CARTA CAPITAL - Data: 01/10/2011 - EM UM DIA QUALQUER, OBSERVE o mar a partir do pier 2 do complexo do Porto de Tubarão no Brasil e você verá pelo menos meia dúzia de navios no horizonte. A fila de embarcações em espera permite ao gerente de controle de tráfego do porto, Leonardo Barone, manter seus três píeres em uso constante. O Porto de Tubarão é de propriedade da Vale, a maior companhia de minério de ferro do mundo. Um recorde de 104 milhões de toneladas de minério de ferro foi embarcado do porto no ano passado.
De volta à beira d"água, um exército de caminhões descarrega o minério de ferro dos trens que chegam das minas da Vale em Minas Gerais. A estrada de ferro de 905 quilômetros transporta 40% da carga ferroviária do Brasil em apenas 3% de seus trilhos. Um trem de carga-padrão dessa linha tem 252 vagões e três locomotivas. Cerca de 4 mil vagões são descarregados em Tubarão a cada dia.
O minério de ferro descarregado é misturado e armazenado em um imenso pátio cercado de telas finas para impedir a poeira de ser levada pelo vento em direção à cidade próxima de Vitória. Uma roda equipada com baldes gigantes escava essa montanha e despeja o minério de ferro em esteiras rolantes, que percorrem um longo caminho até o píer, onde despejam a carga no porão de um navio em espera.
A construção do porto, na metade dos anos 1960, foi patrocinada pelas companhias siderúrgicas do Japão. Hoje, o principal cliente do Brasil é a China, que responde por 15% de suas exportações (principalmente minério de ferro, soja em GRÃOS e petróleo), de um porcentual que era quase zero há dez anos. A carga para a qual os navios fazem fila em Tubarão se tornou de longe a mais valiosa. O minério de ferro hoje atinge o preço de 178 dólares a tonelada, comparado com 13 dólares a tonelada em 2001.
Medidas mais amplas do custo das matérias-primas também subiram vertiginosamente. O índice de preços de commodities, excluindo petróleo, da Economist triplicou na última década. A alta recente reverteu uma tendência de baixa que durou um século. Os preços das matérias-primas industriais caíram em torno de 80% em termos reais entre 1845, quando a Economist começou a coletar os dados, e seu ponto mais baixo em 2002. Grande parte do terreno perdido durante 150 anos foi recuperada em um espaço de apenas uma década.
Isso aumentou a receita dos países ricos em commodities, como o Brasil e a Austrália, assim como partes da África. Também fez com que até mesmo os analistas mais moderados falassem sobre um "novo paradigma"nos mercados de commodities. Apesar do PIB ter desacelerado para perto da estagnação em muitas partes do mundo rico, o preço do petróleo está perto de 100 dólares por barril- tão alto em termos reais quanto após os choques de petróleo dos anos 1970.
O que explica essa reviravolta? Os picos de preço durante o último século estavam atrelados a interrupções na oferta, notadamente durante a Primeira Guerra Mundial. Mas a recente alta dos preços tem sido abrangente e de longa duração demais para ser explicada de forma adequada por geadas ou quebras de safras. Nem é óbvio que os
produtores estejam retendo a produção. Em Tubarão, todos estão se esforçando para obter o minério o mais rápido possível. Um tempo valioso é perdido entre a atracação do navio e o início do embarque.
Existe uma explicação mais simples para a escassez: a alta nos preços das commodities é simplesmente resultado da explosão da demanda e crescimento mais lento da oferta. O lado da demanda foi impulsionado pelo desenvolvimento industrial sem precedentes em seu tamanho, velocidade e amplitude, liderado pela China, mas não confinado a ela. O crescimento nos mercados emergentes é tanto rápido quanto intenso no uso de recursos. O FMI estima que, em um país de renda média, um crescimento de 1% do PIB aumenta a demanda por energia no mesmo porcentual. As economias ricas estão bem menos sedentas por energia: a intensidade do uso do petróleo nos países da OCDE vem caindo em ritmo constante nos últimos anos.
O apetite da China por matérias-primas é particularmente voraz por causa do tamanho do país e de sua elevada taxa de investimento. Embora responda por cerca de apenas um oitavo da produção global, a China usa entre um terço e metade da produção anual do mundo de minério de ferro, alumínio, chumbo e outros metais não preciosos (gráfico 5). A maior parte da energia consumida pela indústria chinesa vem do carvão - combustível sujo que contribui para a péssima qualidade de ar da China. Seu consumo de petróleo quase que corresponde ao tamanho da economia, mas provavelmente vai crescer mais rápido do que o PIB à medida que a China fica mais rica e compra mais carros.
A oferta tem dificuldade de acompanhar o ritmo dessa crescente demanda. A produção mundial de minério de ferro dobrou durante a última década, mas os preços subiram 13 vezes mais. O teor de metais do minério de cobre vem caindo desde a metade dos anos 1990, conforme as minas existentes são esgotadas. Esse descasamento entre a demanda e a oferta é um problema antigo nos mercados de commodities. Leva anos para encontrar e desenvolver novas minas e reservas de petróleo e para construir a infraestrutura (poços, oleodutos, estradas de ferro, portos) para levar as commodities ao mercado. A oferta responde lentamente aos aumentos nos preços e o atraso frequentemente leva a um investimento excessivo que então deprime os preços.
As indústrias extrativistas tinham acabado de se recuperar do excesso de investimento quando os preços começaram a subir novamente. No início do milênio, um longo mercado baixista nas commodities tinha expurgado os excessos dos anos 1970, diz Dylan Grice, do Société Générale. O setor estava preparado para a contração, mas, em vez disso, enfrentou a maior e mais rápida industrialização na história.
A oferta de commodities está novamente recuperando de forma lenta o terreno perdido. As grandes reservas estão principalmente em áreas remotas e escassamente povoadas. Isso ocorre, em parte, porque as economias de Austrália, Canadá, Brasil e África Subsaariana vêm crescendo rapidamente. O Brasil foi abençoado com madeira, terras excepcionalmente férteis, minerais metálicos e, agora, reservas de petróleo - embora a maior parte delas esteja em lugares difíceis de alcançar, distantes da costa e em águas profundas abaixo da camada de sal. Hoje, existe uma escassez de geólogos que possam ajudar na pesquisa de petróleo. A companhia de petróleo OGX, fundada pelo magnata Eike Batista, vem tentando convencer alguns aposentados a voltar à ativa.
O petróleo offshore do Brasil será caro e difícil de extrair. Se é com isto que o mundo está contando, dizem os pessimistas, a escassez de petróleo será realmente crítica. Eles argumentam que os limites ao crescimento impostos pela falta de recursos, observados primeiramente por Thomas Malthus no fim do século XVIII, ainda se aplicam. Os otimistas apostam na engenhosidade humana para escapar da armadilha malthusiana, como já aconteceu tantas vezes antes.
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