terça-feira, 3 de abril de 2018

Em quatro anos, aumenta a insatisfação com a educação no país, segundo pesquisa da CNI e Todos Pela Educação

De acordo com os dados, a reprovação é maior em relação às escolas públicas: 26% dos entrevistados avalia o ensino no nível médio como ruim ou péssimo; em 2013, esse percentual era 15%
Aumentou, em quatro anos, a insatisfação com a educação no país, segundo a pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira - Educação Básica, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), realizada no ano passado em parceria com o movimento Todos Pela Educação. De acordo com os dados, a reprovação é mais pronunciada em relação às escolas públicas: quase um terço dos entrevistados (26%) considera o ensino no nível médio como ruim ou péssimo. Em 2013, quando levantamento semelhante foi feito, o percentual era 15%. 
Caiu também de 48% para 31% o percentual dos que consideram o ensino médio como ótimo ou bom. Nas escolas particulares, os entrevistados que consideravam essa etapa escolar como ótima ou boa também diminuiu de 76% para 64% no mesmo período. A avaliação negativa manteve-se em cerca de 3%. 
A percepção da maioria entrevistada também é que os estudantes não estão preparados para a etapa escolar seguinte ou para o mundo do trabalho. Apenas 12% dos brasileiros acreditam que o aluno do ensino médio das escolas públicas está bem preparado para se inserir no mercado profissional e quase um quarto da população (23%) diz que está despreparado. Em 2013, 55% dos brasileiros consideravam que o aluno estava bem ou razoavelmente preparado e agora esse percentual é 42%. 
O levantamento foi realizado com duas mil pessoas entre 15 e 20 de setembro do ano passado em 126 municípios pelo Ibope Inteligência. Segundo os dados, aumentou de 61% para 74% o percentual dos que concordam totalmente que um ensino de baixa qualidade é prejudicial para o desenvolvimento do país. 
“A pesquisa reforça a constatação de que educação brasileira precisa se aproximar do mundo do trabalho, preparando o jovem para uma vida social e profissional plena”, analisa o diretor-superintendente do Serviço Social da Indústria (SESI), Rafael Lucchesi, que também é diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). “A reforma do ensino médio deu um passo nessa direção, ao incluir a formação técnica e profissional no currículo regular”, complementa. 
A visão dos entrevistados sobre a baixa qualidade da educação é confirmada por resultados de proficiência dos estudantes em exames nacionais e internacionais. O Brasil ficou na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática, em 2015, no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). 
GESTÃO E PRIORIZAÇÃO – Segundo a pesquisa, os brasileiros entendem que não é por falta de recursos públicos que a educação básica está mal no Brasil, mas que existe má gestão dos recursos públicos. A maioria (81%) concorda que o problema deve-se mais à má utilização da verba do que à falta dela. Em relação à administração das escolas, quase a totalidade dos brasileiros (93%) também acredita que o diretor da escola deveria ter uma formação específica em gestão. 
O levantamento também mostra que atuação dos professores nas escolas públicas de ensino fundamental e médio é mais bem avaliada do que as condições gerais das escolas. A capacidade para ensinar dos docentes, por exemplo, obtém média 7,2 (em uma escala de 0 a 10) e é o fator mais bem avaliado, enquanto o relacionamento com os pais dos alunos obtém a pior média (6,1). 
Os pesquisadores perguntaram ainda à população quais seriam as principais ações para melhorar o desempenho dos alunos do ensino básico público. Entre dez iniciativas, equipar melhor as escolas é a ação mais citada (28%). O material didático digital e o acesso a computador com internet estão entre os itens com notas mais baixas na avaliação da população das condições gerais das escolas públicas (4,6 e 5,0, respectivamente, em uma escala de 0 a 10). 
Iniciativas relacionadas aos professores também foram avaliadas: aumentar o salário dos docentes é a mais assinalada entre as duas principais ações (40%); elevar o número de professores aparece em segundo lugar (34%), praticamente empatada com ações para melhorar a formação docente (32%). 
Ao analisar o grau de responsabilidade de diferentes atores para que os alunos do ensino básico tenham uma educação de qualidade no Brasil, cerca de oito em cada dez brasileiros consideram que o diretor da escola, os pais dos alunos e os professores são muito responsáveis. 
Segundo a opinião de 70% a 76%, prefeito, governador e presidente também possuem muita responsabilidade. Ao mesmo tempo, para a maioria da população (quase 80%), os governos não possuem o comprometimento adequado para garantir a qualidade da educação. 
“A pesquisa demonstra claramente que, tanto para o desenvolvimento do país quanto dos indivíduos, é urgente priorizarmos a educação em nosso projeto de nação”, afirma a presidente-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz. “Em um ano tão estratégico, precisamos focar no que realmente interessa na educação por meio de um plano de ação implementado com continuidade e progressividade. Bastam três gestões de real comprometimento político para darmos um salto de qualidade e, por consequência, de desenvolvimento”, reitera. 
No debate sobre educação, a população quer ainda maior participação dos jovens: 96% dos brasileiros concordam que a juventude deve participar mais nos debates e decisões, sendo que 82% concordam totalmente e 14% concordam em parte. Apenas 4% dos brasileiros discordam totalmente ou em parte da afirmação. 
VIOLÊNCIA E CORRUPÇÃO – Os brasileiros também acreditam que há relação entre a situação na educação brasileira e dois dos principais problemas enfrentados pelo Brasil no momento – violência e corrupção. A maioria (77%) concorda totalmente ou em parte que o problema da violência se relaciona diretamente com a baixa qualidade da educação. Seis em cada dez brasileiros dizem o mesmo em relação à corrupção. 
A percepção sobre o vínculo entre a educação e os níveis de violência cresce com o grau de escolaridade do entrevistado. Entre aqueles com até a quarta série do ensino fundamental, 71% concordam com a afirmação, percentual que chega a 82% entre os que possuem ensino superior. Já a visão sobre o tema com os níveis de corrupção predomina entre os mais jovens: 70% dos entrevistados entre 16 e 24 anos concordam total ou parcialmente com a afirmação. Entre os brasileiros com 55 anos ou mais, o percentual alcança 56%. 
A população reconhece o valor da educação não apenas para a sociedade como para o indivíduo. A maioria percebe impactos positivos da escolarização sobre a sua vida. Em relação à renda, 73% dos brasileiros concordam total ou parcialmente que quanto mais anos de estudo uma pessoa tiver, maior será a sua renda. Apesar de permanecer elevado, o percentual vem apresentando queda nos últimos anos: em 2010, em que a pesquisa foi feita pela primeira vez, era de 83%. Em 2013, chegou a 79%. No atual levantamento, alcançou 73%. A avaliação é que o contexto de recessão econômica no país pode ter contribuído para esse resultado. 
Em relação à empregabilidade, 71% dos entrevistados concordam totalmente ou em parte que o problema do desemprego no Brasil se relaciona diretamente com a baixa qualidade da educação. Em cidades grandes e nas capitais, uma parcela maior da população percebe a relação entre a escolaridade e as chances do indivíduo de conseguir um emprego: o percentual daqueles que concordam com a afirmação sobe de 69% em cidades do interior para 76% nas capitais.

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