Dom Mauro Montagnoli - Bispo Diocesano de Ilhéus - Os termos saúde e de salvação, ao longo da história, são convergentes e sempre apresentaram uma relação profunda. Em diversas línguas, os termos nasceram de uma raiz única e, por muito tempo, partilharam a mesma palavra. Em geral, saúde e salvação significaram plenitude, integridade física e espiritual, paz, prosperidade.
As religiões sempre procuraram dar resposta à busca de um sentido para a existência e seus grandes desafios, particularmente em relação à dor, ao sofrimento, ao mal e à morte, que afligem a humanidade indistintamente.
A humanidade sempre buscou conservar a saúde e vencer as doenças. Encontramos diferentes conceitos e explicações, como: a doença é resultado de forças alheias ao corpo que se instalam na pessoa por causa da desobediência a normas sociais, por erros na vida passada, por castigo de divindade ofendida, pela ação de demônios ou maus espíritos.
Às divindades poder de curar o mal, com diagnósticos, práticas e receitas curativas associadas, quase sempre, a esconjurações mágicas, como remédios onde ageam os deuses e todos os tipos de entidades intermediárias. É comum o recurso à religião e à magia na busca de sentido para a vida, a doença e a saúde, sinal de profunda relação entre doença e religião.
A Bíblia, já nas primeiras páginas, apresenta a origem do mal e do sofrimento, mas descarta qualquer possibilidade de participação divina. Na história do povo hebreu vai se desenvolvendo conceitos e justificativas a respeito da doença e do sofrimento, que passam a serem vistos como conseqüência do pecado pessoal e da desobediência à Lei. Assim, a preservação da saúde, mais do que a cura da doença, é obtida pela observância da lei de Deus. Em Dt 28,1-14, a bênção prometida para quem observa a lei de Deus é sinal de bem-estar, saúde e prosperidade.
Quem não observa a Lei terá a maldição, a infelicidade, as doenças, a opressão (cf. Dt 28,15 ss). Doença é sinal de castigo de Deus ao pecado do ser humano; só eliminando o pecado, se obtém novamente de Deus a saúde. A cura e o perdão dos pecados são obras de Deus que concedia aos que o pediam na prece.
Recorrer aos médicos era visto como falta de fé no Deus vivo e verdadeiro, pois a doença era compreendida como uma forma de punição por parte de Deus (cf. 2Cr 16,12). Para certos problemas físicos, os sacerdotes deviam ser consultados, eles diagnosticavam os sintomas, orientando o tratamento para a pessoa, bem como os rituais de purificação a serem seguidos.
O livro do Eclesiástico considera a doença como o pior de todos os males (cf. 30,17), um mal que faz perder o sono (cf. 31,2). A cura para as doenças deveria ser obtida, em primeiro lugar, pela oração (cf. 2Sm 12,15-23). Vários salmos são de doentes que suplicam a Deus a cura. Segundo Carlos Mesters, “cura e perdão dos pecados parecem duas faces de uma mesma moeda: ambos vêm de Deus mediante a prece. Porém, o Eclesiástico também propõe um novo modo de compreender a doença e, sobretudo, estimula um comportamento diferente na busca do restabelecimento da saúde. Se antes, recorrer à medicina e a seus profissionais era visto como falta de fé no Deus Altíssimo, o Eclesiástico considera os remédios, os médicos e a ciência como possibilidades de cura que vêm do próprio Deus e, conseqüentemente, devem ser buscados quando necessário”. (MESTERS, C. Os profetas e a saúde na Bíblia - São Leopoldo: CEBI. 1985, p. 5)
A CF 2012 tem como objetivo refletir sobre a realidade da saúde no Brasil em vista de uma vida saudável, suscitando o espírito fraterno e comunitário das pessoas na atenção aos enfermos e mobilizar por melhoria no sistema público de saúde.
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