que antes era diagnosticada apenas clinicamente, desde o início deste ano, a partir de uma ação do Ministério da Saúde, está sendo confirmada por meio do diagnóstico laboratorial. A doença, assim como a tuberculose multidroga resistente (TBMDR), é decorrente de tratamentos incompletos ou irregulares, incluindo a subdosagem dos medicamentos.
A partir do diagnóstico laboratorial da XDR-TB, os pacientes têm o tratamento assegurado pelo Ministério da Saúde, através do Sistema Único de Saúde (SUS). O diagnóstico da XDR-TB é feito no Centro de Referência Hélio Fraga, no Rio de Janeiro, que foi credenciado pela Organização Panamericana de Saúde (Opas) para realizar o teste de sensibilidade específico, que antes não era viabilizado na rede pública.
Todos os estados foram orientados a encaminhar as amostras para o centro, e a Bahia, em função do estudo sobre o assunto que vinha sendo desenvolvido por profissionais da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), foi o estado que enviou o maior número de amostras e, consequentemente, obteve a mais rápida identificação dos casos.
A coordenação do Programa Estadual de Controle da Tuberculose criou o Grupo de Trabalho da Tuberculose Multidroga Resistente (TBMDR), que inclui entre suas ações o acompanhamento dos casos da XDR-TB.
O grupo de trabalho, com representantes da Vigilância Epidemiológica, Hospital Especializado Octávio Mangabeira, Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), Associação Damien do Brasil e Secretaria de Saúde de Salvador, promove reuniões regularmente para o acompanhamento e o estabelecimento de um protocolo estadual de monitoramento. Detecção A coordenadora do Programa Estadual de Controle da Tuberculose da Sesab, Rosângela Palheta, afirmou que a doença é um sério problema de saúde pública, com raiz nas desigualdades sociais, atingindo principalmente pessoas em condições de pobreza, que enfrentam a desnutrição, vivem em aglomerações com moradias precárias e insalubres, em áreas sem saneamento básico. “Apesar de curável, a tuberculose ainda causa a morte de muitas pessoas, devido ao diagnóstico tardio. A população em geral e os profissionais de saúde devem estar atentos aos sintomas da doença para obter o diagnóstico precoce e dar início ao tratamento adequado”, disse a coordenadora. A médica Maria do Carmo Camacho informou que o tratamento da tuberculose dura, em média, seis meses. Quando o tratamento é feito de forma correta, o índice de cura está em torno de 98%, e 15 dias após o início do tratamento o paciente não transmite mais o bacilo. No caso da tuberculose multidroga resistente, decorrente de tratamento incompleto ou irregular, o índice de cura cai para 50% e o tratamento dura entre 18 e 24 meses. Tratamentos incompletos ou irregulares e subdosagem de medicamentos pelos portadores da tuberculose multidroga resistente podem levar à XDR-TB, diagnosticada no Centro de Referência Hélio Fraga. “Não existe diferença entre o contágio da tuberculose resistente e a sensível. A transmissão do bacilo da tuberculose depende de fatores como o número e a concentração de pessoas infectadas num determinado local, do tempo de contato com o portador e da existência de pessoas com alto risco de contrair a infecção”, explicou Ana Luiza Itaparica, do Programa Estadual de Tuberculose. Ela declarou que o risco de transmissão aumenta se houver alta concentração de bacilos da tuberculose em ambientes fechados e a ventilação do local for deficiente, e que o risco pode ser reduzido ou até eliminado se as pessoas doentes estiverem em tratamento regular, com os medicamentos preconizados. Os técnicos da Sesab explicam que a tuberculose é uma doença tratável, transmitida por meio de gotas da secreção respiratória que se propaga pelo ar. Os principais sintomas da doença são tosse por um período prolongado (três a quatro semanas), febre, suores noturnos, falta de apetite, emagrecimento, cansaço fácil, dor no peito e escarro – este pode vir acompanhado de sangue. Desde que foi viabilizado o diagnóstico da XDR-TB, o Lacen enviou para o Hélio Fraga 160 amostras de pacientes acompanhados desde 2008 e recebeu 98 resultados, dos quais seis foram positivos para a forma extensivamente resistente. A assistência a esses casos, assim como aos casos multidrogas resistentes, é realizada por equipe multidisciplinar, no Hospital Especializado Octávio Mangabeira. O tratamento é feito com esquema individualizado e os medicamentos são assegurados pelo Ministério da Saúde. Redução da ocorrência Para reduzir a ocorrência dos casos resistentes, técnicos do Programa de Controle da Tuberculose da Sesab recomendam a detecção de 70% dos estimados, cura de 85% dos notificados, redução do abandono para 5% dos casos em tratamento, intensificação do tratamento diretamente observado para 100% dos casos em tratamento (acompanhamento diário por profissional de saúde na tomada da medicação e identificação das reações adversas). É fundamental também o fortalecimento dos programas estaduais e municipais de controle da tuberculose e das redes laboratorial e de assistência. Outra questão lembrada pelos técnicos é com relação aos contatos dos pacientes diagnosticados. As pessoas devem ser examinadas, porque correm o risco de adoecer e podem ser submetidas a tratamento preventivo.
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