quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Morre, em Goiânia, Dom José Rodrigues de Souza, bispo emérito de Juazeiro


Faleceu na madrugada deste domingo (09), Dom José Rodrigues de Sousa, bispo emérito de Juazeiro (BA) e Missionário Redentorista, com 86 anos.
Dom José estava internado na Clínica Santa Mônica em Goiânia (GO) desde o início de agosto. Estava residindo na Comunidade Redentorista de Trindade e dedicava-se ao Santuário do Divino Pai Eterno.
Natural de Paraíba do Sul (RJ) nasceu no dia 25 de março de 1926. Com 12 anos decidiu-se pela vida sacerdotal e ingressou no Seminário Santo Afonso em Aparecida (SP). Fez a Profissão Religiosa em 1946 e Profissão Perpétua em 1949. Foi ordenado sacerdote na Igreja Matriz de Tietê (SP) no dia 27 de dezembro de 1950, pelas mãos do então bispo de Sorocaba, dom José Carlos de Aguirre (+1973).
Depois de ordenado sacerdote, trabalhou como professor e depois diretor espiritual no Seminário Santo Afonso em Aparecida. De junho de 1967 a junho de 1968, no Instituto ‘Lumen Vitae’, em Bruxelas, na Bélgica, fez curso intensivo de Catequese e Pastoral. Voltando da Europa, em 1969, foi transferido para Goiânia, dedicando-se à pregação das Missões.

Foi Vice-Provincial Redentorista da Vice-Província de Brasília (DF) por quatro anos. Até que em 1974, foi nomeado Bispo de Juazeiro pelo papa Paulo VI. Sua Sagração Episcopal aconteceu na Matriz de Campinas em Goiânia no dia 09 de fevereiro de 1975.
Dom Leonardo Ulrich Steiner, Bispo Auxiliar de Brasília e Secretário Geral da CNBB, manifestou seu pesar em nota oficial da CNBB pelo falecimento de Dom José. Dom Leonardo lembrou sua atuação junto aos mais pobres e relatou alguns dados históricos de seu ministério episcopal. “Seu episcopado teve a marca forte da atenção aos mais pobres. Logo ao chegar a Juazeiro, entrou na defesa dos atingidos pela construção da usina hidrelétrica de Sobradinho. Também prestou especial atenção às pastorais sociais em sua diocese. Preocupado com a formação dos agentes pastorais e a comunicação, foi pioneiro ao criar um Setor Diocesano da Comunicação Audiovisual, com uma biblioteca com 45 mil volumes”. “Junto ao Regional Nordeste 3 da CNBB, acompanhou a Comissão Pastoral da Terra e a Pastoral da Juventude do Meio Popular. Foi presidente nacional do Conselho Pastoral dos Pescadores. Sua biografia foi publicada por um jornalista na Alemanha, com o justo título de “O bispo dos excluídos”. Em 2003, ao renunciar ao governo da diocese por motivos de idade, passou a viver na Comunidade Redentorista de Trindade (GO). Dom José teve o pedido de renúncia aceito pelo papa João Paulo II em junho de 2003.
Exéquias - Em Goiânia, o corpo de dom José Rodrigues foi velado na Matriz de Campinas, e uma missa de corpo presente aconteceu na manhã desta segunda-feira (10). Na Diocese de Juazeiro, o corpo de Dom José será velado na Catedral durante a tarte e a noite desta segunda, e terça-feira (11) ainda na parte da manhã, acontece a Missa de Exéquias, e em seguida, o sepultamento no Cemitério do CTL de Carnaíba do Sertão. O prefeito de Juazeiro, Isaac Carvalho decretou luto oficial de três dias, a partir desta segunda-feira. (Ed Santuário, Postado em 10/09/12 ás 09h20)
Morreu o profeta do semiárido Por Roberto Malvezzi (Gogó), de Juazeiro
D. José Rodrigues de Souza foi o homem certo, no lugar certo, na hora certa. Quando chegou a Juazeiro para ser bispo, a barragem de Sobradinho estava em construção. Então, ele assumiu a sorte dos relocados, depois dos pobres em geral e nunca mudou. Chegou em 1975. Aqui era área de segurança nacional, regime militar, ACM governador, prefeitos nomeados pelo presidente da república. Não havia partidos, nem organizações populares. Então, com poucos padres e religiosas, chamou leigos para apoiar os 72 mi relocados. Assim, a diocese foi durante muito tempo o abrigo para cristãos, comunistas, ateus, qualquer um que movido pela justiça assumisse a causa do povo. Depois enfrentou o período das longas secas. Criou pastorais populares. Fez a opção radical pelos pobres e comunidades eclesiais de base. Usava as rádios e seu poder de comunicação para defender os oprimidos pelo peso dos coronéis e do regime militar.Quando um gerente do Banco do Brasil foi seqüestrado, ele aceitou ser trocado. Ficou sob a mira dos revólveres por dias, começando sobre a ponte que liga Juazeiro a Petrolina. Depois visitou seus seqüestradores na cadeia e ainda fez o casamento de um deles. Abrigou na diocese toda convivência com o semiárido, muito lembrado nesses tempos de estiagem. Por isso, quando a ASA fez um de seus encontros nacionais, quis fazê-lo em Juazeiro para homenagear esse profeta do semiárido. Costumava contar que recebeu muitos presentes quando chegou e foi reverenciado pela elite. No terceiro ano ganhou três camisas. No quinto ano ganhou de presente uma única camisa dada por uma prostituta que freqüentava a escola Senhor do Bonfim, trabalho feito junto às prostitutas da cidade. Quando foi embora saiu com toda a mudança que trouxe: uma mala que cabia uma muda de roupas – que ele lavava todas as noites para vestir no dia seguinte – e seu livro de oração. Na celebração de despedida afirmou na catedral: “nunca trai os pobres, nem em época de eleição”. D. José faleceu nessa madrugada, dia 9 de Setembro, em Goiânia, comunidade redentorista de Trindade, para onde foi depois de 28 anos em Juazeiro. Seu corpo será transladado para Juazeiro na segunda-feira, onde será enterrado. Aqui, sua memória jamais será esquecida por aqueles que com ele conviveram, sobretudo, pelos em situação de pobreza, nos corações dos quais ele reside.

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