O partido começa a trabalhar os dois cenários possíveis, com Dilma ou Marina vitoriosa, para reposicionar o ex-presidente.
A militância do PT é formada por eleitores do partido, muitas vezes ligados a sindicatos de trabalhadores, que vestem literalmente a camisa. Sempre foram facilmente identificados pela camiseta vermelha e o boton em forma de estrela com o nome do PT. Na noite de sexta-feira, em um encontro do PT estadual em São Paulo, esses evangelizadores do partido foram convocados para um encontro com as lideranças, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A menos de um mês das eleições de 5 de outubro, a ideia do encontro era incentivar os militantes a ir às ruas para defender os candidatos da legenda, com material de campanha que o partido disponibiliza.
Quando o presidente do PT de São Paulo, Emídio de Souza, pegou o microfone para abrir o encontro, disse aos presentes que os panfletos, bandeiras e material em geral de campanha já estavam disponíveis, incluindo “as cédulas de Lula... quer dizer, de Dilma”, corrigiu-se Souza, para continuar falando que o “o caminho mais fácil do Lula voltar ao poder é a Dilma ser eleita”, explicou.
O ato, que acontecia ao mesmo tempo em que informações sobre a delação premiada do ex-diretor da Petrobras, José Roberto Costa, eram vazadas para a imprensa, tinha como foco principal fortalecer a candidatura de Alexandre Padilhaa governador de São Paulo, que está em terceiro nas pesquisas eleitorais, com mirrados 7% das intenções de voto, segundo os institutos Datafolha e Ibope. Muito atrás do tucano Geraldo Alckmin e de Paulo Skaf (PMDB).
Mas serviu para sentir as angústias das lideranças petistas, que têm uma disputa acirrada pela frente, com uma candidata da situação que precisa saciar a sede de mudanças do eleitorado brasileiro. Segundo especialistas, o plano A para o PT seria reeleger a presidenta Dilma Rousseff agora, que por sua vez precisaria corrigir os erros deste primeiro mandato, de modo a reverter o desgaste do partido, principalmente com as derrapadas na economia.
O plano B, por sua vez, seria aguardar a vitória de Marina Silva para então o PT voltar a mostrar sua força já a partir de 2015, quando os problemas sociais começarem a aparecer num ano que será difícil para qualquer um dos presidenciáveis que assumir o Palácio do Planalto em janeiro. Os movimentos sociais e sindicais poderiam ser mais enfáticos em suas cobranças no ano que vem, quando a economia ainda estará em marcha lenta. Diante de eventuais paralisações, o ex-presidente colocaria sua habilidade de negociação à prova. Seria uma oportunidade para que Lularetomasse seu papel de liderança. Assim, a legenda já estaria se mobilizando de olho nas eleições municipais de 2016, que serviriam de trampolim para 2018.
Essa seria, para alguns especialistas, a razão por que Lula preferiria não dar ênfase a ataques a Marina em suas aparições públicas. Durante o encontro em São Paulo, na sexta à noite, o ex-presidente disse aos presentes que “Marina é um caso à parte”. Com o microfone na mão, disse que estava destrinchando o programa [de governo] dela, “porque não terei divergência pessoal com Marina”. A estratégia de Lula é focar nas diferenças de conceitos adotados por cada um para os desafios nacionais que esperam o próximo presidente.
E a ordem do PT agora é mirar nas ideias já propagadas por Marina, como a independência do Banco Central, que deixaria a instituição livre, por exemplo, para subir juros quando a inflação sai do controle, sem levar em conta outras orientações do Executivo. “É fácil contar a inflação com redução de empregos e salários”, disse ele, numa clara provocação sobre o programa econômico de Marina, que carrega nas tintas neoliberais.
O problema é que o governo de Rousseff também não soube calibrar a dose para lidar com esse eterno fantasma brasileiro. Ela foi duramente criticada por ter reduzido os juros entre outubro de 2011 e março de 2013, quando a taxa Selic passou de 11,5% para 7,25%. Era uma boa intenção, que tinha o foco de baratear o custo para que os empresários tivessem acesso a dinheiro mais barato para investir, e os consumidores pudessem ter crédito mais barato para comprar.
Economistas viam ali um risco muito grande de a inflação voltar, ou persistir, diante de um consumo aquecido no período. A demora para elevar a taxa de juros se transformou num dos calcanhares de Aquiles de Rousseff, pois a inflação resiste até hoje no teto da meta estabelecida pelo BC – 6,5% ao ano.
Mesmo com a presidenta sinalizando mudanças num eventual segundo mandato, que incluiria a troca de ministros, não se sabe ao certo se a própria mandatária mudaria seu estilo, não esperando demais para tomar medidas, talvez antipopulares, mas que teriam efeitos no longo prazo.
Há, ainda, o desafio de retomar a confiança do empresariado para voltar a investir, e uma postura mais efetiva diante da Petrobras que se tornou alvo de ataques permanentes, diante de denúncias de corrupção e de dificuldades de cumprir suas metas.
Não por acaso, Lula e outros dirigentes do PT afirmaram que esta era a eleição mais difícil do partido desde a sua fundação, nos anos 80. De um lado está a missão de apoiar a reeleição de Rousseff para defender o legado de 12 anos do PT. De outro, contar com as mudanças necessárias para não desgastar o partido, frustrando as chances de Lulavoltar em 2018.
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