segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Igreja e Sociedade: a Campanha da Fraternidade de 2015

Dom Mauro Montagnoli CS - Bispo diocesano de Ilhéus  - Em 2015, a Igreja Católica Apostólica Romana celebra o 50º aniversário de encerramento do Concílio Vaticano II, realizado de outubro de 1962 a outubro de 1965. Tratou-se do evento mais marcante da Igreja no século 20.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB - promove uma reflexão ampla sobre o Concílio, através da Campanha da Fraternidade - CF. Com o tema – “Fraternidade: Igreja e Sociedade” –, e o lema – “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45) –, a Campanha aborda a relação Igreja-Sociedade à luz da fé cristã e das diretrizes do Concílio Vaticano II.
A CF parte de dois pressupostos fundamentais para a vida cristã e centrais no Concílio: a autocompreensão da própria Igreja; e as implicações da fé cristã para o convívio social e para a presença da Igreja no mundo. 
Na Constituição Dogmática Lumen Gentium, A luz dos povos, a Igreja entende ser formada por todos os que aderem a Cristo pela fé no Evangelho e pelo batismo; ela é “Povo de Deus”, presente entre os povos e nações de todo o mundo, não se sobrepondo a eles, mas inserindo-se neles. Ela é a comunidade de todos os batizados, feitos discípulos de Jesus Cristo e testemunhas do seu Evangelho.
A partir daí, uma das grandes questões assumidas pelo Concílio foi a superação da visão dicotômica – “Igreja-mundo”. A Igreja se esforça por abrir-se ao diálogo com o mundo, estabelecer uma relação fecunda com as realidades humanas, acolher o novo e o bem que há em toda parte, partilhar as próprias convicções, contribuindo para a edificação do bem comum, colocando-se ao serviço do mundo, sem ser absorvida por ele.
A Constituição Pastoral Gaudium et Spes, A alegria e a esperança, expressa essa relação e se inicia com as palavras paradigmáticas: “A alegria e a esperança, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (n. 1).
Aí aparece a visão cristã sobre o mundo e o homem, sua dignidade, sua existência e sua vocação; reflete-se sobre a comunidade humana e as relações sociais, o sentido do trabalho e da cultura e sobre a participação da Igreja, enquanto “Povo de Deus” inserido na sociedade, na promoção do bem de toda a comunidade humana.
Os cristãos e suas organizações tomam parte da história dos povos e da grande família humana. E a Igreja, “Povo de Deus”, fiel à missão recebida de Jesus Cristo, quer estar a serviço da comunidade humana, não zelando apenas pelos seus projetos internos e seu próprio bem. O papa Francisco vem recordando isso constantemente nos seus pronunciamentos: que ela precisa ser “uma Igreja em saída”, uma “comunidade samaritana”, ou como “um hospital de campo”, para socorrer e assistir os feridos… Mas também quando diz que a Igreja não pode se omitir, nem abster de dar sua contribuição para a reta ordem ética, social, econômica e política da sociedade.
A CF retoma essas intuições fecundas do Concílio e as propõe novamente à reflexão no contexto brasileiro, durante o ano de 2015, especialmente no período da Quaresma, em que se prepara a celebração da Páscoa cristã. A promoção do verdadeiro espírito fraterno no convívio social é, sem dúvida, um importante serviço à sociedade.

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