quinta-feira, 17 de maio de 2012

O cacau e o mercado de carbono

Explorada basicamente por pequenos produtores e estabelecidos predominantemente em solos de média a alta fertilidade, a cacauicultura Amazônica destaca-se como uma das mais competitivas do mundo, principalmente quando se considera a produtividade média (850 kg/ha) e o baixo custo de produção (US$ 750,00/tonelada produzida) da lavoura, observados na maioria dos municípios que exploram a cacauicultura (CEPLAC /SUEPA/ SISCENEX, 2010)[1].
Tal desempenho, associada às características francamente preservacionistas da produção de cacau em sistemas agroflorestais, elege a cacauicultura como uma das mais interessantes alternativas agrícolas para o desenvolvimento rural sustentável da região Amazônica, sendo, atualmente, discutida a sua inclusão como espécie para composição da reserva legal das propriedades agrícolas pertencentes a essa região. Além disso, é importante ressaltar a sua grande capacidade de sequestrar carbono.
Segundo COTTA et al. (2006), analisando a viabilidade econômica do consórcio seringueira-cacau, no ecossistema da Mata Atlântica, sem e com os créditos de carbono, num horizonte de planejamento para 34 anos, concluiu que o estoque de carbono somente nos cacaueiros era de 22,44 tC/ha e, quando incluídos aqueles representado pelo estoque nas árvores de sombreamento (84,65 tC/ha), totalizava um estoque de de carbono da ordem de 107,09 tC/ha (o que equivale a aproximadamente 393 tCO2eq/ha).

Os dados aferidos por ALEGRE (2002) na floresta amazônica peruana, apontam que um sistema agroflorestal com cacau com idade superior a 20 anos de cultivo é capaz de armazenar, considerando também a biomassa e o solo, aproximadamente, 150 toneladas de carbono por hectare/ano.
ALVARADO (2007), estudando o armazenamento de carbono e valoração econômica em sistemas de uso-da-terra comparados com o de cultivo da coca (erythroxylon coca lam.) no distrito de josé crespo e castillo (Peru), especificamente nos SAF de cacau tradicional e melhorado, encontrou estoques de carbono de 114,61 e 111,72 toneladas de carbono por hectare, respectivamente.
Para Amazônia brasileira, tratando-se especificamente sobre a contabilização de estoques de carbono em sistemas agroflorestais com cacaueiros, não foi possível identificar uma referência. Contudo, os três estudos anteriormente citados, se utilizados como proxi permitem uma boa aproximação da medida de estoques de carbono já acontecidas, haja vista a área até o momento implantada .
Nesse novo mercado, cuja expansão e busca são cada vez mais frequentes pelos países em desenvolvimento, verifica-se, mesmo que de forma aproximada, a participação potencial da Amazônia é altamente relevante. No site da Poit Carbon (www.poitcarbon.org), as informações sobre o preço de cormercialização da tonelada de carbono nas principais bolsas de negócios, indicam uma média de € 4 ou cerca de R$ 10,00. Tal informação permiti inferir que na Amazônia, nas áreas cacaueiras, considerando o estoque de carbono como um serviço ambiental, existe um valor de R$ 200.982.000,00, tendo o estado do Pará como o seu mais importante contribuidor, na razão de 67,3%, quantidade nada desprezível para os requerimentos exigidos pela comunidade mundial que se interessa por esse assunto.
Finalmente, considerando o grande apelo das comunidades ambientais, a inclusão da cacauicultura como uma das mais importantes atividades agrícolas da Amazônia, ultrapassou as barreiras dos seus limites de cultivo. Sua inserção como moeda ambiental, a partir do sequestro de carbono, permite vislumbrar novas oportunidades financeiras na sua cadeia de valor. Segundo informações da CEPLAC em processo de finalização do Programa de Desenvolvimento Sustentável das Regiões Produtoras de Cacau, Borracha e Dendê (PRODECAU)[2], a partir do ano de 2012 até 2022, pretende-se implantar mais 196.000 hectares de cacaueiros na Amazônia em sistemas agroflorestais (Pará = 120.000 ha, Rondônia = 50.000 ha, Amazonas = 10.000 ha e Mato Grosso = 16.000 ha), os quais, mantidos os atuais preços pagos pela tonelada de carbono no mercado internacional, acrescentariam em termos de valor por esse serviço ambiental, cerca de R$ 241 milhões, dos quais 61% estariam concentrados no estado do Pará.

[1] Relatório Eletrônico de Extensão Rural – SISCENEX – CEPLAC/SUEPA/SEREX, 2011.
[2] Programa de Desenvolvimento Sustentável das Regiões Produtoras de Cacau, Borracha e Dendê (PRODECAU), Brasília : CEPLAC, 2011 (no prelo).
Fernando Antonio Teixeira Mendes – FFA Ceplac/Suepa/Sepes

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